A
mortadela
Começo
meu dia, hora de trabalhar.
“Tia,
tem uma moedinha pra me ajudar a comprar alguma coisa pra eu comer?”. Frase que
repito por mais de cinquenta vezes durante um dia inteiro.
Passa
uma senhorinha com carrinho de compras e, opa, dois reais. Agora um cara com
bebê no colo e dez centavos, assim como o estudante. Depois um homem de terno e
um “vai trabalhar vagabundo!”. E, é claro, aquela tia que passa por mim andando
rápido e segurando a bolsa com medo que eu assalte. Mas, finalmente, ela.
Aquela moça do sorriso largo, dos quilinhos a mais e da risada nada discreta.
Aquela que não veio com centavo nem real nenhum.
“Vem
aqui, meu filho, vem que vou pagar um lanche pra você aqui nessa padaria.” Se
eu tinha dúvidas de que Deus existia, ali passei a acreditar.
Tá
certo que já ouvi inúmeras histórias de pedintes que são viciados e metem
qualquer caô pra conseguirem dinheiro pra droga ou bebida. Mas juro, eu
realmente estava morrendo de fome. E aquela moça salvou meu dia. Ganhei pão, e com
mortadela até! Pra muita gente normal, mas pra mim, um luxo.
Eu
não sei o nome dela, nem onde ela mora, muito menos o que levou ela a me
ajudar. Só sei que o gesto dela forrou não só meu estômago como também a minha
vida. Foi bonito demais enxergar que ainda existem pessoas no mundo que são
capazes de fazer alguma bondade. Mesmo no meio de tantas frases como “não ajuda
esse moleque aí não!”, “se der uma vez ele não vai sair mais daqui!” e “cuidado
com essa gente, eles podem te roubar!”, ela ignorou tudo e resolveu pagar um
lanche pra mim.
Resolveu
preencher minha fome e também o meu coração, de carinho e reconhecimento. Ali
senti uma sensação de dever com aquela moça, gostaria de retribuir o ato dela
de alguma maneira. Talvez algum dia eu consiga construir uma vida fora das
ruas, ou quem saber juntar uma graninha, aí eu faço isso. Vou catar essa mulher
e dar a ela um sanduiche bem caprichado também. E é claro, recheado com o
melhor acompanhamento. Mortadela!
Ba2007
Texto incrível. Vc consegue entrar totalmente na vida do trabalhador de rua que pede dinheiro diariamente e se comover com a gratidão existente. Psicologicamente abalado.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom! abrange o psicologico e exerce a cidadania..
ResponderExcluirClodovil viu e achou o texto bom demais, fácil de ler e entender. Na hora de escrever meu texto, fiquei um tempão pensando em situações do tema e vc, com esse texto simples e objetivo, mostrou a gratidão numa situação infelizmente diária de todos nós. Muito bom
ResponderExcluirTexto bom, apresentou um pov bem interessante e bem rico em explorações. No entanto penso que o tema "indivíduo em situação de rua e sua gratidão para com as pessoas q os ajudam" é algo bem estereotipado. Se você analisar estudos/documentários sobre essas pessoas verá que eles têm um sentimento bem mais forte pelas pessoas que moram com eles nas ruas ou pelos seus animais de estimação. Seria mt mais interessante uma outra visão sobre a asserção escolhida do que esse tema de sempre um subordinado ao outro. No que concerne à questão antropológica foi proveitoso o debate de como o autor trouxe à voga essa relação humana de menosprezo e empatia pelos menos favorecidos. A psicologia abordada ao se tratar o personagem q foi um pouco fraca, ao meu ver, pelo ja mencionado la em cima. A linguagem n surpreendeu e mostrou-se bem linear.
ResponderExcluirO texto é bem linear, nao surpreende quanto a escrita e acho que poderia ter mais descrição. O POV é meio clichê e uma padrão de pessoa em situação de rua, que se vende. Acho que poderia, assim como disse a Nina, cavar mais a historia e ir além dessas caracteriscas de personificação de imagens cotidianas. Poderia ser bem mais social e levantar questões e reflexão ao público. O próprio personagem julga outros em situação de rua o que acho um pouco indelicado. A "mortadela" foi bem utilizada para dar uma sintonia de finalização ao texto.
ResponderExcluirNa linguística, acredito que você utilizou bem alguns recursos para dar uma linguagem crível para o seu personagem, mas acho que você poderia ter ido além.
ResponderExcluirO texto usa uma linguagem que se adequa ao POV e mostra bem o sentimento de gratidão. No entanto, acho que a história poderia ter se aprofundado mais, se desenvolvido mais.
ResponderExcluirO tema proposto é bem evidente e a escrita é boa, auxiliada por elementos descritivos (mesmo que poucos, inclusive se houvesse mais seria um atrativo maior do texto) e também a linguagem utilizada, que é boa, mas poderia ser mais adequada ao personagem. Personagem esse que poderia ter sido melhor desenvolvido, também.
ResponderExcluirO tema proposto é bem evidente e a escrita é boa, auxiliada por elementos descritivos (mesmo que poucos, inclusive se houvesse mais seria um atrativo maior do texto) e também a linguagem utilizada, que é boa, mas poderia ser mais adequada ao personagem. Personagem esse que poderia ter sido melhor desenvolvido, também.
ResponderExcluirBelíssimo texto, com toda essa simplicidade faz a gente refletir, se colocar no lugar do personagem e exerce cidadania. Bem original o ponto de vista
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