Precisava?
Precisava ter me convencido de que seria
diferente para depois desistir de nós? Para desistir de tudo que vivemos ao
longo desses três anos? Precisava ter me enviado aquelas curtas palavras, por
mensagem, negando a tua prolixidade, que eu mais que ninguém conhecia?
Precisava.
Daquele final de janeiro, só me restou a
culpa. A culpa de questionar o que tínhamos. Não tínhamos tudo, mas tínhamos um
ao outro. Tinha a tua boca, a tua pele, o teu cheiro. Tinha até a tua
desatenção a qual eu relutava em aceitar. Fevereiro entrou, junto ao carnaval,
mas lá estava eu: acorrentada a uma quarta-feira de cinzas que eu mesma havia
arquitetado. Como os carros que passavam no desfile que eu assistia pela TV,
passavam os ciúmes, as brigas, as falhas. Falhas que eu pude evitar.
Pudesse evitar talvez, se naquela noite sua
boca evitasse beijá-la. Se naquele fim de tarde, não chorasse dizendo falar a
verdade. Eu evitaria. Pouparia meus gritos, minhas ofensas, meu tempo gasto
fazendo a tua vida ter sentido. Depois de ter superado tudo pelo meu amor, ele
esfriou e eu ao menos pude reaquecê-lo. O tempo que eu pedi, era para pensar em
nós. Mas você só pensou em si e junto com a sua máscara, jogou fora a mim e
todas as fichas depositadas, desde aquele dia quatro.
Não fui ingênua ao acreditar em você pela
última vez. Ingênua eu fui, quando na primeira grande mentira, adiei o fim.
Neste tempo cresci, conquistei coisas, conheci pessoas. Mas a conquista maior
veio na primeira emersão daquele mar de culpa. Compreendi que o que me afogava
não eram os momentos não valorizados, era tentar encontrar um culpado para dor
de não te ter. Foi ao superar nossas culpas, que fiz do mar, escada. E alcancei
não só experiência, mas o aprendizado de que nem sempre existem culpados.
Retiro aqui minhas pedras e deixo o meu
sincero “obrigado”.
Sam Castiel
Forte, em! Gosto das metáforas que você usa e de como a não existência dos caracteres dos personagens deixa aberto pro leitor sentir-se ambos, ou ninguém. As citações do tempo passando e dos meses ajudam a confirmar sua permanência no tempo.
ResponderExcluirAchei profundo e gostei da maneira que você soube mostrar as conseqüências de uma separação, por mais complicadas que sejam. Admiro que você soube refletir bem sobre elas. Ah, e tem perenidade! Parabéns!
ResponderExcluirTexto bem escrito e de leitura fácil. Gostei das perguntas no início do texto e de como você transformou a separação em algo positivo no final.
ResponderExcluirO texto foi muito bem escrito e tocante, com a passagem explícita do tempo revelando a durabilidade desse conflito de emoções que possivelmente fizeram com que, ao final, o autor descobrisse que essa separação havia sido algo bom para ele ao invés de algo triste como geralmente é.
ResponderExcluirGostei do ritmo que as repetições deram ao texto e como a separação no final foi algo positivo!
ResponderExcluirFoi um tanto dramático, mas gostei bastante. Um boa escrito e um bom uso de metáforas, prende a atenção do leitor
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