sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Por que tenho trauma de baratas?


“Sei lá, desde que me entendo por gente acho nojento.” A irmã insiste, “mas o que é que tem nelas que você acha tão nojento?” “Não sei explicar”, responde o irmão, “só sei que quando vejo uma, me sobe um nojo e dá vontade de matar.” A irmã aponta para uma tatuagem no braço do irmão “já borboleta você acha bonito, né?”, o irmão olha pro pulso, “acho lindas.” “Toda borboleta já foi lagarta. Não acha lagarta nojenta também?”, o irmão revira os olhos, “não gosto de julgar o passado dos insetos”, a irmã ri, “barata voa que nem borboleta também, você sabe, né?” “Ai, que bobeira é essa? Você quer comparar bicho que voa em esgoto com bicho que voa no verde, na cachoeira…” “Cara, só acho que você foi ensinado a odiar barata”, o irmão pega o controle e liga a TV, irritado com o assunto, “ai, garota, você não entende. Não é medo, é trauma.” “Pois é, toda vez que aparecia uma barata, mamãe gritava e papai vinha matar. Foi papai que te ensinou que o jeito mais fácil é matar.” O irmão muta a TV e olha indignado pra irmã, “e tem que matar mesmo! Depois essas baratas se reproduzem, aí eu quero ver. Arranja uma de estimação, ué!” A irmã ri ironicamente e faz sinal de negativo com a cabeça, “você não quer entender mesmo, né. Fala a verdade, você só tem nojo de barata porque elas vêm de um lugar que você acha nojento.” O irmão arregala os olhos, indignado, “tá de sacanagem, né? Você vai problematizar esgoto comigo agora?” A irmã ri, “sabe o que eu acho engraçado, você vai fazer 18 anos e ainda não tem coragem de matar uma barata sozinho. Se acha que tem que matar todas mesmo, por que não mata você? Lembra daquele dia que papai falou pra virar homem? Vai lá, se isso é ser homem pra você, toma uma postura.” O irmão suspira e desiste. Aumenta o som da TV e assiste o jornal. A transmissão mostra um grupo de adolescentes invadindo um ônibus perto da praia. O irmão diz, sem tirar os olhos da TV, “parecem baratas, né.”

Alcione 77

9 comentários:

  1. Vim com sede na sua crônica depois da primeira e achei meio mehh, gostei da colocação mas não acho que tá muito no tema, problematizou demais.
    Mas a escrita em si é bem característica sua, acho boa e confio que nas próximas você vai poder surpreender de novo.

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  2. eita, ficou chato. Acho que o diálogo com aspas ficou cansativo de ler e deixou o texto visivelmente feio. Uma história bem boba, estava esperando uma barata voadora, ou que entrou na boca de alguém,sei lá, menos isso.

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  3. Não vou negar que ri dei umas boas risadas, mas quando bati os olhos de primeiro instante, também achei bem confuso. Mas, mesmo assim me arrisquei a ler, e como Alaska Pett disse, também vim na sede e esperava um pouquinho mais, porém... gostei! :)

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  4. Achei o tema em si fraco para um trauma pessoal! Esperava mais também.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Esperava mais também, gostei da moral do ônibus, mas achei que não provocou a angústia que eu esperaria de um texto tratando de um trauma, talvez a ideia de diálogo entre irmãos tenha dado um ar mt "alegre"

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  7. Adorei a mensagem final do texto e acho que os diálogos foram bem construídos, mas a estrutura das aspas não deixou o texto visualmente bonito e não senti o drama que esperava. Talvez tenha deixado o drama um pouco de lado com a intenção de passar uma problematização, que é bastante válida, mas acho que ficaria melhor em outro contexto.

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  8. Como os colegas já ressaltaram, tbm vim com expectativas ler sua crônica. Achei bem escrita, mas o diálogo acabou ficando chato.

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  9. Faço das palavras do povo, as minhas. Expectativa meio quebrada, bem escrita, mas esperava mais

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