Aflorou.

Pena de pavão de Krishina. Purpurina. Catuaba e afoxé. Aquele carnaval ainda permanece na minha mente como um lembrete assíduo me levando a um tempo em que tudo parecia fazer sentido, um tempo no qual crises financeiras eram meras notícias corriqueiras nos jornais, sem nenhum impacto sobre mim. Nada podia me atingir. Nada podia me atingir porque eu a tinha. Nada podia me atingir porque acontecesse o que acontecesse, no fim da tarde ela sempre estava me esperando com sua forma mais poética de ser. Seu sorriso era minha poesia.

Flor no cabelo. Batuques e ritmos. Danças. Não conseguia conter minha felicidade. Tudo transbordava. Desde a conheci, nenhum dia foi o mesmo. Apendi a sambar, gostar de Drummond, fazer hortas orgânicas, a gostar de chás e questionar tudo. Ela apresentou-me a melodia de Alceu e o flow do Notorious B.I.G. Passávamos madrugadas planejando nossa viagem à Bahia. E, depois de tantos ensinamentos e cuidados, eu pude florescer ao lado do mais belo girassol. Ela sempre me mostrava a luz.

Mas como toda semana carnavalesca, a quarta-feira de cinzas chegou. Chegou avassaladora, chegou afastando ela de mim. Acordei singular em meio as cinzas de quarta e chorei por ver que a vida vai. Meu pranto fez-se juntamente com minha penitência em ver-me sozinha, sem nenhum apoio, sem ninguém para dividir sequer a camomila. Foi difícil. Contudo, hoje sorrio por ver que a vida vai bem.

Hoje embarco para a Bahia, levo toda a alegria, purpurina e gingado que absorvi dela. Hoje ela está em outro continente. Ela de lá inverno, eu de cá verão. Hoje vivo amores em blocos, amores em cores, amores em rodas de dança. Ela é o carnaval por inteiro, todo o arco íris e a própria dança. Eu de cá a quero bem, ela de lá também me quer bem. Hoje recebi girassóis.

Nina Meneses