sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Corra!

Você já se sentiu um intruso? Não só de um lugar ou ocasião, mas da vida. Como se sua existência fosse dispensável, como se você não estivesse realmente vivo.
A visão fica turva, o coração bate mais forte e vem o desespero. Ah, o desespero. Parece que nada mais importa e nada mais te diz respeito, você não está lá. Nunca esteve. O terror, o pessimismo; tudo sem motivo, tudo de surpresa. Surge do nada mas te faz querer rasgar cada centímetro da sua pele. É como se você tivesse caído de paraquedas em uma realidade que não é sua.
É sensação forte o suficiente pra te fazer querer parar de sentir. E você sabe como é ruim não sentir. São todas as emoções do mundo dentro de você e você não sabe lidar com nenhuma delas. É a dor que você não pode controlar, mas que faz questão de te visitar. Você não sabe onde está, nem o que aconteceu, mas sabe que não vai aguentar. Seu quarto não se parece seu quarto, seu namorado não se parece com seu namorado, suas preocupações não são, de fato, suas.
É como se tudo que te faz bem tivesse sumido. Você sabe que não tem mais nada, porque você agora é o nada, que é o tudo também. Você é o emaranhado daquilo que você mesma nunca pôde suportar. Tudo que um dia você negligenciou: cada tristeza, cada mágoa, cada frustração. É o tudo te inundando e te puxando para todos os lados. A existência te cobrando todas as vezes que você ousou se afastar da realidade. 
E não adianta pedir que pare, não adianta se agarrar no seu mais amado ser, nada vai fazer isso parar. Só o tempo. O tempo que nunca passa e faz com que você conte cada segundo na sua cabeça enquanto você só sabe sentir. Dor. Os afagos e as palavras não surtem mais efeito e você afunda cada vez mais. Um buraco negro dentro de você. Onde você mesma se enfiou. E, no final, parece que nada aconteceu, porque você foi o nada. Mas agora você é você de novo.
Até a próxima.
 
Sylvia Plath

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