Te ver, te ter
Quando te vi pela primeira vez, sua saia
rodopiava no ritmo do balanço no qual você balançava. Quando te vi pela
primeira vez, você sorria como se nada pudesse tirar aquela alegria de você.
Quando te vi pela primeira vez, seus olhos brilhavam de um jeito que me fez
arrepiar toda. Quando te vi pela primeira vez... você me viu pela primeira vez.
Quando te vi pela segunda vez, você me falava que era bailarina e iria dançar
na Europa no próximo verão, mas que isso partia seu coração de certo modo pois
você dava aula na pré-escola do seu bairro e teria de deixar as criancinhas.
Quando te vi pela terceira vez, você dançava para mim na varanda de casa e
sorria como daquela vez no balanço. Quando te vi pela quinquagésima vez, estava
te vendo dançar da plateia daquele teatro em Londres, do qual eu nem me lembro
o nome ou da arquitetura pois tudo que eu conseguia prestar atenção foi no
quanto você dançava maravilhosamente bem.
Quando te vi pela septuagésima vez, eu estava
de joelhos e você dizia sim. Quando te vi pela septuagésima vez, você me fazia
a mulher mais feliz do mundo. Quando te vi pela septuagésima vez, você sorriu
para mim como da primeira vez, você foi feliz como da segunda e dançou como da
terceira. Quando te vi pela septuagésima vez, seu amor me inundou por inteira e
eu te amei mais do que nunca. Quando eu te vi pela septuagésima primeira vez,
você estava nos meus braços, sem vida, deixada no meio da rua por um motorista
que avançou o sinal vermelho. Homens de branco te levaram de mim e te puseram
numa ambulância. Quando te vi pela septuagésima primeira vez, o homem que
avançou o sinal, os homens de branco, a ambulância com seu barulho irritante...
todos eles te levaram de mim.
Quando te vi pela última vez, você não sorria e
nem dançava mais. Não chorava e nem me pedia por café na cama fazendo beicinho.
Você não falava mais de saudade ou das fotos que eu tirei você. Quando te vi
pela última vez, você se foi. Para dentro de um buraco onde poderia muito bem
ser o meu coração.
Quando te vi pela última vez, eu vi também a minha morte pela primeira.
Afrodite
Lindo texto! Estratégia narrativa das repetições deixou ele ainda mais impactante. Teve empatia e humanizou o relato do atropelamento da mulher, evitando os definidores primários.
ResponderExcluirSensacional!! Não tenho do que reclamar, maravilhoso o texto.. Soube usar muito bem as repetições mesmo
ResponderExcluirAs repetições trouxeram dinâmica ao texto. Parabéns!
ResponderExcluir-CHOREI-
ResponderExcluirLindo texto, dinâmico e fácil de ler. Exerceu sutilmente e poéticamente a cidadania ao abordar o tema do cuidado ao volante. Simplesmente adorei!! Quero ler mais coisa sua!
Cara, muito bom! Me deu arrepios o final. O jeito como você escreveu, senti uma vibe meio 500 dias com ela.
ResponderExcluirTexto sensacional e bem delicado. Gostei de como exerceu a cidadania de um modo intuitivo e lírico. As repetições foram mt bem exploradas e gostei das descrições "fotograficas" do texto. Parabéns!!!!
ResponderExcluirVcs estão muito sentimentais e acabando com meu emocional com esses textos. Super atual, textos como esse sao comuns todos os dias em relação as tragédias. bom bom
ResponderExcluirachei legal o tema e a reflexão que ele traz, mas também achei cansativa a repetição das palavras.
ResponderExcluirachei legal o tema e a reflexão que ele traz, mas também achei cansativa a repetição das palavras.
ResponderExcluirBom demais o texto. As repetições não foram apenas recurso linguístico, mas se tornaram também parte do texto. Bonito demais. Muito feliz e também muito triste. Parabéns!
ResponderExcluirTexto lindo! As repetições foram usadas com coerência, as descrições foram trabalhadas com delicadeza. Parabéns!
ResponderExcluirAchei muito boa a construção do texto. Um final triste pela história, mas o tema foi bem trabalhado.
ResponderExcluirAté me arrepiei, um dos meus textos favoritos até agora, usou muito bem a repetição, ainda por cima de uma forma original, diferente do que vemos por aí. Muito emocionante, parabéns.
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