sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Natureza Venusiana

 Na infinitude do céu passeia Vênus. Suporta sozinha, sem reclamar, o peso da leveza do amor. Insiste na beleza de amar contra toda a amargura que lhe esbarra, ainda que possa cansar. E cansa, eu sei. Por várias vezes já cansei. Amei, ainda sim. Amar é parte inerente de mim, de nós, desse imenso emaranhado de vida. Assumir o peso mesmo cansada, esse é o desafio. Não cabe a todos. Exige coragem, vontade e boa dose de amor ao Amor, instituição divina. É preciso querer cultivar. Do avesso para fora, do avesso ao avesso.

Compreendo seus receios, seus medos, suas angústias. Escrevo-lhe em tom de abraço e espero lhe alcançar. Escrevo-me em tom de lembrete e espero me alcançar. Cansaço, eu sei. Mas ao cansar falhei? Falhamos? Não é fácil viver nadando contra a maré amarga. Dói mais não deixar doer, garanto. Na dor também reside o sentido do ser. É preciso deixar. Como, sem descarregar o peso da leveza que nos faz continuar? É preciso suportar ou podemos soltar? Soltei. Saltei do bonde que me exigia agradar. Nem só de Vênus vive nosso sistema solar. Da sabedoria mercurial e jupiteriana extraio estratégias. Volto-me às energias de Marte e Saturno, famigerados maléficos. Injusta alcunha que vilaniza seus dotes. Neles encontro força para fazer a vida girar e frear quando precisar. E precisa sempre. A vida cobra com frequência o movimento de estacionar, de lutar e negar. Revolta é parte importante de amar. 

Me compadeço e me enxergo em suas dores, por isso arrisco opinar. Ame, odeie, sofra, seja. Abraçar as lembranças traumáticas e as vontades veladas a libertará! Só a entrega saciará a fome do ser, ainda que o jejum lhe pareça cair bem. Nunca cabe. Desfrute do banquete das possibilidades! Prove de tudo com sabedoria, antes que a jornada aqui acabe. Sua metamorfose te formará de forma extraordinária, posso apostar. Não há arrependimento pior que o de se censurar.



De Estrela Maria para Vênus, com carinho.


Um comentário:

  1. A fome de amar e a pressa de não sofrer me distanciam da experiência e me encontram na escrita. Como diria Clarice Lispector " escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser". Obrigada pelas palavras, Estrela.

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