sexta-feira, 11 de novembro de 2022

m e t a m o r f o s e

     Essa palavra é áspera ao pé do meu ouvido. Autossabotagem. É grande, é feia e odeio sua construção e fonética. Todavia, odeio mais ainda porque me remete ao que eu gostaria de fingir que não existe. A primeira vez que a ouvi essa semana, me senti morrendo por dentro. Não só pelo fato da palavra ser feia, mas como também a causadora de um rabisco mental de todas as vezes que agi contra mim. Queria esquecer, queria lembrar e queria arrebentar o mundo com o grito preso na garganta de alguém que trama contra si. 

    Talvez eu esteja exagerando, mas peço perdão aos meus interlocutores, pois hoje não sou um mero indivíduo. Hoje sou poeta. Peço licença para exagerar e derramar minhas dores numa construção que talvez só faça sentido para mim. 

    Voltemos ao tema, então. 

    Eu lembro que essa semana eu acordei todos os dias assim como fiz em todas as outras. Escovei os dentes e tomei banho como todas as outras. Entretanto, confiei como fiz em todas as outras também. E, no fim, chorei, mas não como fiz em todas as outras. Senti queimar a dor na minha garganta não como todas as outras. Dessa vez foi diferente e posso explicar a razão: a dor é ímpar. Essa dor é salgada como todas as outras dores foram, mas difere em sua essência. A dor de se sabotar e de se destruir de maneira consciente é diferente. De qualquer maneira, a consequência e a causa foram as mesmas, as circunstâncias outras. O resultado é a dor salgada do crime contra si. 

    E por que confio, afinal? Por qual razão corro esse risco? Confio porque amo e amo porque me traio. 

    Por outro lado, segunda-feira sempre chega e o Sol nasce todo dia. Minha traição é parte do meu processo de  m e t a m o r f o s e.

                                                                                                            Vênus.

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