quinta-feira, 8 de abril de 2021

" Após a conversa com a feiticeira americana"

 Saí atordoada daquela sessão de análise. E me sentia analisada no sentido mais puro da

palavra. Apesar do tom manso da analista e da sua clara boa vontade, era impossível

não sentir que minha vida agora era uma obra sujeita à analises, resenhas e críticas.

Pensei se deveria voltar para uma próxima sessão. Pensei que eu não estava em

condições raciocinar. Pensei que deveria ligar para minha amiga Diana, e foi isso que

fiz. Diana entende de psicologia e tem o melhores conselhos, ela vai saber porque me

sinto assim.

- Maria! Que foi? – direta. Ela não faria rodeios para me ajudar.

- Lembra que eu te disse que ia na psicanalista essa semana? Primeira sessão... Pois é,

amiga... Acabei de sair da sessão, mas não sinto que esteja tudo bem. – desabafei.

- Hum... Me fala mais sobre isso, porque não está certo? – minha amiga estava

oficialmente analisando minha sessão de análise.

- Não sei... Eu sinto que ela tirava conclusões sobre tudo que eu dizia e lia minhas

sensações antes mesmo de eu externa-las. – continuei a falar minhas percepções

- EU JÁ ENTENDI TUDO! A analista te deixou desconfortável por te ler tão bem e de

forma tão rápida por causa do que a psicanalise chama de “contratransferência”.

O silencio do meu lado da linha foi suficiente para que Diana continuasse sua

explicação:

- Resumidamente, ela consegue expor seus dilemas e dores de forma tão fácil por viver

com dilemas e dores semelhantes. Me fala um pouco mais do que você externou pra eu

poder te explicar melhor. – ela pediu com a melhor das intenções

- Bem, eu falei da minha relação com meu irmão, de como lido com essa questão, as

minhas inseguranças em amizades e relacionamentos... Até daquela música da Taylor

Swift que nós dançávamos na piscina no verão de 2014. – resumi minha consulta.

- Se eu tenho razão e você pode saber que eu tenho, ela anotou no bloquinho que você

tem trauma causado pelo abandono dos seus pais por causa do seu irmão e que isso

afeta a sua forma de aceitar amor atualmente. A música da Taylor Swift serviu como

prova para sua indisponibilidade emocional e necessidade de validação. – ela disse

casualmente, e deu um tapa simbólico na minha cara (que entende tão mal a psicologia).

- Aposto com você que ela também sofre com abandono parental e tem sequelas desse

trauma na forma de se relacionar... Talvez não seja se autossabotando em

relacionamentos ou desassociando acontecimentos da infância, mas ela tem psicoses e

neuroses muito semelhantes às suas. Provavelmente tem pais, que assim como a Tia

Maria Teresa e o Tio Francisco, esperam muito dela mas não dão o suporte emocional

que ela precisa para atingir todo o seu potencial; também poderia dizer que tem poucos

amigos com que ela realmente sente uma conexão daquelas sem desconforto ou

incomodo. Mas você sabe, não dá pra dizer 100%... eu não conheço a moça. – Diana

finalizou.


A ligação acabou, a semana passou, mais uma sessão de terapia de aproximava. E eu

sabia que precisava comparecer. Tessa não era bondosa enquanto me criticava, ela era

profissional mesmo quando se via dentro dos meus problemas e questões.


Maria Antonieta 

8 comentários:

  1. Uau, Maria! Perfeito seu texto! Gostei de ter dado continuidade à narrativa da Tessa, ficou muito criativo. Minha crônica preferida da vez. Parabéns!

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  2. Texto perfeito , Maria. Narrativa impecável.

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  3. Maria, eu gostei muito do texto! Como a Elipse disse, eu adorei que a gente pode ver um "depois" da consulta. Achei uma sacada muito boa.
    Sua amiga Diana sabe das coisas, não? Eu realmente sinto ou sentia muito do que escrevi no meu texto sobre você. Por isso, foi relativamente "fácil" identificar sentimentos comuns - lembrando que não sou psicóloga e eu posso não ter acertado tudo.
    Espero que nossa próxima consulta seja menos fria, talvez com um pouco mais de tempo isso melhore!
    Parabéns! Milhares de beijos e abraços <3
    P.S.: Maria, minha intenção não era parecer uma crítica. Se pareceu, por favor, me desculpe. Era para dar um ar mais de consultório mesmo. Como você apontou, eu também me vejo em muito do que escrevi.

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  4. Maria, seu texto está incrível! A ideia de continuar a narrativa da Tessa foi muito bem executada! Adorei as referências monárquicas também, super dentro do seu universo rsrs. Parabéns!

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  5. Oi, Maria! Ameiiiiii seu texto, muito legal a narrativa e a forma que leu a Tessa! Parabéns!

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  6. Adorei seu texto, Maria! Adorei as referências também (apesar de não saber se eu entendi tudo...). A ideia de continuar na mesma narrativa foi uma sacada incrível! Parabéns!!!!!

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  7. Maria Antonieta, adorei a sua escrita! Realmente essa ideia de dar continuidade a história após a primeira consulta foi genial. Só achei que você poderia ter aprofundado um pouco mais as neuroses, psicoses, atos falhos... da Tessa, mas tirando isso ficou perfeito!

    Beijos, Estrela!

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  8. Maria, mais um texto impecável seu. Você é muito boa escritora. A ideia do pós-consulta foi genial.

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