Cabeça aos pés vestido de preto. Estou de luto e não é por
uma morte física, mas sim por uma emocional e acredito que essa última seja
pior. Não escrevo sobre um grande amor, ou uma paixonite aguda. Escrevo sobre
um amigo, na verdade meu melhor amigo – ou costumava ser.
Em todos os momentos, bons ou ruins, eu estava lá, pra
dividir alegria e diminuir a tristeza, mas o que fazer quando essa iniciativa
parte só de você?
Não estou escrevendo sobre um amor, apesar de que para que
uma amizade exista esse sentimento seja fundamental. Um amigo é uma pessoa que
você escolhe entre outras milhões para compartilhar uma vida... mas,
infelizmente, como toda vida, a amizade possui um limite, um fim, algumas duram
50, 60 anos, outras morrem precocemente. E ninguém pensa que justamente a
pessoa que você escolheu a dedo vai te destruir por inteiro.
Amigos desde os 11 anos e nenhuma foto para lembrança,
recordação agora só na mente. Problemático. A mente vai esquecendo momentos, ou
pior, substituindo pelo que ela julga “mais importante, mais relevante” e,
depois de alguns anos, a amizade que era eterna vai se tornar irrelevante.
Diria que nossa amizade foi enterrada em cova rasa, para que
ainda haja uma chance dela lutar para sair do purgatório. Mas, cada vez que o
“e aí, que cara é essa, tá sentindo o que?” vira apenas um “oi, tudo bom?” a
cova fica mais funda e não há chance de ressureição.
Quem sabe um dia, alguns dos dois, põe o orgulho de lado e
toma a iniciativa pra perguntar o que houve de errado. Mas não, enquanto isso
preenchemos o vazio com pessoas vazias de significado, apenas para aparentar
que a vida segue seu caminho e nos separamos por acaso.
Está tudo ótimo, ou pelo menos fingimos muito bem, eu sei
que estou fingindo, e você? Fingindo, seguindo ou fugindo?
Abravanel Marinho
Bom... Essa crônica mexeu muito comigo! Passei por uma situação parecida há um ano atrás e até hoje é algo que me balança muito. Não sei se é algo que realmente você passou, mas conseguiu se expressar muito bem e usou as palavras de maneira muito boa, fazendo trocadilhos com algumas expressões que se encaixaram muito bem! Conseguiu fazer em uma ordem mais ou menos cronológica o que facilita muito o entendimento do leitor. Fora que o último parágrafo foi bem impactante e fechou a crônica com chave de ouro.
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