sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Atrasos pontuais, encontros remarcados

 Acordo atrasada. Na noite de ontem fui dormir pelas tantas. Sigo quebrando

religiosamente as promessas que me faço. As outras costumo honrar com louvor.

Pago em dia ou com juros, o que preciso for. Falo das outras, claro. As minhas,

adio. Dia a dia, pontualmente. Assisto o tempo passar bem na minha frente mas

tenho dificuldade em alcançar.

Os encontros do tempo e do espaço diariamente me chamam e eu sempre

quero ir. Quero estar! Em um gerúndio regular. Estar estando. Invés disso arrasto

minhas promessas por aí feito bolas de ferro que crescem progressivamente, presas

ao meu calcanhar. Deixo meus quereres mais profundos e genuínos em estado

sabático. Saboto-me sem pressa e sem hora pra parar. Estou exausta e parada no

mesmo lugar. A carga é pesada demais, machuca. O tempo não faz caminho de

volta. Nem a melhor reviravolta traz de volta o cronos que já foi. Já era. Eu que

ainda não fui. Revolta é a única volta que me sobra e me cobra urgência para

chegar.

Difícil apagar a dor de promessas que pontualmente já não cumpri. Mais

difícil ainda seguir não sendo, colecionando bolas de ferro que me soterram os pés

no chão. Preciso caminhar. Caminhando e cantando, seguindo a canção. Pra falar

de flores, assumo a dívida de deixar minhas águas me guiarem. A imensidão que

reside em mim teima em confiar. Confia porque precisa, porque é a única saída

precisa para deixar jorrar. Preciso acatar. Prometo não mais só prometer, prometo

ser e estar. A pagadora de promessas se atrasou mas mandou avisar que chegará

para ficar.


Estrela Maria

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