Acabou de
acabar
Sentia-me bem falando
pra ela que meu trabalho era a coisa mais insuportável do mundo. E sabia que o
gelo que sondava nossos vínculos era o que me abastecia. Eu esperava ela chegar
do curso e ela não me esperava. Nunca. Foi quando um e-mail ou algo do tipo me
mandou sair e tomar uma posição e decidir por mim e fim.
Acabava.
Estranhamente
acabamos com o que não começamos e desistimos antes mesmo de saber o que era.
Não somos, nem fomos. Pensávamos em ser, talvez. Era claro que eu estava muito
bem e ela também e ninguém estava ótimo. Porque não começamos a tentar ser. Era
simplesmente uma forma de sentir falta de algo não existente, de uma dor
insegura, de uma infantilidade chula.
Refutava.
Nos domingos não era
mais que conversa, nas festas éramos fumaça. Lembro-me de ser o cigarro que
passava pra ela a nuvem branca e me perdia. Nos perdemos e não estávamos, como
não estamos agora. Partidos, éramos bons partidos que se quebraram e a cola
ninguém vê. Ninguém viu, até agora. Sinto falta das conversas em que não mostrávamos
sentimentos até perder os sentidos e dizer eu te amo.
Niilistas.
Num domingo tentei
evoluir, ela sumiu. Não era mais ela e eu queria deixar de ser o mesmo. Peguei
umas trouxas com uns trocados e deixei a água fria do mar me chamar de longe.
Partido.
Sinto-me vazio agora.
O preenchimento poderia vir dela, ou dele. Deles. Apartado, sei que saudade é
espaço aberto num campo. E nesse campo vazio é possível sentir aroma de flor
sem ela crescer por aqui. Nos sábados não mais a encontro, e nossos silêncios
agora são os meus. Talvez ela precisasse ser o fim que eu precisava para o
começar a ser, ou deixar de ser. Arte começa com fins, ou começos.
E agora:
Recomeço.
Oliver Fagundes
As palavras isoladas foram uma boa estratégia, pois deram ritmo a leitura do texto
ResponderExcluirnão sei dizer muito bem porquê, mas gostei mt desse texto. e ficou visualmente lindo/mt legal a estrutura. Além de essas palavras isoladas darem ritmo, como falaram ali em cima
ResponderExcluirPrecisei ler duas vezes pra entender a mensagem. Mas acho que isso é bom, mostra que é um texto profundo e bem escrito!
ResponderExcluirTexto bastante poético. MT bom os recursos visuais utilizados cm verbos no passado (acabava/refutava/partido) e, a utilização de metáforas bem fortes, como o domingo. Assim como o uso de antiteses conferiu ao texto jogos e palavras bem interessante, a ao meu ver, é um texto perene. Parabéns!!!
ResponderExcluirTexto muito bem escrito e mais complexo. O que mais gostei foi o uso dos verbos mostrando a relação que os dois possuíam (ou não). Parabéns.
ResponderExcluirAmei o jeito da escrita, como você utilizou os verbos no passado. E como foi profundo e tocante, e remete o leitor a lembranças das suas proprias separações. Vc usou uma sepração cliche, e transformou em algo triste e lindo. Parabéns
ResponderExcluirBom ritmo, muito bem escrito, ficou um texto muito bom.
ResponderExcluirMe prendeu bem, não foi muito elaborado, foi leve e bom de ler. Bem reflexivo
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