domingo, 16 de outubro de 2016


Só agradeço àquele cara

Não sabia o que aquele cara estava olhando. Parecia que nunca tinha me visto, que nunca tinha me dado um zero numa prova, que não sabia que eu era aquele moleque que sempre acabava com suas aulas. Isso porque ele estava me olhando de um jeito que eu não estava acostumado. Ele tinha um olhar de preocupação, não a preocupação de sempre de eu, mais uma vez, acabar com uma aula que ele tanto tinha se dedicado para preparar. Estava estranho mesmo.
A partir dali, comecei a pensar no que aquele cara poderia estar querendo naquela manhã de aula, se era me punir mais uma vez chamando minha mãe na escola, (o que não daria certo porque o que mais tinha na minha casa, além de contas pra pagar e crianças, eram convitinhos escolares desse tipo) ou se era... Eu não sei! Não conseguia pensar em outra coisa vindo dele, vindo de ninguém que tenha a profissão dele. Talvez ele estivesse me olhando da mesma forma que todo mundo olha ali na parte baixa de Copacabana.
A manhã foi passando chata como sempre e eu fui esquecendo a estranheza daquele olhar, mas não tardou para o meu desconforto voltar. A próxima aula era dele. Ele entrou e eu fingi que estava tranquilo, não me comportei e não o levei a sério como sempre, mas para minha surpresa ele não se incomodou, continuou a aula como se eu não estivesse ali e conseguiu chamar a atenção de todos até que eu me vi sozinho, sem ninguém para rir do que eu falava, sem ninguém para não prestar atenção comigo. Eu não desisti, não podia deixa-lo vencer e, na hora da saída, prometi para mim e para ele que na próxima aula, se eu fosse deixa-lo dar aula, seria pior. E o que ele me respondeu? Ele disse “Venha! Vou adorar te ter aqui mais uma vez” com o maior sorriso do mundo.
Eu fui e fiz as mesmas coisas de sempre, mas dessa vez tive sucesso. Sucesso com alguns colegas, mas ele continuou a aula como se toda turma estivesse em silencio e aquilo me deixou irritado. Fui até a mesa dele e o desafiei “Você vai deixar isso?! Vai continuar aí, como se nada tivesse acontecendo?! Faz alguma coisa fessô, vai deixar a gente zoar com tua aula memo??” E ele disse que ia continuar, disse que a gente precisava disso, que um dia a gente ia agradecer por ele não ter desistido, por ele não ter parado aquela aula que eu, mesmo fazendo de tudo para destruir, sabia que ele estava falando que as preposições são as palavras que estabelecem, uma relação entre dois ou mais termos de uma oração.
Nessa hora eu saquei o olhar. Vi que ele talvez fosse a pessoa que mais se importava comigo, que mais se importava com a pessoa que eu seria. Por causa disso, eu percebi que o que ele estava me ensinando não era só como aplicar as preposições mas, com seu exemplo, me mostrou como ser alguém perseverante, alguém que acredita que não sou o que a sociedade me destina a ser.
Só agradeço àquele cara que por ter plantado uma semente em mim sabendo que daria fruto. Só agradeço àquele cara por ter transmitido conhecimentos que estavam além de um currículo. Só agradeço àquele cara que me fez pensar que eram possíveis as minhas impossibilidades. Só agradeço àquele cara me ajudou a ser capaz de escrever essa crônica.

Clodovil Viu­

9 comentários:

  1. Clodovil vil e fez um texto ótimo. Professores ótimos pais, esses textos todos estão me abalando psicológicamente kkkkkk achei um aspecto de valor perante a sociedade pois todo mundo já passou ou passa por situações parecidas com esse texto de apego com professor, admiração e gratidão. Talvez acho que vc estendeu muito o texto e com alguns recursos, poderia ter tornado mais curto e a mensagem mais gostosa de ler, mas o importante é o objetivo ter sido atendido.

    ResponderExcluir
  2. Texto um pouco maçante,e achei o desenvolvimento um pouco mal trabalhado. Os dois paragrafos finais foram bem fortes, o ponto alto do texto. Talvez não tenha ficado suficientemente explicito que era o POV de outra pessoa.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo, achei muito repetitivo no meio. Talvez se ele fosse mais curto a mensagem fosse passada de maneira mais enfática. Fora isso, é um bom texto, perene e exerce cidadania.

      Excluir
  3. Acho que do ponto de vista psicológico, o tema abordado é sobre a atenção e o cuidado que o menino não achava que alguém teria por ele, mas, no fim, o aluno percebe que o professor tem. Gostei do texto, mas o desenvolvimento foi um pouco confuso.

    ResponderExcluir
  4. O texto demorou muito a chegar ao ponto. Ficou um pouco cansativo e isso talvez trave o leitor de continuar a leitura. A abordagem é de um caráter social importante e relevante. O tema é muito bom. Utilizar a transformação da educação pelo olhar de um aluno é uma sacada muito interessante, mas poderia ser atingida de uma forma que prendesse mais o leitor.

    ResponderExcluir
  5. Gostei muito do texto. O autor abordou um pov bem interessante que é essa relação aluno/professor. Ligação essa bastante conflituosa, foi ai que se desenvolveu a questao antropológica por apresentar esse embate humano de educador e educando que no final ambos se confundem. A questão psicológica foi bem trabalhada também apresentando um personagem que mostras suas dificuldades em casa e isso reflete na vida como um todo. Texto agradável com uma linguagem boa. Parabéns.

    ResponderExcluir
  6. Achei a leitura um pouco difícil, confusa. A escrita poderia ter sido melhor trabalhada e a mensagem mais direta, para prender mais o leitor, tornar a leitura mais cativante. Fora isso, gostei de como você abordou a questão da gratidão, por meio da relação aluno-professor, que pode muitas vezes ser problemática.

    ResponderExcluir
  7. Acho que consegui captar a ideia do POV. A historia é muito boa e foi construída detalhadamente.

    ResponderExcluir