quinta-feira, 1 de abril de 2021

Sonhando acordado

 Eram 3:30 de uma sexta-feira qualquer. Entediado, Modo Anônimo não quis manter-se discreto, assim como seu pseudônimo indica, e O Náufrago foi procurar. Pelo WhatsApp, enviou 5 áudios longos dizendo o quão estava entediado e de como precisava sair para poder respirar um ar mais puro. Náufrago tinha sono leve, por isso não lembrava de muito dos seus sonhos, acordou um pouco irritado, pois sempre deixa claro que não gosta de ser incomodado pela noite, mas respondeu o amigo com a sutileza e educação de sempre. Após algumas trocas de poucas palavras, voltou a dormir, após deixar combinado de se encontrarem pela manhã do dia seguinte.

Chegada mais uma quente manhã no Rio, Modo e Náufrago se encontraram no Maracanã, para correr em torno do estádio. Faziam isso com frequência, afinal, era o esporte favorito de Náufrago, talvez esteja ligado aos momentos em que passou com o pai, eram os que lhe causavam mais alegria, quando pequeno. Modo era muito bom em corridas de tiro curto, como 100 e 200 metros, mas tomava um “baile” em maratonas para o parceiro. Por lá, ficaram 2 horas correndo sem pausas e mais uma vez, o resultado não foi diferente. O Náufrago completou o trajeto primeiro e o amigo teve que pagar seu prêmio: um açaí do “chinês”.

Náufrago estava com um sorriso largo e roxo, enquanto tomava sua refrescante bebida até tocar certa canção no rádio, o qual ressoava pela lanchonete. Era uma balada clássica no piano, a mesma que tocava em seu teclado pensando em seu amor que nunca se consumou. Colocou as mãos na cabeça sentindo dor, assim como sempre faz quando a escuta, porque lembra do “sim” que deveria ter dito naquele dia. Para o colega preocupado, disse apenas que o cérebro fora “congelado” por devorar o açaí. Detestava receber essa atenção. Modo não desconfiou, soltou uma piada sem graça que costumava sempre fazer e da lanchonete saíram.

Competitivo e com calor, Modo não estava nada feliz por perder mais uma disputa. Queria chamar o amigo para a praia nadar, mas sabe que Náufrago não gosta muito do mar, começa a se coçar só de na água do mar encostar, então irem para a piscina em que tinha, onde morava, propôs e o amigo, prontamente aceitou.

Passou-se algum tempo, estava na hora de ir para casa almoçar e estudar para a prova, que teria na semana seguinte. Após mais uma vitória sobre Modo, desta vez nadando, Náufrago saiu alegre do prédio, coisa que não sentia há um bom tempo.

Na calçada oposta para sua casa, encontrou a tal menina. Seu coração parou, mas o dela não. Em uma cena de filme, ela correu até ele e um beijo longo deram, mas como nada que é bom dura muito, ela se foi; estava de mudança para outra cidade.

Sonhando acordado, atravessava a rua “nas nuvens”, relembrando o que acabara de ocorrer, mas sua paixão o deixou cego e surdo. Iria ser atropelado pelo caminhão de mudanças, que continha as tralhas de sua amada. Quando cobrou consciência, era tarde. Náufrago pensou logo no pai, queria saber se finalmente irá conhecê-lo, de fato. Quando o impacto, estava prestes a acontecer...Náufrago acordou.

Eram 4:30 da manhã. Suado e ofegante, quis contar para Modo, sobre seu sonho naquele instante, porém como seus pais lhe ensinaram: nunca faça para os outros o que você não gostaria que fizessem para você. Por isso, deixou para contar na manhã em que se encontrariam.


Modo Anônimo

15 comentários:

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    1. Muito obrigado, amigo. Acho que poderia ter melhorado em algumas coisas, mas o resultado final foi bom, ao meu ver.

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  2. Nossa, Modo, amei! Final surpreendente! Não sei se foi proposital, mas eu já li que quando a gente acorda de algum sonho que estamos prestes a morrer é porque de fato morremos no sonho, só que nossa mente não sabe o que acontece depois da morte, então a gente acorda (mas não sei se é verdade kkkkkkk)
    Enfim, adorei seu texto! Muito bom mesmo!!

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    1. Hahahaha eu sempre achei que nós acordamos, justamente porque nossa morte representa a morte do sonho. Que bom que gostou, Ellis. Fico muito feliz :)

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  3. Incrível, Modo! Mais um excelente texto seu! O final é surpreendente, mas o que mais me chamou atenção foi a forma que você escolheu pra desenvolver a narrativa, criando essa amizade entre você e Naufrágo.

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  4. Gostei muito, Modo! Adorei o modo como falou de uma amizade entre você e o Náufrago, mas o final foi realmente o mais surpreendente. Parabéns!!

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  5. Oi, Modo! Adorei o texto, muito criativo! Acho que poderia ter se aprofundado um pouco mais nos sentimentos do naufrago mas amei mesmo assim! Parabéns!

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    1. Trabalhei isso, indiretamente, através do sonho. Mas concordo que poderia ter feito um pouco mais. Obrigado pelo comentário, Letra x. s2

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  6. Modo, amei o texto! Gostei da narrativa sob a sua amizade com o Náufrago e achei muito criativa a forma como abordou algumas neuroses dentro do sonho. A metáfora do caminhão foi muito inteligente. O Náufrago não gostar de mar foi o ponto chave rs. Parabéns!

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  7. Achei muito interessante a interação entre os personagens, muito criativo.

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  8. Modo, a amizade dos pseudônimos foi algo muito interessante de ler! Achei o final muito bom e surpreendente, parabéns pelo texto!

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  9. Modo, gostei do texto! Sonhos sempre dão uma reviravolta ao fim dos textos. Fiquei lembrando da aula do professor esse tema. Durante a narrativa, percebi que você passou por diversas ambientações e eu acho que super combina com o universo caótico dos sonhos!
    Parabéns! Mil beijinhos <3

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  10. Modo, gostei bastante do seu texto, me levando a pensar que tudo estava realmente acontecendo mas era apenas mais um sonho e nisso foram os seus atos falhos, medos, neuroses,... os sonhos podem mesmo ser uma boa válvula de escape!

    Beijos, Estrela!

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