As vezes sinto que estou desperdiçando a vida.
Todos os dias levanto, trato de lidar com a rotina em casa e vou para
rua. A rotina da rua também não me acalma. Um dia me falaram que estamos
o tempo todo em movimento e o que fica parado na verdade fica pra trás.
Não sei o que é pior. Todo dia pessoas diferentes estão muito ocupadas
correndo com os afazeres de suas vidas praticamente iguais. São pessoas
praticamente iguais, trabalhando em apinhados de concreto,
ares-condicionados e arquitetura pretensiosa, praticamente iguais. Mesmo
se movendo elas também não estão indo para lugar nenhum. O dia passa e a
rotina esmaga.
No final da tarde, as aulas
acabam, todos estão cansados da mesma forma. Todos querem abrir uma
fresta na cortina do cotidiano, fazer parecer que o dia valeu a pena. O
convite pro barzinho e a solidão segue acompanhada. As pessoas conversam
entre si, os assuntos não se aprofundam e mudam com rapidez
vertiginosa. Tenho a impressão que ninguém tá prestando atenção de
verdade. Sigo calada.
A noite se aprofunda, porém
só nas horas. O convite pro bar vira um convite pra casa. Por que não?
Todos aparentemente também seguiram o mesmo script. Pessoas praticamente
iguais. O cenário muda, a casa é mais quente mas igualmente vazia. A
noite passa, o sexo passa. A vida passa. No outro dia trato de lidar com
a rotina em uma casa diferente e vou para a rua.
Dessa
vez as pessoas andam mais devagar, estão quase todas acompanhadas, é
sábado. O dia livre também se parece bastante com todos os outros dias
livres, os mesmos passeios, as mesmas formas de diversão. Todos querem
fazer parecer que o dia livre valeu a pena. Chego em casa e não tem
ninguém. Tento fazer alguma coisa que eu goste mas não lembro quais são a
muito tempo. Na verdade eu sei que estou apenas procrastinando os
afazeres da faculdade mas eu também quero tentar fazer o dia livre
contar. Ligo pra ele. Fazemos - na verdade ele faz - o almoço, comemos,
conversamos alguma coisa sobre o que falo nessa crônica. O dia passa, o
sexo passa. Durmo porque estou cansada, cansada a tanto tempo que nem
sei. Em algum momento penso que tenho que ir embora mas lembro que estou
na minha casa. Suspiro, acho que não vou ligar pra ele amanhã e já não
quero nem imaginar o fardo do domingo chegando. Sinto que estou
desperdiçando a vida.
Perséfone Reis
Nenhum comentário:
Postar um comentário