domingo, 18 de setembro de 2016

A cebola, claro.
     Eu tenho passado as últimas semanas tentando lembrar em que momento Ju revelou que sua comida preferida era sopa de cebola. Nada convencional. Poderia ser lasanha, quiche, hambúrguer ou quem sabe uma sopa de ervilha. Mas sopa? Sopa de cebola? Não que eu não goste de sopa ou de cebola. Acontece que desde que nos conhecemos, semanalmente comíamos sopa de cebola assistindo a um filme qualquer que eu escolhia, aleatoriamente, na sessão de comédia. Acredito que parte do meu descaso com o filme era para que ela esquecesse aquela ideia. Uma pena. Quem acabou sucumbindo a ela foi eu. Já não vinha mais com apenas um filme... Agora me acompanhava também quatro cebolas médias.
     Já não conseguia esperar por aquelas prazerosas quartas-feiras. E o futebol, eu nem lembrava mais... Até o dia em que Ju, por mensagem, dizia: Venha sem o filme e as cebolas. Não vou esconder que me vi perdido. Pela primeira vez, em dois anos, eu não iria acordar cedo para ir à feira, nem passar na locadora, que ficava no início de sua rua. Confesso que fui otimista ao achar que aquela mensagem não era um sinal do que aconteceria naquela quarta à noite. Em poucas e diretas palavras ela disse que não havia mais motivos para continuarmos juntos. Mas e as horas de sono que eu cedi indo de carro à feira? E o futebol, que eu nem sabia mais quem eram os escalados? E todos os outros dias metódicos dedicados a ela não aqui citados? Vi ali que realmente a amava. E ela foi fria. Fria como a sopa que me servia.
     Pouco a pouco me refiz. Iniciei um curso de gastronomia as quartas à noite, passei a fazer caminhada até a feira pela manhã, que em certo dia se resumia a comprar ingredientes frescos para o curso. Quanto à sopa de cebola, nunca fiz questão... Após Jucilene, não entra se quer uma cebola na gaveta da geladeira. Nem mesmo um molho industrializado que além de outros temperos, vem seguido da maldita descrição “Contém cebola”. Eu superei. A única coisa que me atormenta é ela. A cebola, claro.

 Sam Castiel

13 comentários:

  1. Muito boa a metáfora da cebola! Deu pra entender bem o recalque. O texto também foi rapido, dinamico e facil de ler.

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  2. Amei esse texto! Adorei como foi fácil e leve de ler, sem enrolação

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  3. Amei esse texto! Adorei como foi fácil e leve de ler, sem enrolação

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  4. O texto flui muito bem, apresenta uma história leve e envolvente

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  5. O texto mais sensacional de todos. Parabéns e mt sucesso!!!

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  6. Gostei muito da levada do tema na crônica. O texto é muito leve, muito bom

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Eu gostei demais desse texto, ele é divertido, leve, a linguagem é ótima e trata o assunto do amor, do término, muito bem, o diferenciando. Muito bom, mesmo. Parabéns.

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  9. Gostei tanto desse texto! É bem isso... às vezes o recalque fica explicito nas pequenas coisas.

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  10. O texto é bem direto e a leitura é fácil. O tema foi muito bem trabalhado. Parabéns.

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