domingo, 9 de outubro de 2016


Domingo de Manhã

Caminhando na praia comecei a pensar nele, como sempre fazia quando estava ali, afinal, a praia era nosso lugar. Era pra onde íamos aos domingos de manhã e nos momentos de tédio.  E pensar nele significava lembrar de cada detalhe seu, pois eu os tinha guardados  num cantinho feliz do meu cérebro. Seu sorriso largo, o cheiro de cigarro misturado à marca de perfume a qual era fiel, e até mesmo seu assovio, que me fazia virar e procurá-lo aonde quer que eu estivesse, porque tinha certeza de que seria ele me chamando.
Com ele fiz passeios, vivi aventuras e conheci novos lugares. Com ele tive inúmeras “primeiras vezes”. A primeira vez que andei, falei e fui à escola. A primeira vez que perdi um dente, amarrei um sapato e pedalei minha bicicleta (com e sem rodinhas). A primeira vez que amei, e a primeira que tive meu coração partido. Sim, “ele” é o meu pai.
Eu não me separei dele, minha mãe sim. E eu não a culpo, nem a ninguém, na verdade. O amor romântico acabou, e o que restou foi amizade. Eu entendia isso, já era crescida. Mas não quer dizer que foi fácil, foi zero fácil. Ele se mudou, e isso significava não estar mais com ele todos os dias. Foi um processo um tanto doloroso, mas eu me acostumei. Pelo menos os domingos de manhã ainda eram nossos.
Eu queria que nossa história terminasse aí, para que o filme congelasse com nós dois sentados na areia. Mas nem tudo nessa vida é final feliz, e a segunda separação veio. Ele se mudou de novo, mas já não era mais para outro apartamento, para outro bairro, nem para qualquer lugar que eu pudesse encontrá-lo. Ele se mudou e eu não estaria com ele mais dia nenhum. Foi um processo um tanto doloroso, mas eu me acostumei. Os domingos de manhã ainda são nossos.


Greta

10 comentários:

  1. Confesso que me emocionei com o texto! Teve empatia pois trouxe exemplos do cotidiano como "amarrar o sapato" e "andar de bicicleta" e além disso humanizou o relato. Gostei de como a separação foi retratada tanto no que diz respeito aos pais quanto à morte.

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  2. amei a quebra de expectativa por ser o pai. O texto tem profundidade e é triste, mas ao mesmo tempo conseguiu ser leve! Parabens

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  3. Gostei dessa repetição do final, como uma maneira de se acalmar, afirmando certezas. E sim, teve empatia e foi bem emocionante. Amei a delicadeza da escrita. E fiquei feliz de ler por aqui um texto sobre separação, mas não de casal!

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  4. Tipo, enjoei de ler tanto clichê de amor kkkkkkkk bom texto

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  5. Tipo, enjoei de ler tanto clichê de amor kkkkkkkk bom texto

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  6. Ai que lindo, gostei bastante. Muito bonita a forma que o "Domingo de Manhã" seguiu pelo texto. Também tem empatia pq a maioria de nós passa por essas situações enquanto crescemos com nossos pais.

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  7. no inicio achei que fosse mais um texto comum de romance entre homem e mulher... mas quando percebi que a temática era outra me animei e achei muito bom. Parabéns!!

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  8. no inicio achei que fosse mais um texto comum de romance entre homem e mulher... mas quando percebi que a temática era outra me animei e achei muito bom. Parabéns!!

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  9. Legal o texto, o enredo foi criativo muito bem feito. Parabéns!

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  10. Muito legal a quebra de expectativa por ser o pai e não algum namorado, mostrou um outro tipo de amor. Bom título e bom trabalho por ele se relacionar tão bem com o texto.

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