domingo, 11 de abril de 2021

RE: Uma biografia (não) autorizada de modo anônimo


Boa noite, Rosto Fosco. Como você está? Espero que bem. Hoje vim dar minhar respostasobre seu texto; aquele que fez sobre mim na semana passada, o qual  quasenão viu a luz, devido aos problemas da tecnologia, e por uma (triste) coincidência do destino, este aqui também demorará um pouco a mais para ser lido.

Em meu bloco de notas, não tão rebuscado quanto de Tessa, por exemplo, fiz algumas anotações. Primeiramente, sabia que há estudo psicológico sobre as propriedades do café? Organizado por dois professores no Canadá, esse estudo obteve como resultado, em pacientes ocidentais, que pensaram e tomaram a bebida, tiveram uma ampliação sensorial sobre alguns assuntos e conseguiram ser mais específicos e detalhados. Acredito que você tenha tomado uns bons goles do café forte para poder fazer seus textos, principalmente os clássicos modernos “Os 5 sentidos do (des)amor”. Curiosamente, meu segundo tópico está ligado com a segunda parte.

O trecho “jogar o celular pra longe” me remeteu muito a tal texto, afinal lidar com atitudes e consequências dentro de um relacionamento é sempre muito complicado.

E ntendo-lhe muito bem. Falar sobre o que já passou é cansativo, não queremos saber das tais músicas de amor, as quais “bombavam” nas rádios, no Spotify e no Youtube da época, embora o algoritmo não nos ajude, em muitos casos.

Minha última anotação é sobre a “pressão, que atrapalha os pensamentos”. Todos nós temos vivido assim, não é mesmo? Nessa época de pandemia, parece que isso se acentua. São 13 longos meses nos sentindo prisioneiros, como Miley Cyrus e Dua Lipa, dentro dos nossos próprios lares. Podemos tentar milhões de vezes, mas muitas vezes deixamos essa pressão nos dominar.

Carl Jung disse visto que “quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”. Acredito que você é uma pessoa desperta e consciente de si, mas demonstra para a sociedade que você é uma sonhadora, ofuscando seu rosto para evitar decepções e estresses. Para mim e muitos do blog, seu rosto não é fosco e sim, reluzente e transparente.

Fique bem e saudável.

 Modo Anônimo

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Terapeuta Escrita

 Que criatividade Jubiabá você possui! Conseguir retratar diversas temáticas, através da

paixão que você tem pelo futebol, é formidável. Deixa seu texto mais interessante.

Imagino, a causa por de trás da sua escolha: um maior enfoque, durante sua análise, nos

sentimentos recalcados pelo medo. Não deve ter se dado conta dela, mas tudo tem um

motivo.

Penso, que na noite em que escreveu seu texto tenha sonhado com um anjo, com seus

lindos cachos cor de mel. Não deve ter entendido, o porquê daquela sensação de paz que

teve ao receber aquele abraço angelical.

Esse abraço, acredito que seja uma simbologia da libertação. A libertação da culpa de

ter assassinado o próprio desejo, devido ao medo, que sentiu, naquele fatídico dia.

No momento em que me analisava, esse sentimento recalcado de culpa gritou. Esse

berro veio com suas palavras, sempre tão cuidadosamente escritas.

Acredito sim, que a escrita é uma forma de nos libertar daquilo que nos afeta. Nós dois,

conhecemos muito bem os impactos de recalcar sentimentos. Sabemos do triste fim que,

por vezes, eles nos levam.

Graças a Deus, sempre podemos recorrer a nossa melhor terapeuta: a Escrita. Me sinto

até mais leve depois de passar por mais uma sessão de terapia dela.

Recomendo.


Íris M.

Modo anônimo ativado!

 Falo hoje sobre mais um ilustre cidadão desse extenso blog, como ele costuma denominar.

Precisava começar esse texto agradecendo pelo dele, da semana passada. Ele que se descreve

tímido e introvertido, pra falar sobre alguém, mas que encontrou um jeito único de me

descrever. Sempre perspicaz em seus comentários, e dono de frases que já me fizeram rir e

refletir nas suas crônicas, embarcou nessa jornada ativando seu Modo Anônimo, e sente-se

feliz por estar num lugar onde as aparências, enfim, valem pouco, e o importante é o que ele

tem a dizer.

Em mais um dia, no seu cotidiano, Modo Anônimo olha para tela do celular, onde os posts do

Instagram estão sempre engatilhados pra golpear sua autoestima. Mas essa mesma tela, era

também o portal que encurtava as distâncias entre ele e o seu amor. Um amor abalado pelas

dúvidas que costumam brotar nos novos horizontes. Dúvidas que já lhe tiraram o sono,

nublando seus pensamentos, o que sempre pede uma boa corrida matinal, e ar puro pra

recobrar as energias e prosseguir com sua rotina, já planejada de forma regrada. Ele se

questiona ante todas as regras que impõe a si mesmo, mas não se abstém delas, porque criam

a couraça com que se protege dos julgamentos.

Modo Anônimo vislumbra nesse horizonte, as possibilidades do futuro. Ele se imagina

caminhando sem as amarras da aprovação de outros, desfrutando da liberdade de ser ele

mesmo, e de construir novas histórias, superando as ausências de amores de outrora. Resoluto

diante dos dias tempestuosos, porque no fim das tempestades o sol pode brilhar ainda mais

que antes delas. Coroando esse sonho e em meio a qualquer incerteza, ou simples indecisões

cotidianas, próprias da constelação de gêmeos, a paixão pela tricolor paulista é uma constante,

e as glórias do passado prenunciam o brilho ensolarado do futuro.


O Náufrago 

A pulga atrás da orelha dos pensamentos

Na madrugada de uma quarta-feira qualquer, a misteriosa Estrela Teté pensa no que escrever sobre o pseudônimo definido para aquela semana. Já estava nervosa para fazer desde que ouviu o professor comentar na aula, pois acha difícil fazer uma análise de uma pessoa - cheia de sentimentos, pensamentos, emoções, falhas - tendo como base apenas textos. Muito complexo, é um pré-conceito de um outro ser humano praticamente desconhecido para ela.

Começa a fazer o escrito com o maior cuidado, tentando ao máximo conciliar o apontamento de algumas características que percebeu ao ler os textos dele, e, ao mesmo tempo, não parecer invasiva ou arrogante ao citá-las. Pensa muito sobre uma palavra, apaga. Volta, clica na setinha do Word, muda de ideia. "Será que posso dizer isso?", se pergunta frequentemente. Às vezes fica até desconfortável com a hipótese do julgamento alheio ao lerem o texto. Fica com medo. Pera aí, medo! É isso!

O ser humano frequentemente é movido pelo medo, não seria uma coisa muito arriscada de falar dos outros. Redige o parágrafo a todo vapor e, ao terminar, toma até um pequeno susto. Ao reler, se vê naquelas linhas específicas. Consegue se enxergar naquele trecho. Se recorda de seu próprio texto lá do primeiro mês de aula, quando o tema foi "autossabotagem". Decide fazer uma pausa e, paralisada pelo medo, faz um esforço razoavelmente grande para pegar um copo d'água. Medo de não estar bom o suficiente. Medo de se identificar em escritos inicialmente pensados para outra pessoa. Ah, a tal da psicologia. "É um sentimento comum, todo mundo tem medo. Tá tudo bem.", pensa ela ao colocar a água em seu copo favorito lá da infância.

Volta para o computador para finalizar o texto. Leva alguns minutos para conseguir pensar em exemplos pessoais, principalmente na parte da música. Com a indecisão reinando, entra em seu Spotify para se inspirar e acaba ficando mais tempo do que esperava lá, mas consegue recuperar seu foco. Depois de algum tempo, apesar de todos os pensamentos negativos que pairaram sua cabeça durante a escrita, consegue terminar. Mas ela não sente apenas alívio ao concluir (já que o BBB estava prestes a começar), sente orgulho. Sabe que fez um bom texto. Respeitoso, mas sincero. Detalhista, mas sem ser intrusivo. Metafórico, mas objetivo.
A pulga atrás da orelha dos pensamentos chamada psicologia a ajuda e amedronta simultaneamente.
Creio que a todos nós.

Rosto Fosco 

O caso de Iris M

 Prezada, Íris M. O tribunal de justiça vem por meio da presente intimação notificar V.Sa. a comparecer na audiência, ajuizada por Felipe Pena, no dia 8/04/2021.

Essa foi a carta que chegou na residência da última cliente que recebi no meu escritório de advocacia. Esse caso era diferente de todos os outros com que eu já havia trabalhado. Com certeza eu estou quebrando aqui todos os princípios de ética e moral os quais jurei respeitar no meu bacharelado de direito, mas eu preciso contar essa história pra vocês. Na última terça feira, essa menina entrou no meu escritório correndo. Pálida, sua pele ganhava tons que eu jamais havia visto. Ela rapidamente se sentou, jogou os papéis em minha mesa e me contou sua história. Depois de ouvir tudo que ela tinha pra dizer, não pestanejei em avisar a moça que aquele caso eu simplesmente não cobraria um centavo sequer. Por quê? Ela havia acabado de descrever ali, naquela mesa de escritório, problemas e neuroses pelos quais eu me identifico muito.

Naquele dia eu não queria exercer minha profissão, a cada palavra que saia de sua boca eu olhava fundo em seus olhos e me enxergava cada vez mais no fundo de sua alma. Medo. De se entregar, de ser feliz, de escrever. Não importa. Medo. Aquela menina passava horas e horas de seus dias com esse maldito sentimento entalado na garganta. E não tem sentido figurado, é medo em sua essência. Puro. De errar, de acertar, de viver. E eu sabia bem como era isso, e ela percebia, sentia na minha voz que falhava na nossa informal conversa. Sua rotina então era norteada na fuga dessa prisão, que ela mesmo se colocou. E procurava por horas, todos os dias, nos seus mais diversos a fazeres, as chaves pra sair. Se libertar. Não adiantava, elas não estavam no barzinho que Íris ia com os amigos no fim de semana, muito menos na academia que era logo na esquina da sua rua. Era na sua cabeça, o seu subconsciente abrigava o tesouro que ela havia perdido.

A gente ficou horas conversando, se perdendo e se encontrando naquela troca de ideias, e seus relatos eram tão detalhados que eu esqueci o que de fato era o meu trabalho. Acho que consulta com psicólogo nenhum faria eu decifrar as coisas que ela decifrou, sem querer, mas decifrou. Ah, e sobre o caso dela? É o mesmo que o meu.

Rato Guaraná

Um outro Rato Guaraná

 Com sua inteligência e dom para escrever belos textos, o Rato Guaraná guarda nas

entrelinhas enormes sentimentos, remorsos e possíveis recalques.

Uma pessoa sensível, alegre, de bem com a vida que adora estar rodeados de amigos, no

entanto, da porta de seu quarto para dentro poucos ou ninguém sabe o que acontece. Triste e

solitário precisa de contato humano para ajudar a esquecer seus pensamentos, que por sinal

são inúmeros e devastadores. Sente que merece mais, mais amor, mais felicidade, mais

tempo, mais coragem.

Apesar de sempre querer mais, o que não está errado, precisa se deliciar do presente, pois já

basta o sentimento de culpa do passado. Culpa que ocasionalmente nem era dele.

Os frequentes olhos vermelhos disfarçados de olheiras, ele insiste em culpar a vida

universitária. Há muitas outras coisas envolvidas, e que infelizmente só ele pode se libertar.

Já viveu inúmeras desilusões que afloraram algo que ele imaginava estar blindado, o medo.

Mas sua vontade de ultrapassar barreiras vai além.

Ele sabe a força que tem, ama a vida, e, apesar dos momentos de certos devaneios, ele

aprendeu o autocontrole.

Poderia ser alguém amargo, mas resolveu ver beleza na vida. Ele está em seu barco, passa por

tempestades, mas permanece firme, aguardando ondas ainda maiores baterem em seu rosto,

pois sabe que água salgada é que cicatriza.


Estrela Téte

A Glória Eterna de Honey Lemon

 “Quem não sabe o que é o amor, não sabe o que é ser feliz” Rainha de Ramos, Imperatriz Leopoldinense.

“Cobra coral, Papagaio vintém, Vestir rubro-negro, Não tem pra ninguém” Estácio de Sá,1995

 

Rio de Janeiro, 1 de abril de 2020.

Honey Lemon está escrevendo aquela que, para ela, é sua melhor crônica. Relê todas as crônicas do seu amigo Jubiabá e decide focar naquilo que mais a comoveu e chamou atenção: a história de Jubiabá com Guizinho...

Mas, ao escrever a crônica, o que ela menos queria, aconteceu: Se lembrou do que aconteceu na sua vida...

O amor é como um flor, você precisa cultivar, sempre amar e sempre falar de amor, mas, nisso, Honey falhou, sente falta, todos os dias, do seu eterno Eduardo e jamais se esquecerá daquele bicampeonato da Libertadores.

Se conheceram por acaso. Maracanã. Flamengo x Emelec. Oitavas de final da Copa Libertadores da América. Se abraçaram como se fossem antigos conhecidos no pênalti sofrido pelo lateral Rafinha. Se beijaram no segundo gol do Gabigol. Amor à segunda vista, digamos. Ali, começa uma história curta e intensa de amor.

Flamengo x Inter. Como de costume, foram ao estádio, já como ficantes. Choraram, se abraçaram, se beijaram e gritaram em cada um dos dois gols do Bruno Henrique. Pensaram até que nunca viveriam momento mais intenso e emocionante. Depois do jogo, jantaram no restaurante favorito dela.

Flamengo x Grêmio. O dia que “o Flamengo pediu a Libertadores em casamento e ela disse sim”. Nunca se beijaram e se abraçaram tanto. Bruno Henrique, 2 do Gabigol, Pablo Marí e Rodrigo Caio. Não acreditavam no que viam. Não imaginavam ser merecedores de tanta alegria. Depois daquele histórico jogo, Honey viveu a mais intensa noite de amor da sua vida. Se arrepia só de lembrar.

Flamengo x River Plate. Lutaram pra ir ao jogo. Cambistas, voo, escalas, mas, chegaram em Lima. Sofreram muito, mas, se não tem sofrimento, não é o Flamengo. O River esteve na frente na maior parte do jogo. Mas ele estava lá, Gabigol fez dois gols e explodiu a torcida rubro-negra de alegria. Ali, foi o ápice do Flamengo, do Gabigol e do casal Honey e Eduardo. Ela estava completamente apaixonada.

Porém, depois do glória eterna, com o título da Libertadores, o amor não foi mais cultivado, faltava fogo, paixão e intensidade, mas aquilo tudo tinha nome e sobrenome: Clube de Regatas do Flamengo. Sem seu jogos na Libertadores, tudo se acabou. Nunca mais ouviu falar de amor.

... Honey termina seu texto. Nunca teve coragem de escrever sobre Eduardo, nunca mais conseguiu ver aquela final da Libertadores. Mas, para tentar se esquecer desse sentimento, resolveu escrever seu texto e apoiar outro casal: #Guiabá. Pensou até em torcer pro Santos, quem sabe?

 

Jubiabá

Congelada no tempo

Balões coloridos. Bolo de glacê. Painel da Moranguinho. Amigos em volta. Família inteira reunida. Parabéns da Xuxa tocando. Flash para a foto estourando. Diga x! Momento eternizado.

Letra X guarda essa foto do seu aniversário de oito anos no porta-retrato ao lado da cama. Todas as manhãs olha para ela e lembra o gostinho dos dias em que todos os dias eram bons, o que é normal, claro, porque saudade da infância todo mundo tem. Mas Letra X vai além da saudade. Ela encara a foto por minutos porque não entende que aquele momento acabou. Se recusa a acreditar que não é mais uma menininha rodeada do amor dos pais, que vai à escola só para desenhar, cheia de sonhos, cheia de amigos, com a família ainda completa, com o joelho ralado, mas o coração ainda intacto. Vive em negação, pobrezinha.

Agora Letra X é uma mulher, precisa lidar com a falta de atenção dos pais, precisa passar horas no ead que tanto odeia, tem que superar que sabotou seu maior sonho: ser uma atleta olímpica; temque aceitar que os amigos que perdeu no caminho já não se encaixam mais na sua vida e, o que eu acredito ser o pior, tem que superar que os entes amados que se foram não vão voltar. Enfim, Letra X precisa aceitar que cresceu. Mas ela não consegue se desvencilhar do seu papel de criança, portanto, não consegue amadurecer. Às vezes age de forma imatura e inconsequente, acreditando que todos vão compreendê-la. Se eu pudesse avisá-la, diria que não vão. O mundo adulto é cruel e no fundo ela sabe, por isso se esconde atrás da menina de oito anos com o rosto sujo de glacê que não tem responsabilidade com nada além de viver. Por isso, também, que escondida atrás de um pseudônimo, Letra X projeta em outra pessoa aquilo que ela é. O que ela escreve do outro é o que seu travesseiro escuta todas as noites. É aquilo que as paredes contam quando ela está sozinha. É o texto pronto na nota do seu celular se descrevendo, que pra postar no blog só vai precisar mudar o nome. É o que ela pede nas suas orações. Ah, Letra X, se soubesse que não engana mais ninguém além de si mesma.

Ela teve que amadurecer rapidamente com o passar dos danos e por isso não aceita a ordem natural da vida de jeito nenhum. Diz que não é justo, acreditam? Bom, se ela fosse um pouquinho mais adulta saberia que nada é justo. Mas quem sou eu para cobrar qualquer coisa da Letra X. Um dia ela vai ter aquele sentimento terrível de repetir de série enquanto todos os amigos passam. Um dia não vai sobrar ninguém no seu mundinho Peter Pan. Quem sabe esse dia ela perceba que está desperdiçando a chance de ser a mulher incrível que nasceu pra ser. Quem sabe assim ela se olhe com mais força, carinho e respeito. Quem sabe então ela troque logo essa foto do porta-retrato.


Elipse

ESTRELA DO MAR ESCREVEU SOBRE MIM

 Estrela do Mar escreveu um texto muito profundo sobre mim na semana passada, e eu o amei!

Confesso que eu não esperava um texto tão profundo e que comunicava tanto vindo de uma

pessoa que eu nem ao menos sei como é o rosto. Mas lá estava, um texto interessante,

profundo e pessoal, tão pessoal que eu mesmo poderia ter escrito aquele texto, mas não fui

eu quem escreveu, e sim a minha amiga Estrelinha. O que me leva a pensar: quanto daquele

texto era sobre mim e quanto era sobre ela? Primeiro de tudo, pelo texto dá pra ver como ela

é dedicada, ela leu e deu um jeito de incluir cada um dos meus textos na crônica dela, ela foi

hábil em juntar todos os textos de forma orgânica, sem contar que ela é criativa e parece não

gostar de deixar nenhum ponto sem nó, visto que ela inventou nomes e deu personalidades

para cada um dos amigos que eu citei no meu texto “Tem gente que é otária, né?”. Mas foi

quando ela começou a falar sobre como eu me sentia sobre a derrota do meu Raptors que ela

me pegou de jeito, eu realmente não estava por aquilo. De alguma forma ela conseguiu ligar a

derrota do meu time com uma das minhas maiores perdas, e ela falou com tanta exatidão que

eu acho quase impossível que ela tenha irado tudo isso dos meus textos, com certeza muita

coisa havia saído de dentro dela também. No seu texto sobre mim quando você disse

“Normal? Quando isso começou a ser normal para mim?”, me vem a mente outra frase sua de

outro texto “Tem dias que é uma luta diária para se sentir bem, e digo isso porque no geral

vamos levando”, quando você falou sobre como é difícil esquecer da “Alice” , você poderia

estar falando do seu “príncipe encantado” que você menciona em outro texto, afinal se eu

tenho uma memoria fotográfica, você possui uma memoria de elefante. Em um ponto do seu

texto eu tenho o seguinte pensamento “Ele sentia que algo estava errado, não tinha tanta

força assim”, já em outro texto seu você afirma sobre si mesma “nesses dias, é um cansaço

emocional e físico tão grandes que beiram a exaustão física”. Estrela, amei seu texto, você

escreveu muito bem sobre mim, e também escreveu lindamente sobre você.


P.S.: No momento em que estou terminando de escrever esse texto o Toronto Raptors está

perdendo por 87 a 67 para o Chicago Bulls :/


Homem Macaco

Força pós-traumática

 Ela, sempre detalhista em suas escritas e olhares, foi capaz de mergulhar na imensidão da

Renascida, como ninguém jamais conseguiu. Noto, em primeiro caso, a identificação dela

para comigo, e todas as minhas neuroses, afinal, acredito eu, que uma mulher forte reconhece

a outra.

Vejo também, as cicatrizes marcadas na alma, ansiosas pela chegada da quinta-feira, onde

vão se esvair pelos dedos, e encontrar “ar puro”.

Só alguém que já passou por um tsunami sabe o valor de uma maré baixa.

E ela sabe.

Sabe, porque carrega consigo as turbulências que a vida traz. Tudo o que aprendeu, mesmo

que acompanhado por dores e traumas, a tornou quem é.

Suas palavras refletem sua intensidade, a maneira em que se entrega demasiadamente em

tudo que faz. E como ela é boa nisso !

Talvez eu não consiga desenvolver tão bem esse tema, talvez eu não encontre palavras para

descrever as neuroses dela, pois além da dificuldade imposta pela temática, eu sei o quanto

ela é capaz de camuflar suas emoções. As pessoas intensas têm disso. São a contradição e o

equilíbrio perfeito entre o exagero e a introversão.

A Renascida das Águas vê em Maya um pouco dela.

Pois as duas sabem que uma mulher forte reconhece a outra.

Renascida das Águas

Para um enigma chamado Náufrago

Sua forma de se expressar é tão única e potente, mas tenho quase certeza que na vida não seja sempre assim. Vejo alguém tímido ou contido por traz dessa persona que tenta desenhar um mundo tão poético pelas suas palavras.


É alguém que lê as pessoas ao redor como ninguém e ao mesmo tempo tem medo de ser lido. É difícil descrever alguém que deixa transparecer tão pouco de si.

Alguém buscando emoção e simultaneamente estabilidade.

Alguém que quer se jogar mas também teme a queda.

Alguém que ama usar as metáforas para expressar os sentimentos que somente o real não poderia explicar.

Aliás, alguém que ama amar e ama com tudo que tem direito, de pôr do sol a carta à mão.

Numa busca para completar o quebra-cabeça da vida, vai juntando os pedaços dos que cruzam seu caminho para tentar encaixar as peças que existem em si.

Como um Náufrago de si mesmo, procura nos outros o que gostaria que encontrassem em si.

E acredito que tenha encontrado na arte das palavras a sua âncora. Até mesmo um momento de dor consegue pintar com palavras e cor.

Maya 

Elipse e suas mil formas de sentir

 Querida Elipse,

Ainda não havia tido a oportunidade de te responder. Sei que desde aquele fatídico dia na

praia de Icaraí não paramos mais de nos aproximar e isso foi muito bom! Por isso, venho

por essa carta para conversarmos um pouco mais e eu lhe mostrar como te vejo, agora que

já entendo como me vê.

Naquele dia em que estava gritando com uma de nossas colegas na Cantareira, podia estar

muito nervosa, mas percebi seu olhar de preocupação e pena diante de mim. Observei

também como isso te aquietou. Seus jeitos e olhares me diziam para eu me acalmar, mas

senti que também não se achava capaz de sair daquela conversa com a mesma plenitude

que entrasse e, por isso, preferiu se calar. Aquele dia foi difícil para você também, pois, sei

que se sentiu mal por não ter feito nada na hora, mas nesse caso, ninguém teve culpa,

então se perdoe.

Eu lembro da primeira vez que conversamos em uma chamada pelo Whatsapp e acabamos

quase nos atrasando para uma aula. E isso se repetiu. A cada semana um atraso diferente

e o assunto nunca acabava! "Falava pelo cotovelo”, como sua mãe gritava do outro lado da

ligação. Eu amo essa nossa relação de "tagarelices".

Isso me lembrou um momento em que foi silenciada por isso. Me recordo porque ao invés

de te defender, também me calei. Era uma terça-feira de tarde e você estava explicando o

trabalho final mais difícil do semestre que ninguém entendia. Você parou a aula e a turma

toda só observava a sua explicação. Brilhante não? Nem todos acharam, pois percebi que

se chateou e reprimiu um choro quando o professor visivelmente irritado, brigou com todos

e, principalmente com você por estar “roubando” o tempo de aula e explicando a tarefa

errada, mas você explicou certo, não? Toda turma percebeu.

Ou quando voltamos à praia de Icaraí e fomos abordadas por um grupo de garotos que

ficaram nos assediando. Foi horrível, mas parecia que para você foi mais. Eu tentava

encontrar uma solução, ligar para os nossos pais e amigos ou chamar a polícia, mas você

dizia que não daria certo, “aqueles meninos não foram ensinados a nos respeitar”. Eu só

pude concordar.

Mas o momento que mais me marcou foi quando estávamos em uma dinâmica de turma

que precisamos relembrar uma memória de criança e você falou sobre da sua infância de

conto de fadas, vestidos e muito cafuné. Me impactou na hora, pois, além de me identificar,

percebi o pesar e a dor que carregava no olhar ao dizer tais palavras. Seus ombros caíram,

sua mão se fechou em uma e seus pés se mexiam freneticamente. Foi angustiante te ver

assim. Eu gostaria de ter te dado um abraço forte e ter dito que tudo ficaria bem.

Por isso, como uma tentativa boba, te digo o quanto você é especial, principalmente, por ser

uma mulher tão tagarela, inteligente e corajosa. Tenho orgulho da sua caminhada até aqui e

obrigada por cruzar o meu caminho.

Beijos, Estrela!


Estrela do mar 

Olhos abertos: Asas de Rapina

 Eu analisei diversas vezes o seu texto, tentando entender o que você enxergou em mim e o

que você enxergou em si mesma para espelhar em mim. Confesso que demorei. Você me leu

tão bem... na verdade foi isso que me fez entender.

No seu texto, o tempo todo você insinua o que eu sinto, minhas dores... até que você faz uma

afirmação,“A solidão é o pior sentimento pra se sentir em uma sociedade tão individualista” a

única que não projetou diretamente em mim, sinto que falou mais para si mesma do que para

mim. É esse seu maior medo? Ficar sozinha te assusta?

Os olhares que você injustamente já recebeu te fizeram se isolar, no dia 24 de outubro de

2017 você viu aqueles olhos castanhos te olharem de um jeito inesquecível, ah se fosse

possível voltar pro armário que você tanto odiava, a vida era mais fácil quando estava sozinha!

É pleonasmo chamar uma mulher de solitária, por mais que a luta seja de todas, por mais que

nós tentemos nos unir, basta um olhar de um homem no meio da rua para fazer a gente se

sentir a pessoa mais sozinha do mundo. Como deve ser boa a sensação de ser livre, se sentir

parte da sociedade ao invés de vitima da mesma.

E sua mãe fez aquele doce de novo, custava variar? Você não entendia porque não podia ficar

sozinha no seu quarto com sua música, conhece bem a solidão que te acolhe. Convivências

diárias com pessoas do seu dia a dia te incomodam, porque o mundo não é um silêncio? A

solidão não te questiona, não te perturba, não te decepciona.

Você escreveu como a Arlequina. Talvez uma das personagens mais solitárias do cinema.

Decidiu se passar por ela, você se enxerga nela? Coitada da Arlequina, nunca precisou de

ninguém, mas sempre teve medo de perceber isso e ver que não precisar de ninguém é um

sinônimo de solidão. A atenção do coringa faz ela se sentir amada, era isso que você mais

queria.

É asas, você tem medo de se sentir sozinha e ao mesmo tempo abraça a solidão como sua

amiga mais intima. Ta tudo bem, não precisa ter medo, meus olhos se sentem abraçados

quando leio um texto seu, me senti parte de você quando desabafou sobre ser mulher, sei

como é olhar pra alguém e tentar afastar essa pessoa (você tocou sabiamente nesse ponto no

seu texto). Assim como você esta na arquibancada, eu estou na platéia. A solidão não é mais

sua amiga do que eu, eu que estou escrevendo pela segunda vez sobre você e me sinto cada

vez mais sua amiga íntima. Você é completa, Asas, saia da jaula e voe.

Letra x do alfabeto.

Paty Maionese e seus condimentos psicanalíticos

 Era uma vez uma menina chamada Paty Maionese, que, por ironia do destino, vivia presa dentro de um pote de ketchup. Sua mãe, mostarda, e seu pai, molho barbecue, decidiram se separar quando ainda tinha três meses, por motivos de incompatibilidade entre ambas as partes.

Ela nunca teve muito contato com o pai ao crescer, e momentos de silêncio quando os dois se encontravam eram comuns. Desde pequena, percebeu a dualidade no ambiente familiar e, talvez por isso, o seu subconsciente tenha desenvolvido uma embalagem de proteção ao redor da garota.

A fim de não se preocupar com os problemas envolvidos em sua vida privada, foi se fechando aos poucos e adquiriu o hábito da leitura, principalmente dos clássicos da literatura brasileira. Curiosa, procurava e se interessava por assuntos variados, possivelmente como uma forma de escapar da realidade. E, assim, encontrou um meio de embarcar em uma longa viagem e não ter que se prender ao mundo real.

Com o tempo, isso fez com que a mocinha produzisse uma introversão profunda. Em sua imaginação, habitam os seus maiores desejos não realizados e os seus pensamentos nunca antes divulgados. Nesse universo, não precisava de se preocupar em gerar conteúdos para as conversas, por exemplo, pois todas as suas perguntas tinham respostas que eram originadas pela discussão mental momentânea da jovem.

Ela era como um pontinho de maionese bloqueado por um mar de ketchup.

E o lacre continuava fechado.


Tessa Gray

Querida Renascida das Águas,

Querida Renascida das Águas,

 Em primeiro lugar, me cabe agradecer por um texto tão bonito falando sobre a minha

persona. Obrigada pelo carinho e cuidado ao abordar meus sentimentos.

Em segundo lugar, mas não menos importante, queria te dizer algumas coisas. Assim

como eu, você também não está satisfeita com a realidade em que vive. Em partes, creio

eu, pelo mesmo motivo que me assombra – afinal, somos mulheres –, mas principalmente

pelo racismo, pelo preconceito e pela injustiça; que você vê os seus sofrendo, e também

sente na pele desde que nasceu. Isso te deixa indignada, com raiva, triste e muitas outras

coisas que só você sabe, porque só você sente.

Talvez isso seja um agravante da sua ansiedade tão intensa. Mas não o único. A falta de

alguém que tinha tudo para ser o seu herói e escolheu não ser nada, a insegurança que

você desenvolveu por isso e a pergunta "será que não sou boa o bastante?" que vive

ecoando na sua mente, com toda certeza do mundo também aumentam a sua ansiedade

(consciente ou inconscientemente).

Ah, minha cara, talvez tenhamos mais coisas em comum do que notamos. Quando você

fala "se deparou com o seu sonho mais louco. Um campo verde e florido, com livros ao

fundo, e uma ponte central que a levava ao infinito", arrisco dizer que esse também seja

um sonho seu. Mais especificamente, ser levada ao infinito. Um infinito onde você pare

de presenciar injustiças, onde a ansiedade não te consuma, onde você deixe de ser aquela

garotinha de 8 anos esperando o pai na calçada mesmo sabendo que ele não vai chegar e

possa, finalmente, virar a mulher que nasceu para ser. Um infinito que você possa, enfim,

renascer.


Com carinho,

Alice no País das Loucuras

Tarzan da vida real

 Devo começar a crônica elogiando o texto do Homem Macaco, pois me identifiquei

bastante com a proposta, achei muito pertinente a maioria dos pontos que firam narrados

por ele. Mas como preciso dar uma resposta, ele não terá vida fácil!

A parte da consulta em si, achei bastante pertinente, assim como a dos amigos, devido

ao que já expus aqui pra vocês, ponto positivíssimo para você, acertou demais.

A questão dos trabalhos, além de ser um fato que nós, universitários estamos sofrendo

bastante né?! Mas seguindo o raciocínio, você usou isso como uma válvula de escape,

pra poder dar um desfecho a conversa, achei interessante isso, pois me remete uma fuga,

um subterfúgio, talvez.

Um ponto que me fez refletir bastante foi a questão do pai, que você passa por ela no

final. Não entendi muito bem qual ponto específico das minhas crônicas te fez pensar

nisso, talvez seja algo que esteja presente em seu cotidiano, por que não?

A frustração, os espinhos que você retrata, me fazem pensar sobre atos falhos, que nos

acometem no dia a dia, mas que tanto buscamos suprimir e esconder, mas na verdade

deveríamos correr atrás de entendê-los. Espero que, com essa resposta possamos

entender mais a nós mesmos!

Sarah da KGB

Alice no espelho

 Alice no país das loucuras, não seria você também alguém de alma livre? Afinal,

alguém que escolhe referenciar uma das histórias mais criativas que existe em seu

pseudônimo, só pode ser alguém de alma livre. Será você como Alice? Imagino que

sim. Quanta coragem e ousadia é necessário para desbravar um mundo novo? Você faria

isso de olhos fechados.

Sonha com o dia que seu passado não vai mais te prender. As amarras da culpa do que

poderia ter ou não feito te prendem ao chão, mas, mesmo com elas, você acha um jeito

de voar. Imagino que você também se autossabote com coisas corriqueiras, como você

disse, ela é “como uma droga.” Quantas relações você sente que perdeu por esses

pequenos incômodos? Já parou pra pensar que talvez, só talvez, o mundo não seja

perfeito da forma que queríamos que ele fosse? Eu te entendo, e muito. Pessoas

cometem erros, mas sabe que nós não podemos nos dar ao luxo disso.

A timidez é, de fato, minha prisão, mas qual é a sua? Não consigo te imaginar tímida,

porém consigo te imaginar cometendo um mesmo erro em looping: o de voltar no

passado e se amargurar de suas decisões. Isso te impede de ver o presente, te impede de

enxergar a mulher que se tornou e do que ela é capaz. Tire a venda do passado de seus

olhos, você vai se sentir tão mais leve. Essa voz de dúvida martela constantemente na

sua cabeça, não martela? É ela a sua pulga atrás da orelha? Tem medo de que o passado

volte a te assombrar no presente?

Acredito que você tenha tantos sonhos. Acho que compartilha comigo o desejo de ser

respeitada. Acho também que sonha em encontrar o amor da sua vida, e, se já o

encontrou, sonha para que não cometa os mesmos erros. Sonha em provar ao mundo do

que você é capaz, só não teve oportunidade ainda. E, assim como Alice, sonha em

acordar da sua realidade e, esperançosamente, encontrar uma melhor.


Asas de Ícaro

Seja leve, menina

 Querida Ellis,

Há quanto tempo me conhece? Por suas palavras, parece que durante uma vida inteira. Você, assim como a Tessa na semana passada, incrivelmente conseguiu me descrever e até mesmo me fez perceber coisas em mim mesma que eu não fazia ideia. 

Ao que aparenta, nós somos bem diferentes. Como disse em um de seus textos, você odeia não se destacar nas atividades que faz e sempre dá o melhor de si, competitiva do jeito que é. Uma verdadeira Monica Geller, eu concordo. Já eu, por outro lado, sou fã de passar despercebida. Claro que também tenho um sentimento de desejar ser excelente, acho que todos nós temos, mas prefiro me conter que me expor. Talvez seja pelos meus medos e inseguranças, porém é o que me faz sentir conforto.

Assim como disse que esse meu jeito desenvolveu uma ansiedade, acredito que sua cobrança em se destacar também originou a mesma consequência. Ou até mesmo o contrário, não sei. Você pode ficar tão preocupada com suas situações cotidianas que a melhor forma de provar que está bem é sendo perfeita em tudo o que faz. Além de ser uma provação para outras pessoas, é, principalmente, para você mesma. Sua mente nunca para de trabalhar, é como um motor potente que sempre visa o próximo capítulo e necessita de provações constantes. Sua preocupação em se destacar pode ser justamente o que te impede de atingir seu objetivo.

Se me disse que devo ser ousada, eu lhe desejo que seja leve. Os melhores resultados surgem quando estamos de bem conosco e fora de cobrança, confie em mim. Pessoas extraordinárias não são as excelentes em tudo, mas sim as que tentam sem medo de falhar. E você é extraordinária, Ellis. Prova isso em cada vez que abre os olhos pela manhã. Sei que pode ser difícil acreditar quando ouvimos tais coisas, mas assim como eu tenho conseguido absorver ultimamente, espero do fundo do meu coração que você aceite a leveza da vida.

P.S.: Eu adoraria assistir um jogo do Flamengo com você e passar mal a cada toque do Vitinho e Lincoln na bola.


Com amor, Honey Lemon.

" Após a conversa com a feiticeira americana"

 Saí atordoada daquela sessão de análise. E me sentia analisada no sentido mais puro da

palavra. Apesar do tom manso da analista e da sua clara boa vontade, era impossível

não sentir que minha vida agora era uma obra sujeita à analises, resenhas e críticas.

Pensei se deveria voltar para uma próxima sessão. Pensei que eu não estava em

condições raciocinar. Pensei que deveria ligar para minha amiga Diana, e foi isso que

fiz. Diana entende de psicologia e tem o melhores conselhos, ela vai saber porque me

sinto assim.

- Maria! Que foi? – direta. Ela não faria rodeios para me ajudar.

- Lembra que eu te disse que ia na psicanalista essa semana? Primeira sessão... Pois é,

amiga... Acabei de sair da sessão, mas não sinto que esteja tudo bem. – desabafei.

- Hum... Me fala mais sobre isso, porque não está certo? – minha amiga estava

oficialmente analisando minha sessão de análise.

- Não sei... Eu sinto que ela tirava conclusões sobre tudo que eu dizia e lia minhas

sensações antes mesmo de eu externa-las. – continuei a falar minhas percepções

- EU JÁ ENTENDI TUDO! A analista te deixou desconfortável por te ler tão bem e de

forma tão rápida por causa do que a psicanalise chama de “contratransferência”.

O silencio do meu lado da linha foi suficiente para que Diana continuasse sua

explicação:

- Resumidamente, ela consegue expor seus dilemas e dores de forma tão fácil por viver

com dilemas e dores semelhantes. Me fala um pouco mais do que você externou pra eu

poder te explicar melhor. – ela pediu com a melhor das intenções

- Bem, eu falei da minha relação com meu irmão, de como lido com essa questão, as

minhas inseguranças em amizades e relacionamentos... Até daquela música da Taylor

Swift que nós dançávamos na piscina no verão de 2014. – resumi minha consulta.

- Se eu tenho razão e você pode saber que eu tenho, ela anotou no bloquinho que você

tem trauma causado pelo abandono dos seus pais por causa do seu irmão e que isso

afeta a sua forma de aceitar amor atualmente. A música da Taylor Swift serviu como

prova para sua indisponibilidade emocional e necessidade de validação. – ela disse

casualmente, e deu um tapa simbólico na minha cara (que entende tão mal a psicologia).

- Aposto com você que ela também sofre com abandono parental e tem sequelas desse

trauma na forma de se relacionar... Talvez não seja se autossabotando em

relacionamentos ou desassociando acontecimentos da infância, mas ela tem psicoses e

neuroses muito semelhantes às suas. Provavelmente tem pais, que assim como a Tia

Maria Teresa e o Tio Francisco, esperam muito dela mas não dão o suporte emocional

que ela precisa para atingir todo o seu potencial; também poderia dizer que tem poucos

amigos com que ela realmente sente uma conexão daquelas sem desconforto ou

incomodo. Mas você sabe, não dá pra dizer 100%... eu não conheço a moça. – Diana

finalizou.


A ligação acabou, a semana passou, mais uma sessão de terapia de aproximava. E eu

sabia que precisava comparecer. Tessa não era bondosa enquanto me criticava, ela era

profissional mesmo quando se via dentro dos meus problemas e questões.


Maria Antonieta 

Por dentro da mente (e dos problemas) de Maria Antonieta

 Eu odeio café... e também odeio leite. Também não bebo 2,75L de água todos os dias, por

mais que eu precisasse. Também não preciso acordar 6:30 para fazer tudo o que eu quero.

8:30 está bom para mim. Diferente da Sharpay, eu não como legumes, muito menos

orgânicos; diferente da Mônica, eu não sou a chata da limpeza- mas preciso dizer que me

identifico muito com ela. Não conheço a Amy Santiago para opinar, mas minha irmã me disse

que não era bem por aí...

Mas eu me pergunto por que você achou tudo isso de mim. Tenho certeza de que você acorda

tarde e mesmo assim precisa de litros de café para se manter em pé. E, assim como eu,

também não bebe água porque não gosta do gosto. Tenta fazer dieta, mas não consegue: o

doce sempre te chama de forma tentadora. E no universo de Friends, você seria a Rachel e eu

a sua Mônica.

Sim, eu uso dois planners, sou organizada e tenho TOC- literalmente, não é meme.

Acho que você tem um pouco disso também. Não tem como não ter, só pode ser por isso que

você falou uma coisa dessas.

Você precisa fazer yoga? Se quiser eu conheço um professor excelente para te indicar! No

colégio, meu professor de educação física alternava as aulas de esporte com yoga, porque,

segundo ele, a gente precisava relaxar. Mas mal sabia ele que me colocar para respirar

aumentava minha ansiedade 100%. Eu precisava mesmo era de correr de um lado para o outro

da quadra, jogando qualquer tipo de esporte. Tenho certeza de que você seria uma das chatas

que pediam para ser yoga no dia de esporte.

E eu definitivamente não sei de onde você tirou que eu e Rato Guanará formaríamos um lindo

casal. Quer dizer, ele acha que sim. Mas eu não. Depois de três tentativas frustradas de um

amor perfeito, eu desisti completamente dessa ideia. Eu o deixo viver com isso na cabeça,

mas nunca vai dar certo. Inclusive, um dia ele apareceu na minha casa com os tão falados

lírios brancos- é sua flor preferida? -, eu agradeci com um sorriso amarelo e as flores

morreram dois dias depois.

Mas eu me peguei pensando: por que você falou disso? Sem rivalidade! Se você quer, pode

ficar! Quem divide, multiplica, é o que dizem.

Ah, estou sim à procura da perfeição. Mas eu sei que você também está. E nós duas

combinamos com a ideia de ser amada, mas não se achar digna de tal amor.

Pensando melhor, eu só concordo com a primeira parte.

Mas e você? Você não precisa impressionar ninguém com seus trabalhos em dia, seus

cadernos organizados, sua casa decorada com flores para todos os lados. Você não precisa

viver tensa tentando agradar ninguém.

Se seus amigos te fazem duvidar do quão bem-vinda você é com eles, então são eles que não

merecem seu amor. Porque você, Maria Antonieta, você é a rainha da França, todos querem

sua atenção. Você é digna de todo o amor do mundo.

Porque você merece. Porque muitos de nós já a consideramos a melhor também. Agora falta

você mesma reconhecer isso em você.

Ellis Bell

Mais uma Sarah da KGB qualquer?

 Sarah, gostei muito da forma que você escreveu o seu texto tão intimamente direcionado a

mim, quase que estabelecendo um diálogo; por isso, decidi lhe responder no mesmo tom.

Apesar de conseguir entender o porquê de você ter construído essa visão sobre mim com base

nos meus textos, preciso lhe dizer que não sou bem dessa maneira...

Alguns pontos no seu texto me fazem pensar que talvez você seja uma pessoa um tanto

quanto desconfiada, como o fato de ter se questionado sobre eu ser uma paty e a sua

desconfiança com relação à uma possível resistência da minha parte em contar sobre os meus

sonhos. Penso se talvez essa desconfiança não tenha criado raízes a partir de alguma decepção

que você tenha vivenciado.

Bom, quanto à sua visão sobre eu ser uma romântica desvairada e ansiosa a procura de um

amor, você não poderia estar mais errada, hahaha, assim... até confesso que quando estou

apaixonada posso exagerar um pouquinho no romantismo e no grude, mas no geral sou muito

tranquila com relação a isso, meu sagitarianismo só consegue lidar com uma certa quantia de

romantismo, se estourar muito a cota eu acabo me cansando; não possuo muitos ex-amores,

mas os que possuo estão bem superados...

Enfim, essa sua visão romantizada sobre mim me mostra que talvez você é que seja essa

pessoa, acredito que pessoas apaixonadas acabam tendo uma visão igualmente apaixonada do

mundo, e como você mencionou possuir um amor em um texto anterior, creio que você esteja

vivenciando essa paixão.

No mais, agradeço pelos conselhos e pela licença poética na hora de socar negacionistas, mas

eu não poderia pois:

1) eu provavelmente apanharia; e

2) eles não usam máscara.

Paty Maionese

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Uma biografia (não) autorizada de modo anônimo

 Modo Anônimo já acordou no tumulto. Sua cabeça tentava processar tudo aquilo que tinha acabado de sonhar. Não havia sido um pesadelo, mas certamente não foi um sonho agradável. Memórias, por vezes, machucam e assustam mais que pesadelos horripilantes. As lembranças com ele e os momentos que passaram juntos repetiam sem parar. Antes no sonho, agora acordado. Algumas apenas vagas recordações, outros pensamentos tão vívidos que pareciam da noite anterior. A única certeza, entre tantas dúvidas, era a de que precisava levantar.

Foi à cozinha, preparou seu café forte de todo dia. Repudia café fraco. Pegou seu celular e iniciou, de fato, a sua rotina. Há dias em que ele até não passa café, mas a conferida no celular logo após acordar é garantida. Como de costume, entra no Instagram e confere os primeiros stories que aparecem. Ah, mas é claro que ele ia aparecer. Como ensina ao Instagram que já não estamos juntos? Primeiro gatilho do dia veio cedo. Vê post de várias pessoas saradíssimas fazendo crossfit e mostrando suas dietas lowcarb. São 7 da manhã, como isso é possível? Segundo gatilho já marcou presença. Checa os likes da foto postada ontem e se desaponta. "Está tudo bem, são apenas números. Um grande Foda-se pra tudo isso", pensa ele numa tentativa de se acalmar. Mas a rede social do diabo não funciona desse jeito, ela enraíza e enlouquece a todos.

Com o coração acelerado e a respiração ofegante sem nenhum motivo aparente, Modo Anônimo joga o celular pra longe e vai para o quarto a fim de adiantar os trabalhos da faculdade. Sente que precisa terminar aquilo até o fim do dia, mesmo com a data de entrega sendo amanhã.

Mesmo sob sua própria pressão atrapalhando seus pensamentos, consegue concluir um trabalho e segue sua rotina para preparar seu almoço. Acompanhando o relógio pontualmente, termina de almoçar meio dia e meia e já deixa sua janta pronta, tudo na quantidade certinha.

Tenta dar uma descansada ao assistir um episódio de How I Met Your Mother antes da primeira aula mas seu cérebro parece ser um inimigo, não permite um simples respiro. Liga o computador já pensando na academia de logo depois, religiosamente feita no final da tarde. Enquanto o professor fala, pensa se realmente tem esse hábito por vontade própria ou se o julgamento alheio fala mais forte. Ele sabe a resposta, mas evita pensar muito nisso.

Sai da academia feliz - pois o exercício lhe faz bem - mas ao mesmo tempo triste, pensando em todo o sistema que o faz ter motivação para isso.

Quando pensa que finalmente terá paz no dia, lembra que tem jogo do São Paulo. Oh, meu Deus, seja o que Você quiser. Mas por favor, salve o tricolor paulista.

Rosto Fosco 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Brilha, Estrela.

 3 horas da manhã. O barulho agudo da forte ventania junto com o grunhido da porta traz

contornos assustadores para a madrugada de Estrela. Com medo, ela se enrola no cobertor e

parte para mais uma frustrada tentativa de sono. Ao fechar os olhos, a mesma assombrosa

imagem se repete, ela vira, troca o lado da cama, liga a tv, mas nada, absolutamente nada

parece ajudar. Seu único desejo nessa altura da noite é que o sol apareça e leve embora as

inquietantes vozes que tanto a alucinam.

Enfim o dia chegou, mas ao contrário do que imaginava a doce menina, as vozes haviam

ganhado uma proporção ainda maior, ocupavam um espaço ainda mais significativo no seu

subconsciente, e tornavam a repetir todas aquelas verdades. Esse era o maior problema,

aquelas vozes traziam nada mais do que a verdade. Espíritos? Assombrações? Não.

Infelizmente, aquela menina há de lidar com algo muito mais sério, ela mesma. Faz tempo

que ela trava essa batalha, já não é novidade pra ela lutar acima de tudo com as vozes de sua

cabeça que insistem em dificultar seus dias.

O cansaço é evidente em seu rosto, volta e meia sua mãe comenta sobre as suas olheiras. Ela

prefere desconversar, pra muitos pareceria papo de maluco, mas para ela aquilo era a mais

pura ou, mais dura realidade. São anos recalcando vontades, abrindo mão de sonhos e

oportunidades, e afastando aqueles que mais ama. Isso tudo pelas malditas vozes. Quando

elas surgiram? Não há uma resposta exata, mas pelos tons que as acompanham, os traumas

cruéis de sua infância têm culpa até demais no cartório. Foram eles os responsáveis por criar

a maior parte de suas inseguranças, são eles que habitam as profundezas da alma daquela

menina, causando dor e sofrimento.

A luta continua, dia após dia, só ela será capaz de matar esse fardo interno que assombra e

aterroriza suas madrugadas. Só ela devolverá ao mundo o brilhante sorriso de suas

conquistas. Será ela também a responsável por cessar os sussurros que bloqueiam mares e

rios de ideias dos projetos e sonhos daquela menina. Sim, só a luta fará Estrela téte brilhar

novamente.


Rato Guaraná

Pela lente das palavras

O desafio de hoje me leva novamente às palavras, mas dessa vez entendo-as

como uma lente. Uma lente que focaliza os sentimentos e os expressa,

esculpindo os seres singulares que habitam o mundo desse blog. Forjando

personas, como Jung conceituou. Os pseudônimos nos ajudam a sublimar

através da escrita sentimentos profundos, de formas tão belas, como posso

constatar toda semana. Cada texto é um fruto da profundidade dos sentimentos

dessas personas que já parecem velhos conhecidos.

Falo hoje sobre um pseudônimo esculpido na intensidade das suas palavras.

Porque caminha na estrada da intensidade, não passa inerte pela vida e nem

conseguiria. Mas quando eu digo isso, falo de forma completamente positiva.

Ela deixa o amor lhe transbordar e valoriza a grandeza desse sentimento. Já se

iludiu com dores maquiadas de amor, mas hoje, isso certamente lhe deu mais

força. A força que o seu nome expressa. Maya. O que antes tentava esquecer, e

que volta e meia recalcava-se em sonhos, podem agora germinar na sua bela

escrita.

Maya busca aproveitar os bons momentos, que sempre parecem passar rápido

demais. Coisa do tempo, aquele velho desafeto nosso, que torna tudo tão

efêmero que imaginar o futuro gera incertezas com o presente. Mas Maya

também tem as suas certezas. Ela sabe o que lhe traz felicidade e valoriza as

gargalhadas de uma boa conversa com amigos na mesa do bar. Aliás, acho que

Maya é alguém que sempre tem algo bom a dizer, buscando o melhor das

pessoas e procurando tirar um sorriso de quem está ao seu redor. Além disso,

não suporta injustiças e sai em defesa do que acredita.

Te enxergo assim pela lente das suas palavras, espero que goste e aguardo seu

texto na próxima semana, pra descobrir o que enxerguei certo e o que foi

distorcido pela ótica da minha imaginação. Por ora, concluo desejando que

continue sendo você mesma, e transmitindo o que sente de forma marcante.

Marcante com M de Maya.

O Náufrago

Mais uma Paty qualquer?

 Quando vi esse nome Paty já pensei: “será que ela é uma Paty da vida?”. Logo descobri

que não, relendo seus textos e pensando no que escrever sobre ela, me vejo sendo uma

grande amiga dela, por que não?

Ela diz que não possui uma boa memória e eu acredito, mas em relação aos seus sonhos

tenho a leve impressão de que ela não quer compartilhar, ela esconde pra si esses

acontecimentos das suas noites de sono mal dormidas, recalcando tudo que passa na sua

cabeça. Ela tem uma obsessão, o tempo todo pensa: “será que nunca mais vou viver um

amor, será que nunca mais encontrarei o amor?” Eu lhe digo Paty, você terá sim o seu

momento, mesmo com toda essa ansiedade e incerteza. Sempre que ela conhecia uma

pessoa nova, a neurose de transferência acometia seus pensamentos e mais uma vez o

ato falho de chamar a pessoa pelo nome de seu ex-amor acontecia, fazia aquele cafuné

na cabeça relembrando de como eram seus cabelos.

Entre obsessões e vícios, ela passa os dias a roer unhas, mergulhada em autossabotagem

e na histeria de uma perdida no seu próprio mundo. Não deixe que tudo isso que está

guardado dentro de você se torne uma psicose em sua vida, não seja uma bomba relógio

prestes a explodir, seja você, essa doce e amigável pessoa que sempre demonstrou,

porém, quando se trata desses malditos negacionistas, eles não podem passar em branco,

aí pode partir pra agressão mesmo, licença poética.

Sarah da KGB

Uma noite mal dormida

 Na Madrugada de uma quarta-feira qualquer, o misterioso Rosto fosco está à procura de mais

uma comédia romântica clichê na Netflix, mas não tem tantas opções, pois já assistiu as

melhores. No entanto, precisava escolher uma, urgentemente. Não aguentava mais a nuvem

de pensamentos que trazia à memória seu antigo amor, na verdade não sei se é tão antigo

assim, por vezes parece estar bem vivo.

Após algum tempo tentando achar algum filme, acabou escolhendo um que já sabia até as

falas. A trama era sobre um alguém sonhador que vivia tentando se realizar, digo tentando,

pois o medo estava sempre presente. Aprisionava. Mas a persistência era sua virtude, não

esmorecia.

Passados 15 minutos de filme percebeu que na realidade o filme representava mais um

espelho de sua vida, e então desligou a TV.

Deita, tenta dormir e nada. Os pensamentos retornam, mas dessa vez pensou em seu futuro,

sua profissão, visto que, sonha em ter uma carreira brilhante, ser reconhecido.

Estava cansado! Não aguentava mais tantos vislumbres. Esses pensamentos estavam o

devastando.

Vira para um lado e para outro. Foi para o Spotify, modo aleatório ativado! E lá vem Legião,

“Que país é esse?”. Militante, totalmente inconformado com a realidade, Detesta injustiça.

Desistiu de tentar se distrair.

Finalmente consegue dormir, e sonha. Sonha que estava em um jardim florido, a brisa suave

passava pelas pétalas das mais variadas flores, e para sua surpresa o aroma era daquele

amaciante. Acordou assustado e com raiva!

Foi ao banheiro, lavou o rosto e olhou no espelho, viu seu rosto fosco, e naquele momento

percebeu que aquele fosco estava tentando esconder, esconder os traumas, os erros, os

desejos.


Estrela Téte

A Estrela do Mar que vocês não conhecem

 Querida nova amiga,

Quero te contar que estou gostando muito da nossa aproximação e da amizade que estamos

construindo desde aquele rolê na praia de Icaraí. Aquele dia eu te observei o suficiente para

perceber suas características físicas e a partir disso compreender seu estilo, alguns gostos e julgar

rasos traços de personalidade. Que bom que nos encontramos mais vezes depois e eu pude te

conhecer de outra forma. Por favor, não pense que eu tenho alguma obsessão em traçar sua

persona, até porque te escrevo para contar as suas neuroses, que são impossíveis de não reparar.

Vamos começar por aquele dia na Cantareira que você não parou de balançar a sua perna enquanto

arrumava todos os guardanapos da mesa repetidamente por minutos. Seu tom de voz que oscilava

em baixo e alto simplesmente do nada e você fugia do assunto toda hora. Uma das nossas colegas

não se aguentou e gritou com você. Senti seu gatilho sendo acionado na hora. É como se o céu

fechasse em segundos e a tempestade começasse. Você odeia que gritem com você, porque você

grita mais ainda e seu lapso verbal surge. Você não consegue completar uma frase porque pretende

dizer uma palavra, mas fala outra e se irrita com isso também. Foi uma confusão. Você saiu

chorando, é claro, porque na tempestade que você criou tem que chover. E choveu por dias, não

foi?

Você explicou que é como se os seus pensamentos viessem de fora e roubassem a sua consciência. É

incontrolável. Desde pequena você não parava quieta e todo mundo reclamava. Na escola te

reprimiam por falar demais. Em casa seus pais gritavam com você e um com o outro pra saber quem

ia fazer essa menina fechar a boca. Na rua seus colegas pediam "por favor, fala mais baixo"; e "ou,

menos, você tá falando demais já". Seu primeiro namorado, aquele que você projetava todas as

expectativas de príncipe da Disney, várias vezes ameaçou terminar porque era muito difícil de lidar

com sua ansiedade, seus tocs e o seu "chororô" pra tudo. Eu entendo, Estrela, o choro é seu

mecanismo de defesa. Sua vontade sempre foi de ignorar os comentários e continuar sendo si

mesma, de bater de frente com todos e se aceitar, mas você recalcou esse sentimento. Deixou que

outros te moldassem e hoje paga um preço alto por isso.

Você se cobra muito, amiga. Quero que se lembre que essa conta não é sua. Essa conta é a soma dos

seus traumas, lembranças e medos. É injusto você ter que pagar ela dessa forma. Não se maltrate

assim. Quero que se enxergue de outra forma. Tenta olhar pra si com mais admiração e respeito. O

mundo dos seus pensamentos intrusivos não existe. O mundo é aqui e agora, para de fugir dele. É

passageiro, amiga, vamos aproveitar essa viagem. Pode ser?


Beijos, Elipse

Sentimentos incongruentes

 Era uma tarde ensolarada e o Homem Macaco assistia mais uma partida do seu time de basquete favorito, Toronto Raptors. Ele estava feliz mas não somente porque assistia ao seu time de coração mas porque, finalmente, ele conseguiria convencer todos os seus amigos a acompanhá-lo. Era apenas três, mas que para ele parecia muito, pois, Ana era uma das garotas mais legais que já conheceu e seus cabelos feito fogo sempre ilustrava a luz que possuía. Violeta, a amiga mais alta e brincalhona que já teve e por último, Gabriel, o bolsominion malhado que mais faz juz ao seu apelido.

Tudo caminhava para Toronto ganhar dessa vez, mas ele não parecia ligar, pois de repente se lembrou de como se apaixonou pelo seu time, ou melhor, quem o fez se apaixonar. Era uma garota. Ana Alice. Menina tão doce quanto seu nome transmite, passou pela sua vida como um trem-bala, mas deixou tantos rastros que parecia que passava em slow motion em sua mente. “Esquece! Ela não era tão legal assim… “

Só de lembrar, seu coração aperta e lembra de quantas vezes confundia as pessoas em umestádio com ela. "Esquece", repetiu. 

Sua memória fotográfica já lhe salvara em muitas ocasiões, mas naquele momento se apresentou apenas como um fardo a carregar. Se perguntado, negaria que um dia a conheceu. Havia um certo recalque inevitável. Era melhor assim.

Um pouco menos alegre, Homem Macaco volta sua atenção à partida. Toronto continua perdendo de 90 pontos a 100. Mais um dia normal. “Normal? Quando isso começou a ser normal para mim?” Esse pensamento o fez lembrar da infância e do seu irmão que apesar de mais novo transmitia a força de uma pessoa feita.”A pessoa mais forte que já conhecia, além de meus pais. Será que eles passaram essa força a todos seus filhos?” Ele sentia que algo estava errado, não tinha tanta força assim. Por um segundo sentiu saudades de seu irmão e desejou que ele estivesse ali para ensiná-lo tudo o que já aprendeu desde que ele se foi, principalmente seu amor por Toronto. Sonhava acordado e fantasiou uma vida inteira com o seu irmão ao lado, seria eles contra o mundo, se preciso.

- “Que jogada!” gritou o bolsominon malhado

- “O que?” disse voltando a realidade.

- “130 pontos a 101 é um bom resultado para você?” perguntou Violeta

- “Já estou acostumado, na próxima nós ganhamos”

E nisso voltaram para casa. Seus amigos decepcionados, mas não surpresos e Homem Macaco impressionado com a quantidade de sentimentos que conseguiu ter em apenas uma partida. Diante disso, buscou um cigarro no maço que encontrou em seu bolso e relaxou com uma longa tragada. Que válvula de escape!

Estrela do Mar 

O túnel da sexta-feira

 2 de fevereiro de 2021.

Ela caiu naquele profundo túnel.

Sua queda se iniciou às 17h e 02min daquela terça, quando recebeu a notícia de que teria que

produzir crônicas e mais crônicas para serem entregues à cada quinta. Nada muito difícil para

ela, que sempre teve familiaridade com o seu inconsciente.

Na viagem pelo túnel, ela foi se esvaindo conforme caía.

Suas revoltas contra a realidade em que ela e seu coletivo vivem, e a indignação com toda a

injustiça que a rodeia, revelam seu mais lindo lado.

Ainda durante o percurso de sua queda, ela foi encontrando paradas específicas que a

ajudaram a desenvolver seus dons. A primeira, foi a raiva. Ela desabafou sobre seu ódio dos

males do mundo, sobre o sistema patriarcal nas sociedades e o impacto disso em seu coletivo.

Lá, ela encontrou o doce da “crônica”, onde esboçou em palavras sua revolta. A segunda

parada, foi a autossabotagem. Lá, ela relembrou antigos amores, neuroses psíquicas, raiva e

dor. Quase se perdeu de sua rota, mas se encontrou depois de provar o doce da “memória”.

Logo, ela voltou sua mente para um passado recente, e conseguiu se recompor, por meio de

lembranças reconfortantes. Nesta parada, ela comeu o doce da “expectativa”. Este, por sua

vez, a levou à uma porta, voltada para o chão, no fim do túnel. Ao abrir, se deparou com o

seu sonho mais louco. Um campo verde e florido, com livros ao fundo, e uma ponte central

que a levava ao infinito.

Tudo isso, se resume à loucura de Alice. Não aquela do chapeleiro, mas a nossa. Ela que

percorre a linha do conhecimento, da expressão, e é claro, da psicose, ainda encontrará muitas

outras paradas, que espero que tragam bons relatos.

Alice no país das loucuras, nas loucuras de um país.

Este que vivo.

Que você vive.

Ou, este que nós escrevemos, todas às sextas.

Renascida das Águas

Perfil Jubiabá - Descrição

Podemos perceber através da leitura doa textos como as situações que ocorrem na vida das pessoas faz com que seja moldado um Caráter e visão de mundo.

Quanto mais gente tiver uma vivência parecida com as suas, mais comum torna-se uma visão sobre algo recorrente, seja um problema social, algo que acontece no dia a dia ou valores ensinados pela família ou qualquer pessoa. A partir disso, reparo que há em um dos textos de Jubiabá uma noção de vivência social recorrente do Racismo em um país capitalista e pobre como é o caso do Brasil, que complementa muito bem e faz uma descrição quase completa de seu perfil, o que ele passou na vida como ao dizer aos pais que era homossexual.

Por passar por cima de todos os valores tradicionais para que fosse moldado seu caráter, Jubiabá tem um perfil de resistência e luta diária, no qual seus traços de mentalidade fazem o passar por alguém revoltado, mas que está apenas lutando pelos seus direitos comuns de um cidadão, que como um de seus próprios textos diz quer dar um Basta em tudo que já passou e resolver de uma vez por todas. Como criança ja ser submetido a certas situações constrangedoras e discriminatórias pode trazer serias consequências a respeito de autoaceitação e não saber a maneira certa de ser ou agir, devido a uma conduta conservadora passada de geração para geração, de todo modo percebo nos textos de Jubiabá uma pessoa que não se deixa levar por qualquer coisa e supera (não à toa em seus textos mostra como reage a desaforos em situações da vida) e eu acho isso algo muito válido que PRECISA ser ressaltado e normalizado, só através da luta pode-se resolver os problemas pelos quais Jubiabá passa.

Quentinha Fria 

* não fiz semana passada e escolhi um pseudonimo conforme o professor recomendou*

A atleta da vida

 Jamais pensei que alguém pudesse escrever que estava furiosa com Deus, você fez isso. Mas então parei pra pensar e cheguei à conclusão que todo mundo quebra sua relação com Ele em algum momento, a vida é difícil, coisas ruins acontecem e a gente precisa culpar alguém. Quanta dor é possível uma pessoa carregar? Você carrega tantas...

Seu maior medo, aquele que vive em um lugar que ocupa muito espaço em você, é o de perder alguém que ama. Já passou por isso e sabe que não quer passar de novo, e seu inconsciente acaba te sabotando. Qual foi a última relação profunda que construiu? Fazer conexões é complicado pra você, não quer experimentar de novo a dor que sentiu.

Por que não se permite ser feliz? Desistiu do sonho de ser atleta, mas quantos mais outros sonhos existem dentro de você? Acho que no fundo, seu maior desejo é se sentir segura pra confiar em você mesma e nas pessoas de novo, mas ele é reprimido pelo medo, e a mais inofensiva das aproximações pode significar a transferência daqueles sentimentos ruins do passado para o presente.

Quer gritar. Quer poder tirar esse peso de você de alguma forma. Quando menos percebe aquele pensamento do “o que eu poderia ter feito diferente?” volta à tona e te assombra, te persegue, te domina. Qual é o peso máximo de um fardo que o ser humano pode carregar? O quanto você deixa esses pequenos e tortuosos pensamentos ficarem borbulhando na sua cabeça, até se dar conta de que é mais forte que eles? Se sente tão cansada da rotina, do mesmo de sempre. Às vezes sente que corre, corre e não sai do lugar, igual um hamster preso a roda.

A solidão é o pior sentimento pra se sentir em uma sociedade tão individualista. Que ironia né? Eu acho que ela é sua maior dor. Você a sublima de alguma forma, mas ela parece sempre voltar pra você. Já acordou no meio da noite com sonhos ruins? Sinto que você diria que algumas vezes. Quanta coragem é preciso pra continuar nessa maratona sentindo as coisas que você sente. A vida te coloca tantos obstáculos, mas como uma boa atleta, você salta todos eles. Letra x do alfabeto, saiba que eu te admiro e torço por você da arquibancada.


Asas de Ícaro

A consulta de Sarah

 -Bom dia Sarah, como é que você está? – perguntou a psicóloga sentada a sua frente.

-Bom dia, tô cansado, mas tô bem – disse Sarah com um sorriso simpático no rosto.

-Ta cansado? Quer falar um pouco sobre isso?

- São só as coisas da UFF, os professores tão passando muito trabalho e eu não to tendo mais

tempo pra nada, eu mal to conseguindo falar com meus amigos – disse Sarah num tom um

pouco frustrado.

-E como você se sente em relação a tudo isso? – indagou a psicóloga.

-Ah, eu fico meio mal, querendo ou não eu sou um pouco dependente dos meus amigos e eu

queria poder passar um pouco mais de tempo com eles – respondeu Sarah.

-Agora você tem mais responsabilidades, você precisasse organizar e definir o que é prioridade

pra você.

-Eu te contei que eu sonhei com eles essa semana? – disse Sarah, ignorando o que a psicóloga

tinha dito.

-Não, como foi esse sonho? – perguntou a psicóloga, enquanto se ajeitava na cadeira e

ignorava que foi ignorada.

-No sonho eu tava numa selva, eu sabia que as coisas não estavam bem e tudo que eu queria

era sair daquela floresta o mais rápido possível, mas na medida em que eu andava, a selva

ficava cada vez mais densa e escura, chegou num ponto em que não entrava mais nenhuma luz

lá dentro.

-O que aconteceu depois? – perguntou a psicóloga, interessada no sonho.

-Aí eu cheguei num ponto em que eu tinha cansado de correr e simplesmente fiquei lá parado

no escuro. Foi aí que eu ouvi um barulho alto vindo de cima, e de repente começou a entrar

luz naquele lugar, a selva já não era tão densa! – disse Sarah – então eu olhei pra cima e vi: era

um helicóptero com os meus amigos dentro!

-Então no sonho os seus amigos te salvaram dessa selva? – perguntou a psicóloga

-Não, o vento do helicóptero dos meus amigos afastava as folhas das arvores e por isso a luz

conseguia chegar até mim, mas a selva ainda era muito densa pra eles conseguirem pousar. –

respondeu Sarah.

-Então eles não conseguiram te salvar afinal?

-Espera, deixa eu terminar de contar – respondeu Sarah um pouco impaciente.

-Desculpa, pode continuar – disse a psicóloga, um pouco sem graça.

-Como eles não conseguiam pousar eu pedi pro meu pai jogar uma corda pra eu conseguir

subir.

-Espera, desculpa interromper, então o seu pai estava no helicóptero com os seus amigos? –

indagou a psicóloga.

-Meu pai? – Sarah parecia confuso – Ah não, desculpa, eu falei errado, quis dizer meu amigo.


-Você sabe que isso foi um ato falho né? Seria bom a gente falar sobre isso. – sugeriu a

psicóloga.

-Sim, tudo bem, mas me deixa terminar de contar meu sonho agora – disse Sarah – Então eu

pedi pro meu amigo jogar uma corda pra eu poder subir, e ele jogou a corda, mas a corda era

muito curta. Eu precisava subir nas arvores pra poder chegar na corda, mas acontece que as

arvores eram cobertas por espinhos, quanto mais eu subia, mais eu me machucava.

A psicóloga olhava para Sarah esperando ele terminar.

- O mais frustrante é que quando eu tava quase alcançando a corda, eu acordei. – disse Sarah

com um olhar um pouco chateado.

-Então o que você fez depois disso? – a psicóloga perguntou

-Eu levantei, anotei meu sonho e depois fui adiantar alguns trabalhos da UFF, os professores

tão tirando nosso couro.


Homem Macaco

#Guiabá

Sabe aquela sensação de acordar e desejar voltar para o sonho que estava tendo? Todos nós, sem exceção, já a sentimos pelo menos uma vez na vida. No caso de Jubiabá, ela  apareceu na manhã anterior, quando depois de muito tempo sonhou com seu Guizinho. Ele não entendia o real motivo de acontecer, poderia até ser pelas aulas do professor Pena que indiretamente trabalhavam com seu psicológico, mas seu antigo amor havia simplesmente surgido em sua tão real fantasia e a marcado de forma absurda.

Durante todo dia tentou se concentrar em seus afazeres da faculdade, mas sem sucesso. Incansavelmente, a imagem de Guilherme vinha em seus pensamentos junto de flashes do sonho. Futebol, camisas do Santos, gritos, risadas, gols marcados, comemorações, cachinhos cor-de-mel balançando em câmera lenta, ...beijos. Eles eram um casal? Eles eram felizes? Jubiabá não conseguia parar de pensar em como desejava que tudo aquilo fosse real. Não conseguia deixar de se perguntar como sua vida seria se tivesse feito escolhas diferentes. Se tivesse crescido de forma diferente.

Mesmo depois de muitos anos, as falas de seu “dindo” ainda ecoavam. O controle de seus pais e as restrições ainda eram lembradas. Indiretamente, Jubiabá foi moldado. Em vez de brotar, ele encolheu. Guardou-se e deixou de ser si mesmo por medo do que o mundo poderia dizer. Não ajudou Guilherme quando estava apanhando pelo mesmo motivo. Se autossabotou e construiu uma introversão. Talvez seu amor pela literatura viesse do fato de encontrar nela um refúgio. Talvez seu apreço pelas causas militantes seja para que no futuro meninos como ele não precisem passar pelos mesmos maus bocados. Nada acontece ao acaso, isso é fato. Nós somos marcados por vivências e, ao mesmo tempo que elas formam nossa persona, também são culpadas pelo o que deixamos de ser e ter.

Jubiabá deixou de ter Guilherme, mas foi através de suas batalhas que conquistou forças e hoje consegue dizer que é orgulhoso de quem é. Muros são derrubados para que um mais forte seja construído, não é mesmo? Então provavelmente seu sonho não foi sobre o que perdeu, mas sim sobre o que poderá construir futuramente pelo marco de suas vivências, de suas lutas. Uma mensagem para seguir em frente de cabeça erguida. No futuro vibrará, sem medo, pelo Santos ao lado de seu “Fulaninho”, que, levando em consideração a loucura da vida, pode tornar a ser seu eterno Guizinho. Seria épico, né?

E pode ser.

Já que nada é impossível nesse mundo.

Honey Lemon 

Renascer. verbo intransitivo

Ah, querida, seu nome diz tanto sobre ti. Só quem nasce de novo é quem já foi ferido e teve que se reinventar. Seus textos carregados de profundidade e mágoas trazem um pouco a tona as dores que a acompanham. Vejo em você a menina fragilizada que sofreu a ausência do pai e procurou afeto em muitos outros lugares e não encontrou. Mas vejo também a mulher que quer se tornar.

Vejo em você a menina que aprendeu desde cedo que a vida é dura e que nem sempre teremos os nossos conosco. Mas vejo em você também a mulher com garra que sabe o que quer e quando quer. Você sonha grande, tem muitas ambições, como boa pisciana, mas não se considera sonhadora, na verdade você sabe o seu valor e o tamanho da sua coragem.

Imagino que você tenha problemas para se relacionar, afinal você é um mar para quem quer se afogar e não para molhar o pé. Mas você não teme a solidão porque sempre soube que estava só, que era você por você, e isso já não a abala mais. Só você sabe das suas batalhas, e até agora tem vencido todas elas.

Você quer ser firme e inabalável como um farol no meio do mar. Quer ser a mulher forte que aquela menina se orgulharia. Mas você é o oceano, meu amor. É uma onda com cristas e vales, um vai e vem contínuo que machuca mas que cura também. Tenta manter uma solidez que não é real, porque você é como a água, fluida e adaptável, que ora seca e ora derrama.

Acredito que sua mente inquieta não a deixe relaxar, que sua autocrítica sempre a relembre de seus erros e procure defeitos em si. Pode ser que você chore com frequência, mas sabe que seu sorriso ilumina o dia de alguém. Mesmo que você tenha medo de cair, a sua força de lutar sempre será maior porque mulheres fortes te ensinaram a não desistir. Aquela menina cresceu e agora é uma Renascida das águas.

Maya

Por dentro da mente (e da agenda) de Ellis Bell

 06:30. O despertador toca.

Ela precisa levantar, tomar banho, escovar os dentes, se vestir, beber uma caneca com ¼ de café e ¾ de leite, ligar seu computador e iniciar suas atividades antes das 07:15.

Ela não quer estourar o cronograma, não quer se atrasar.

Um banho relaxante e demorado pode prejudicar seu desempenho no dia, pode não sobrar tempo para a escrita do texto às 08:00 ou para a Yoga às 17:00.

E é assim que Ellis Bell vive. Tensa. A procura da perfeição. E a perfeição só pode ser atingida de uma forma: organização e trabalho duro. Ela acorda bem cedo, mesmo que sua aula seja só depois do almoço; em março, já tinha todos os trabalhos do final de abril prontos; resume cada frase de cada texto que precisa ler; come seus vegetais (orgânicos, é claro); bebe 2,75L de água religiosamente.

Neurose obsessiva? TOC? Ela não sabe dizer... Prefere falar que é extremamente organizada ou que gosta das coisas da forma como elas devem ser.

Se quando era pequena sonhava em ser a Hannah Montana ou a Alex Russo, hoje enxerga que as duas vivem de uma forma louca, não-planejada e quase absurda. Sabe quem ela admira? Amy Santiago e seus infinitos fichários, que organizam e classificam a vida e o trabalho, ou até mesmo Monica Geller que aspira o pó do próprio aspirador de pó.

Assim como Amy e Monica, Ellis tem seu moreno bobão e que faz tudo por ela. Ele atende por Rato, mas na certidão de nascimento está Rato Guaraná. Rato Guaraná e Ellis não namoram. É muito comprometimento para ele e muita responsabilidade para ela. Quero dizer, Ellis sonha sim com um relacionamento estável, fechado e que ela tem total controle, mas como ela poderia? Os dois são tão diferentes... Ellis tem seu armário organizado por cor e sua cama não está arrumada se não tiver lençol, cobre-leito e edredom. Rato não arruma sua cama há 2 semanas.

Ela pensa que eles poderiam ser melhores. Poderiam ser o maior casal de todos que conhecem: ela poderia trabalhar em um grande jornal como repórter e fazer bolo para tomarem café juntos em casa, ele poderia ser cronista em uma revista importante e comprar as flores que ela mais gosta toda semana. Mas a vida não é assim. Ellis sempre deixa o bolo solar e Rato acha que as flores favoritas da garota são rosas vermelhas, mesmo que sejam lírios brancos. E mesmo que ele levasse as flores certas e tivesse a cama com lençol, cobre-leito e edredom, Ellis não acharia suficiente. Ela mais uma vez sabotaria um relacionamento bom por esperar cada vez mais.

A verdade, é que ela não consegue entender como Hermione casou-se com Rony. Ellis ama a ideia de ser amada, mas não acha que seja digna de tal amor. Ela nunca tem o reconhecimento que merece, nunca é a melhor no que faz, por mais que se esforce e coma seus legumes no horário certo.

Talvez Ellis devesse parar de tentar ser a melhor. Muitos de nós já a consideramos a melhor, e nem achamos que ela precise de fichários ou aspiradores para o aspirador de pó.


Maria Antonieta.

Alma Livre

 Em um momento da vida – não me lembro ao certo qual –, comecei a conseguir enxergar e sentir pessoas de alma livre, dessas que transbordam luz e nasceram para espalhar elpelo mundo sendo o que quiserem ser. E Asas de Ícaro é, sem dúvida, uma dessas pessoas.

Asas tem uma coragem que muitos sonham em ter. Veja bem, não é fácil sair da zona de conforto e mostrar o seu verdadeiro eu em um mundo tão preconceituoso, mas mesmo assim ela o fez. Os olhares de desaprovação daqueles que a amam lhe deram medo, mas ela tem certeza de que eles têm data de validade.

De vez em quando ela também se autossabota, fazendo com que situações corriqueiras, que seriam facilmente resolvidas com uma conversa, se tornem problemas grandes a longo prazo. Mas, sejamos sensatos, qual a pessoa viva nesse século e vivendo nesse país, ou melhor, nesse planeta, não sofre com a autossabotagem? Ela é como uma droga. A gente sabe que vicia e não deve usar, mas em um momento de fraqueza, quando damos por nós, já nos deixamos levar. Com Asas não é diferente.

Não poderia deixar de falar sobre a sua timidez. Ah, a prisão da timidez. Ela quer – e como quer ­–, mas alguma força maior a impede de falar, se mexer, ou até de escrever. Ouso dizer que também é um tipo de medo, ou até de autossabotagem (ou os dois). Ela sabe que é inteligente e capaz, mas tem sempre aquela voz, que normalmente é a própria voz, colocando uma pulguinha atrás da orelha que faz com que ela paralise.

Como mulher livre que é, sonha com o dia em que vai ser respeitada por isso. Sonha com o dia em que vai poder andar na rua e não ouvir uma frase desagradável vinda de um homem. Sonha com o dia em que vai olhar pros pais e ver aquele mesmo olhar que via antes de ter a coragem de sair do armário. Sonha com o dia em que vai voltar a ter uma boa convivência com a mãe. Sonha com o dia em que vai se formar. Sonha com o fim da pandemia. Sonha com um mundo melhor. Asas de Ícaro é uma verdadeira sonhadora, certa de que vai viver todos os seus sonhos. Ela tem fé. Ela é uma alma livre.

Alice no país das loucuras 

Seja ousada, menina

 Já levou muita porrada da vida. Sua história mais traumática é a liberdade que não consegue ter.

Tantas vezes se calou para não ser criticada, quantas vezes mentiu para não lidar com preconceitos alheios, quantas vezes se blindou por medo de se expor.

Mas tudo tem um custo.

E, de tanto se segurar, por medo de não ser aceita, desenvolveu ansiedade.

Só de pensar em falar a sua opinião, a pressão cai. Acho que é por isso que gostou tanto da ideia dos pseudônimos: fala à vontade e ninguém nunca vai saber quem ela é.

Mulher forte e dona de si, sabe seus princípios, mas o medo da sociedade a julgar complica tudo. Acho que o golpe mais baixo que ela sofre é o medo de ser verdadeira com a própria família. Medo de falar o que ela realmente sente- ou quem realmente a faz se sentir viva.

A liberdade é dos ousados. E a ansiedade a impede de ao menos tentar ser. Nos jogos do Flamengo você quase passa mal toda vez que o Vitinho ou o Lincoln toca na bola- tenho certeza de que quase morreu quando ele perdeu o gol contra o Liverpool. Nas aulas, você nunca fala nada. A dúvida guarda para si mesma. E se fizer uma pergunta burra? Nos esportes, é aquela que nem tenta jogar. O medo de não conseguir é maior que o medo de tentar. E na vida, é aquela que pensa muito, tem opiniões para todos os assuntos, mas tem medo de a interpretarem mal.

Mas a liberdade, minha querida, futura amiga e especial Honey Lemon, é de quem tenta. É de quem não pensa na aprovação alheia. É de quem quer ser escutada- e todos a ouviriam.

Uma grande amiga um dia me disse uma frase que ouviu e eu gostaria de compartilhar com você: "Se você soubesse o quão rápido algumas pessoas vão te esquecer quando você morrer, você não estaria deixando de fazer tantas coisas com medo do que os outros vão pensar".

Não sei muito sobre psicologia (cadê a Rihanna pra me ajudar?), mas a ansiedade que você tanto sente por tudo o que você passou- amores perdidos, autossabotagem, traumas, raiva- pode não ter cura, mas pode ser aliviada.

E eu espero de verdade que um dia você seja ousada. Fale para o mundo o que você é, o que você pensa. Todos se curvariam diante de você. E quem sabe um dia possamos ver um jogo do Flamengo juntas?

Só não passa mal por favor.

Ellis Bell

Toda Roja!

 “Somos los de Independiente

De pierna fuerte y templada

Guapos para una jornada

Dignos de un team muy valiente” Hino do Club Atlético Independiente 

Avellaneda, Província de Buenos Aires. Dia 12 de Junho de 2019

Hoje não é um dia comum na cidade de Avellaneda. A cidade está tensa, ninguém consegue trabalhar direito. Não, ninguém importante morreu nem tão pouco ocorreu uma tragédia. Mas, sim, é dia do clássico da cidade: Independiente X Racing disputariam o título do campeonato argentino no Estádio Libertadores da América. Dentre diversas famílias argentinas apaixonadas, a família Martínez não é diferente, o Racing, para eles, é uma religião. Cantam, vibram, torcem e sofrem pela Academia e, nesse domingo, estão todos prontos para ver a grande paixão de perto. Mas, a caçula Iris não é tão fascinada assim pelo time azul da cidade. Viveu seus 20 anos de vida, até então, guardando pra si um amor pelo time vermelho.

No dia anterior ao jogo, Iris não conseguiu dormir. Sozinha na cama com seus pensamentos, imaginava o que iria fazer pra esconder seu amor pelo “rojo”. “Não vou poder gritar gol?”; “E se o Racing ganhar? Vou fingir estar feliz?”. Sonhou, naquela noite, com um diabinho, embora, não conseguisse compreender.

E, então, a família chega ao Estádio. Se posicionam no setor destinado a torcida visitante, a do Racing. Estádio lotado, as torcidas cantavam a plenos pulmões. Momento tenso para Íris, afinal, não poderia transparecer seus sentimentos.  E rola a pelota... está iniciada a final. Aos 44 minutos, a família Martinez explode em alegria, numa cobrança de falta magistral, Marcelo Díaz abre o placar para o Racing e, assim, terminou o primeiro tempo.

Mas, os diabos vermelhos, para fazer jus ao apelido, voltaram para o segundo tempo encapetados. Aos 3 minutos, Sebastian Palácios dribla dois adversários e chuta no canto esquerdo do gol, explodindo de alegria o lado rojo da cidade. Porém, após o gol, o jogo ganhou aspectos de briga, muitas faltas, mas, aos 47 minutos, surgia um herói, o capitão Silvio Romero desempata o jogo para os vermelhos e o juiz encerra a partida. O Independiente, depois de 17 anos, volta a ganhar o campeonato.

A família Martinez chorava muito, mas, Íris Martinez, ao contrário de seus familiares, não chorava de tristeza, mas sim de raiva. Raiva por não ter tido a coragem de gritar, comemorar e se juntar aos seus, a torcida do Independiente. Teve medo. Nunca mais se perdoou por não ter enfrentado seu pai, sua família. Nunca se perdoou por ter recalcado aquele sentimento tão lindo de amor pelo “Rojo”. Queria, naquele momento, gritar, no meio da torcida vermelha, para o mundo inteiro ouvir: “Hurras al Independiente Del pueblo de Avellaneda!” 

O medo é , e continua sendo, o maior inimigo de Íris M.

Vamos, Rojo! Te amo, Independiente!,

Jubiabá

Sonhando acordado

 Eram 3:30 de uma sexta-feira qualquer. Entediado, Modo Anônimo não quis manter-se discreto, assim como seu pseudônimo indica, e O Náufrago foi procurar. Pelo WhatsApp, enviou 5 áudios longos dizendo o quão estava entediado e de como precisava sair para poder respirar um ar mais puro. Náufrago tinha sono leve, por isso não lembrava de muito dos seus sonhos, acordou um pouco irritado, pois sempre deixa claro que não gosta de ser incomodado pela noite, mas respondeu o amigo com a sutileza e educação de sempre. Após algumas trocas de poucas palavras, voltou a dormir, após deixar combinado de se encontrarem pela manhã do dia seguinte.

Chegada mais uma quente manhã no Rio, Modo e Náufrago se encontraram no Maracanã, para correr em torno do estádio. Faziam isso com frequência, afinal, era o esporte favorito de Náufrago, talvez esteja ligado aos momentos em que passou com o pai, eram os que lhe causavam mais alegria, quando pequeno. Modo era muito bom em corridas de tiro curto, como 100 e 200 metros, mas tomava um “baile” em maratonas para o parceiro. Por lá, ficaram 2 horas correndo sem pausas e mais uma vez, o resultado não foi diferente. O Náufrago completou o trajeto primeiro e o amigo teve que pagar seu prêmio: um açaí do “chinês”.

Náufrago estava com um sorriso largo e roxo, enquanto tomava sua refrescante bebida até tocar certa canção no rádio, o qual ressoava pela lanchonete. Era uma balada clássica no piano, a mesma que tocava em seu teclado pensando em seu amor que nunca se consumou. Colocou as mãos na cabeça sentindo dor, assim como sempre faz quando a escuta, porque lembra do “sim” que deveria ter dito naquele dia. Para o colega preocupado, disse apenas que o cérebro fora “congelado” por devorar o açaí. Detestava receber essa atenção. Modo não desconfiou, soltou uma piada sem graça que costumava sempre fazer e da lanchonete saíram.

Competitivo e com calor, Modo não estava nada feliz por perder mais uma disputa. Queria chamar o amigo para a praia nadar, mas sabe que Náufrago não gosta muito do mar, começa a se coçar só de na água do mar encostar, então irem para a piscina em que tinha, onde morava, propôs e o amigo, prontamente aceitou.

Passou-se algum tempo, estava na hora de ir para casa almoçar e estudar para a prova, que teria na semana seguinte. Após mais uma vitória sobre Modo, desta vez nadando, Náufrago saiu alegre do prédio, coisa que não sentia há um bom tempo.

Na calçada oposta para sua casa, encontrou a tal menina. Seu coração parou, mas o dela não. Em uma cena de filme, ela correu até ele e um beijo longo deram, mas como nada que é bom dura muito, ela se foi; estava de mudança para outra cidade.

Sonhando acordado, atravessava a rua “nas nuvens”, relembrando o que acabara de ocorrer, mas sua paixão o deixou cego e surdo. Iria ser atropelado pelo caminhão de mudanças, que continha as tralhas de sua amada. Quando cobrou consciência, era tarde. Náufrago pensou logo no pai, queria saber se finalmente irá conhecê-lo, de fato. Quando o impacto, estava prestes a acontecer...Náufrago acordou.

Eram 4:30 da manhã. Suado e ofegante, quis contar para Modo, sobre seu sonho naquele instante, porém como seus pais lhe ensinaram: nunca faça para os outros o que você não gostaria que fizessem para você. Por isso, deixou para contar na manhã em que se encontrariam.


Modo Anônimo

Elipse e a síndrome de Peter Pan

 Assim como Peter Pan, Elipse vive no seu mundo imaginário. Um mundo em que ela pode ser criança pra sempre, não existem tarefas e responsabilidades da vida adulta.

Elipse tem medo de ir pro mundo real e perceber que é só ela por ela mesma. Tem muito medo de crescer, e por isso, não cresce.

Ela não quer sair do aconchego da mãe ou do afeto do pai. Chorava quando ia pra creche e vai chorar quando for pra faculdade.

Tem medo de qualquer tipo de mudança, e por isso, não muda.

Fica triste porque seu pai não conta mais histórias para ela antes de dormir, não consegue valorizar as palavras simples e cheias de sentimentos de um “boa noite”. Pensa mais nas coisas que vai perder se crescer do que nas coisas que vai ganhar.

Ela falha em diversos aspectos da vida adulta. Sabotou seu primeiro amor, afinal, como conseguiria assumir um relacionamento que exigisse maturidade (coisa que ela tem, mas prefere fingir que não tem).

Ela diz que não merece coisas boas, mas a verdade é que ela não da uma chance pras coisas boas. Não da uma chance pro desconhecido, afinal, já desvendou o conhecido, e fez isso com êxito. Se foi a criança perfeita, porque não continuar sendo? Melhor que uma adulta imperfeita.

Suas inseguranças coordenam suas ações, e sempre vencem a luta contra ela. Não a deixam sair da zona de conforto.

Pensa sempre no lado negativo de tudo, não enxerga o lado bom. Ela já se imaginou como adulta diversas vezes, mas nunca quis chegar lá, hoje com seus 20 anos ainda finge ter a mesma realidade dos 10.

Tem medo da rejeição, de não ser o que os outros esperam. Foge dos horrores da vida adulta, mas perde os prazeres da mesma. A liberdade que tanto já cobiçou é tão inalcançável, prefere ficar com a proteção de seus pais.

Tem tanto medo de não ser o que os outros esperavam que esqueceu da única pessoa que não pode decepcionar, si mesma.

Eu te garanto elipse, você só precisa olhar pra si mesma e enxergar a mulher que quis ser deixada sozinha na terra se fosse pra ter paz e não a criança que não consegue lavar a louça sem chorar. Você é boa e merece coisas boas, merece coisas incríveis. Queria que pudesse se enxergar com os olhos daqueles que te amam, aposto que não se maltrataria assim.

Se deixe crescer e evoluir, Elipse, o mundo assusta, mas você da conta dele, eu te garanto. Não seja o Peter Pan, seja o Capitão Gancho, enfrente o mundo, seja forte, lute pelo o que deseja, só cuidado para não cair nas tentações do mundo cruel como ele caiu.

Letra X do alfabeto

Um pouco mais sobre esse Carioca

 Levanta cedo, acorda num pulo. Apanha suas havaianas, debaixo da cama, e olha para janela. Imediatamente, uma grande angustia dilacera seu peito, não sabe bem o motivo. De seu quarto, avista crianças brincando de bola na calçada, junto a sons de buzinas de carro escutadas ao longe. A Cidade maravilhosa mais uma vez acordava. Lembra que havia sonhado com uma bola de futebol caindo sobre escadas escuras, não entende muito o motivo, mas se recorda de seu amigo de infância Rodrigo, das tardes em que brincavam juntos. Droga! Aquelas sensações novamente batem à porta: uma incompreensão, uma revolta, uma tristeza, ele tentava tanto evitá-las de vir à tona.

Sentir, se torna doloroso demais.

Rapidamente fecha as cortinas da janela e procura invadir sua cabeça com outros afazeres, evitando sempre a todo custo se lembrar. Decide ligar a televisão. Está mostrando os resultados das partidas do brasileirão. Se interessa, e com isso, consegue o que quer: acaba caindo no esquecimento o que havia sentido naquela manhã.

O sol já está se pondo, senta-se confortável com um copo de café com leite em uma das mãos.

Preparado, se veste de uma outra persona para escrever: agora mais séria, dedicada, pronta para nos mostrar através de palavras, tão minuciosas, suas diversas experiências passadas. Espera que seus leitores se sintam imersos, procura transmitir um pouco desse amor que tem pela sua cidade, pelo seu time e pela vida.

Termina com sucesso seu texto, estica as pernas e aproveita para relaxar. Passeia na orla da praia de Copacabana. Olha ao seu redor, e vê uma roda de samba. Sente uma imensa raiva. É revoltante ver o descaso de tantos frente a atual situação de pandemia. Lembra, com preocupação, de sua vó Maria.

Volta para sua casa, se deita e adormece. Acorda com o som do telefone tocando. Era uma mulher. Se lembra dela com carinho, mas de repente seus pensamentos caem sobre seu antigo amor. Que irritante. Não perde tempo, e faz questão de enumerar diversos defeitos nela, afastando os pensamentos, anteriores, carinhosos. Com isso, se acalma. Sente que seu coração está seguro assim. Ainda não está pronto para se entregar sem medo, não se sente pronto para um novo relacionamento. Mas quem sabe, mais para frente, ele se permita.

Esse texto foi escrito tentando imitar a forma de escrever do Rato, dando mais detalhes e uma tentativa de me aproximar da sua escrita e por conseguinte, tentar entender, de forma mais profunda, a sua persona. Ao longo do texto, tentei abordar os seguintes temas por mim observados respectivamente: deslocamento, conteúdo recalcado, persona e autossabotagem. Espero ter conseguido com minha análise, alcançar um pouco do seu inconsciente.

Íris M

Conhecidíssima como a noite de Paris

 Tessa Grey, que com a licença de Leona, defino parafraseando o seu monologo: é a mulher mais falada, a menina jamais igualada.

Não é à toa que Tessa tenha sido a mais cotada para ter sido utilizada como referência na tarefa anterior.

Tessa escreve bonito. Talvez porque a sua escrita reflita o que lhe vem de dentro.

Apesar de ter sido criada no que me parece um lar um tanto quanto conservador, Tessa se sobressaiu e conseguiu criar as suas opiniões e convicções por si só.

Talvez porque o ambiente no qual cresceu não tenha sido de seu agrado em alguns aspectos, o seu subconsciente a tenha feito desenvolver uma realidade quase que paralela, a fim de tornar a sua vivência mais maleável. Por essa razão Tessa tem uma imaginação bastante fluida, que com o mais leve incentivo da distração, a faz embarcar no primeiro trem que passar e assim, viajar para longe...

O seu hábito de leitura com certeza impulsiona a expansão constante desse universo interno.

Diz Freud que “o ser humano não é dono nem na sua própria casa”, mas Freud nunca conheceu Tessa, e nesse universo ela manda e desmanda.

Suas viagens e os sentimentos por elas despertados, criam em Tessa a necessidade de serem externalizados de alguma forma, e é por isso que talvez os seus hobbies mais veementes envolvam desenho e pintura.

Para Freud, sublimação; para Aristóteles, catarse; para Tessa, necessidade.


Paty Maionese