Sujo. Canela cinza. Muita fome. Há três anos na rua e em toda madrugada de sábado a tia da igreja trás sopa pra gente. Ela ainda não veio, já não como há 4 dias. O centro é foda, da esquina vejo duas festas de playboys rolando do outro lado. Muita gente dando mole, tô vendo um All Star vermelho novinho. Podia ser meu, mas não tenho nem força pra levantar. Se tentasse ia rodar na hora.
Tenho o nome da minha mãe tatuado no braço direito. Lembrar dela me acalma, não era isso que ela queria pra mim. No peito Racionais, eternizado. Fiz na cadeia: "E eu que sempre quis um lugar gramado e limpo, verde como o mar, cercas brancas, uma seringueira com balança, disbicando pipa cercado de criança". Ainda vou viver assim, minha hora vai chegar. Trazer minha mãe de volta pra mim. Até lá é matar ou morrer.
– Ê boy, arma um real aê, tô com fome, há 4 dias sem comer, vou ali no chinês e compro um pastel.
– Porra vagabundo, que vida fácil é essa! Para de pedir, vai trabalhar! Queria ter essa vida, ganhar dinheiro sem precisar fazer nada!
É foda. Da raiva. Não da pra viver assim. Dinheiro é puta e abre as portas. Ainda vou ter, pra abrir muitas. Colocar minha mãe num castelo sem pedir nada pra ninguém. Deus ta comigo.
RRR
gostei do tom crítico.
ResponderExcluirNão sei se entendi tão bem o recalque, mas a forma como conseguiu capturar o ponto de vista do personagem foi muito bom.
ResponderExcluirO recalque não está tão explícito, ao meu ver. Mas o tema da história foi muito bem escolhido e retratado
ResponderExcluirO texto é muito bom no que diz respeito a fazer uma crítica social a uma situação tão comum no nosso país. No entanto, tive dificuldade em perceber o recalque.
ResponderExcluirApesar da implicidade do tema, gostei da crítica apresentada no texto
ResponderExcluirMuito bom! Notei que a presença do "recalque" está de uma forma diferente dos textos anteriores. Além disso possui referências e faz uma crítica social relevante. Belo texto!
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