domingo, 9 de outubro de 2016


Precisava?

Precisava ter me convencido de que seria diferente para depois desistir de nós? Para desistir de tudo que vivemos ao longo desses três anos? Precisava ter me enviado aquelas curtas palavras, por mensagem, negando a tua prolixidade, que eu mais que ninguém conhecia?
Precisava.
Daquele final de janeiro, só me restou a culpa. A culpa de questionar o que tínhamos. Não tínhamos tudo, mas tínhamos um ao outro. Tinha a tua boca, a tua pele, o teu cheiro. Tinha até a tua desatenção a qual eu relutava em aceitar. Fevereiro entrou, junto ao carnaval, mas lá estava eu: acorrentada a uma quarta-feira de cinzas que eu mesma havia arquitetado. Como os carros que passavam no desfile que eu assistia pela TV, passavam os ciúmes, as brigas, as falhas. Falhas que eu pude evitar.
Pudesse evitar talvez, se naquela noite sua boca evitasse beijá-la. Se naquele fim de tarde, não chorasse dizendo falar a verdade. Eu evitaria. Pouparia meus gritos, minhas ofensas, meu tempo gasto fazendo a tua vida ter sentido. Depois de ter superado tudo pelo meu amor, ele esfriou e eu ao menos pude reaquecê-lo. O tempo que eu pedi, era para pensar em nós. Mas você só pensou em si e junto com a sua máscara, jogou fora a mim e todas as fichas depositadas, desde aquele dia quatro.
Não fui ingênua ao acreditar em você pela última vez. Ingênua eu fui, quando na primeira grande mentira, adiei o fim. Neste tempo cresci, conquistei coisas, conheci pessoas. Mas a conquista maior veio na primeira emersão daquele mar de culpa. Compreendi que o que me afogava não eram os momentos não valorizados, era tentar encontrar um culpado para dor de não te ter. Foi ao superar nossas culpas, que fiz do mar, escada. E alcancei não só experiência, mas o aprendizado de que nem sempre existem culpados.
Retiro aqui minhas pedras e deixo o meu sincero “obrigado”.

Sam Castiel

6 comentários:

  1. Forte, em! Gosto das metáforas que você usa e de como a não existência dos caracteres dos personagens deixa aberto pro leitor sentir-se ambos, ou ninguém. As citações do tempo passando e dos meses ajudam a confirmar sua permanência no tempo.

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  2. Achei profundo e gostei da maneira que você soube mostrar as conseqüências de uma separação, por mais complicadas que sejam. Admiro que você soube refletir bem sobre elas. Ah, e tem perenidade! Parabéns!

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  3. Texto bem escrito e de leitura fácil. Gostei das perguntas no início do texto e de como você transformou a separação em algo positivo no final.

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  4. O texto foi muito bem escrito e tocante, com a passagem explícita do tempo revelando a durabilidade desse conflito de emoções que possivelmente fizeram com que, ao final, o autor descobrisse que essa separação havia sido algo bom para ele ao invés de algo triste como geralmente é.

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  5. Gostei do ritmo que as repetições deram ao texto e como a separação no final foi algo positivo!

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  6. Foi um tanto dramático, mas gostei bastante. Um boa escrito e um bom uso de metáforas, prende a atenção do leitor

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