Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma
Eram sete e meia quando eu fui deixado na
estação. Eu e minha mala em mãos, fomos até o caixa para eu retirar a minha
passagem. Era quase o triplo de uma passagem normal, também, pela distância e
pelo vagão que eu escolhi, já era de se esperar.
Aquela
seria uma longa viagem e por isso decidi comprar mais um lanche na lanchonete
da estação enquanto aguardava sentado no banquinho. O trem que iria pegar
sairia do norte do país até o sul onde eu começaria uma vida nova. Era a
faculdade que eu sempre desejei. A distância sempre fora um fator que me
impedia de realizar esse sonho mas a bolsa que eles me ofereceram recentemente
era o que eu precisava para isso. O sim foi imediato. Na semana seguinte já
começava a planejar a viagem, hospedagem e o que eu levaria para essa “nova
vida”.
E o grande dia havia finalmente chegado.
Havia me despedido da minha família na noite anterior, e da minha mãe hoje de
manhã quando ela me deixou na estação. Eu estava ansioso, olhava a todo segundo
para o relógio pois não aguentava mais esperar. Decidi então, para passar o
tempo, dar mais uma conferida no que eu levava na mala. Foi quando eu me
deparei com algo que congelou meu corpo. A gravata. A gravata que a minha
namorada tinha me dado há algumas semanas e que eu ainda não tinha usado por
prometer a mim mesmo que a guardaria para um momento especial. “Eu não tinha me
despedido dela.”, pensei. Com a correria e a animação da mudança eu tinha
esquecido de me despedir da minha própria namorada! Como pude ser tão
esquecido? Mas foi quando eu percebi o porquê. Eu não conseguiria. Não
conseguiria me despedir dela. Não aguentaria suportar ficar longe dela por
tanto tempo...
O apito do trem soou e o auto-falante da estação
anunciou para que os passageiros do trem 247 embarcassem, pois o trem partiria da
plataforma em 5 minutos. Eu entrei, com o coração completamente o inverso do
que estava quando chegara. Sentei no lugar que eu reservara, com a mala aberta e
encarando a gravata. Peguei-a com meus dedos suados e, enquanto a sentia em
meus dedos, encontrei um bilhete. “Para o amor da minha vida. Faça bom uso,
lembre-se de mim quando usá-la. Do amor da sua vida.” Estava ali escrito, com
caligrafia inconfundível, um bilhete de minha namorada.
Ao ver aquilo tomei uma decisão. Eu não ia
mais. Não poderia me separar dela. De que adiantaria fazer a faculdade dos meus
sonhos se precisaria ficar longe dela para isso? Não! Não valia a pena. Eu
precisava deixar aquele trem! Levantei-me apressado com a minha mala quando
ouvi o último soar do apito. Fui apressado em direção à porta. “Volte para o
seu lugar, senhor. O trem já vai sair.” “Eu não ligo! Preciso sair. Não quero
ir mais!” , gritava, enquanto tentava transpor a porta bloqueada pela mulher.
E
então a porta se fechou. Eu do lado de dentro, olhando, abalado, a plataforma
que sumia enquanto o trem partia, tal qual, o meu coração.
Assinado: Mindinho
Identifiquei a estratégia narrativa desse texto com operadores de intimidade (como o trem 247) e gostei da relação feita entre o coração do rapaz e o trem que partia.
ResponderExcluirO final lembra os folhetins, com a duvida se essa separação pelo trem foi definitiva ou não. O início me deixou um pouco confuso, talvez poderia ser dividido em mais de um parágrafo. Pode ser perene, pelo fato de ser uma separação do amor, pela distância e necessidade de seguir a vida.
ResponderExcluirFinal poético, o tema foi abordado de uma maneira normal. Foi perene mas não vi o exercício da cidadania
ResponderExcluirAchei um texto bonito, uma ideia criativa e poética, mas podia ter sido escrito de uma forma mais leve e talvez até informal, não foi muito fácil de me identificar com a situação. O tema foi perceptível sem muito explícito.
ResponderExcluirUm texto n tao leve de se ler, achei um pouco confuso as diversas informações colocadas. Vejo perenidade no q se refere à separação de quem gostamos por um motivo maior, além do recurso narrativo utilizado q conferiu um pouco e intimidade ao leitor. O final ficou bem legal.
ResponderExcluirno começo achei confuso, mas depois no desenrolar da historia gostei bastante, principalmente do final. É um texto perene, mas não ultrapassa os limites da realidade
ResponderExcluirno começo achei confuso, mas depois no desenrolar da historia gostei bastante, principalmente do final. É um texto perene, mas não ultrapassa os limites da realidade
ResponderExcluirO texto é bem legal. Foi bem escrito, tem um ótimo título e a passagem final é muito boa, com a analogia entre trem e coração.
ResponderExcluirAlgumas partes estão um pouco confusas, mas o texto é bom. E, especialmente, tem perenidade, uma das coisas que nos propusemos a trabalhar em nossos textos. Gostei muito do final.
ResponderExcluirTexto muito bom. Trabalha bem o tema de forma a não o explicitar demais. A escrita também está muito boa.
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