Saí atordoada daquela sessão de análise. E me sentia analisada no sentido mais puro da
palavra. Apesar do tom manso da analista e da sua clara boa vontade, era impossível
não sentir que minha vida agora era uma obra sujeita à analises, resenhas e críticas.
Pensei se deveria voltar para uma próxima sessão. Pensei que eu não estava em
condições raciocinar. Pensei que deveria ligar para minha amiga Diana, e foi isso que
fiz. Diana entende de psicologia e tem o melhores conselhos, ela vai saber porque me
sinto assim.
- Maria! Que foi? – direta. Ela não faria rodeios para me ajudar.
- Lembra que eu te disse que ia na psicanalista essa semana? Primeira sessão... Pois é,
amiga... Acabei de sair da sessão, mas não sinto que esteja tudo bem. – desabafei.
- Hum... Me fala mais sobre isso, porque não está certo? – minha amiga estava
oficialmente analisando minha sessão de análise.
- Não sei... Eu sinto que ela tirava conclusões sobre tudo que eu dizia e lia minhas
sensações antes mesmo de eu externa-las. – continuei a falar minhas percepções
- EU JÁ ENTENDI TUDO! A analista te deixou desconfortável por te ler tão bem e de
forma tão rápida por causa do que a psicanalise chama de “contratransferência”.
O silencio do meu lado da linha foi suficiente para que Diana continuasse sua
explicação:
- Resumidamente, ela consegue expor seus dilemas e dores de forma tão fácil por viver
com dilemas e dores semelhantes. Me fala um pouco mais do que você externou pra eu
poder te explicar melhor. – ela pediu com a melhor das intenções
- Bem, eu falei da minha relação com meu irmão, de como lido com essa questão, as
minhas inseguranças em amizades e relacionamentos... Até daquela música da Taylor
Swift que nós dançávamos na piscina no verão de 2014. – resumi minha consulta.
- Se eu tenho razão e você pode saber que eu tenho, ela anotou no bloquinho que você
tem trauma causado pelo abandono dos seus pais por causa do seu irmão e que isso
afeta a sua forma de aceitar amor atualmente. A música da Taylor Swift serviu como
prova para sua indisponibilidade emocional e necessidade de validação. – ela disse
casualmente, e deu um tapa simbólico na minha cara (que entende tão mal a psicologia).
- Aposto com você que ela também sofre com abandono parental e tem sequelas desse
trauma na forma de se relacionar... Talvez não seja se autossabotando em
relacionamentos ou desassociando acontecimentos da infância, mas ela tem psicoses e
neuroses muito semelhantes às suas. Provavelmente tem pais, que assim como a Tia
Maria Teresa e o Tio Francisco, esperam muito dela mas não dão o suporte emocional
que ela precisa para atingir todo o seu potencial; também poderia dizer que tem poucos
amigos com que ela realmente sente uma conexão daquelas sem desconforto ou
incomodo. Mas você sabe, não dá pra dizer 100%... eu não conheço a moça. – Diana
finalizou.
A ligação acabou, a semana passou, mais uma sessão de terapia de aproximava. E eu
sabia que precisava comparecer. Tessa não era bondosa enquanto me criticava, ela era
profissional mesmo quando se via dentro dos meus problemas e questões.
Maria Antonieta
Uau, Maria! Perfeito seu texto! Gostei de ter dado continuidade à narrativa da Tessa, ficou muito criativo. Minha crônica preferida da vez. Parabéns!
ResponderExcluirTexto perfeito , Maria. Narrativa impecável.
ResponderExcluirMaria, eu gostei muito do texto! Como a Elipse disse, eu adorei que a gente pode ver um "depois" da consulta. Achei uma sacada muito boa.
ResponderExcluirSua amiga Diana sabe das coisas, não? Eu realmente sinto ou sentia muito do que escrevi no meu texto sobre você. Por isso, foi relativamente "fácil" identificar sentimentos comuns - lembrando que não sou psicóloga e eu posso não ter acertado tudo.
Espero que nossa próxima consulta seja menos fria, talvez com um pouco mais de tempo isso melhore!
Parabéns! Milhares de beijos e abraços <3
P.S.: Maria, minha intenção não era parecer uma crítica. Se pareceu, por favor, me desculpe. Era para dar um ar mais de consultório mesmo. Como você apontou, eu também me vejo em muito do que escrevi.
Maria, seu texto está incrível! A ideia de continuar a narrativa da Tessa foi muito bem executada! Adorei as referências monárquicas também, super dentro do seu universo rsrs. Parabéns!
ResponderExcluirOi, Maria! Ameiiiiii seu texto, muito legal a narrativa e a forma que leu a Tessa! Parabéns!
ResponderExcluirAdorei seu texto, Maria! Adorei as referências também (apesar de não saber se eu entendi tudo...). A ideia de continuar na mesma narrativa foi uma sacada incrível! Parabéns!!!!!
ResponderExcluirMaria Antonieta, adorei a sua escrita! Realmente essa ideia de dar continuidade a história após a primeira consulta foi genial. Só achei que você poderia ter aprofundado um pouco mais as neuroses, psicoses, atos falhos... da Tessa, mas tirando isso ficou perfeito!
ResponderExcluirBeijos, Estrela!
Maria, mais um texto impecável seu. Você é muito boa escritora. A ideia do pós-consulta foi genial.
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