Caminho em preto e branco

Sigo tentando corrigir o que fiz de errado, assumindo a culpa por algo que não tenho certeza se realmente fiz, lutando constantemente para não me comparar aos que agora experimentam sua companhia, seu toque, seus afagos. Tentando não pensar o pior de mim, já que, por muito tempo, precisarei conviver com a imagem do espelho.

Sigo caminhando errante pelas ruas da cidade, sob o véu silencioso da noite, como um criminoso foragido, que conserva sua liberdade, mas que é obrigado a abdicar de seu lar e do colo dos entes queridos. Alguém que volta ao banco da praça, observando o cenário colorido agora em preto e branco, recordando-se das tardes felizes compartilhadas no apartamento do lado da igreja, mas sempre esgueirando-se, receoso de que seja descoberto por alguém que na verdade não o está procurando.

Sigo ouvindo dos amigos que é coisa pouca, que depois isso passa, e finjo, na mesa de bar, que isso é tema superado. Mas a cada gole da bebida, aos olhares mais atentos, perigo deixar cair uma lágrima ou duas ao escutar um violão desconhecido tocando aquela música, da qual cada timbre traz à tona uma lembrança que, por ora, eu deveria esquecer.

Sigo angustiado ao olhar para o lugar vazio na cama na manhã de domingo e lembrar da nossa preguiça e dos beijos de café, sem açúcar, como ela gostava. Assustado, com a presença das estranhas com as quais vez ou outra compartilho o lençol na noite anterior, numa relação construída com álcool, cigarros e sentimentos confusos.

Sigo procurando ela em outros sorrisos, olhares, corpos, em busca de semelhanças pelas quais me apaixono, mas que no fundo sei serem apenas uma amostra do que já tive. Tentando, antes de tudo, me encontrar novamente, mesmo sem saber quanto tempo isso vai levar.

Sigo.

January Blues