Eu só queria ser
Acordei hoje e só consegui olhar para o teto.
Não consegui levantar, mesmo sentindo a enorme vontade de comer tapioca, não
consegui. Tudo o que eu consegui fazer foi sentir uma energia pesada em no ar,
era como se aquele ar pesado me prendesse na cama, era como se a vida me
prendesse ali. Fecho meus olhos pensando naquela moça de vestido florido que
costumava andar pela cidade, que costumava sorrir para os bebês, que costumava
amar, que costumava viver. Costumava viver até o dia em que ela resolveu cortar
caminho para a casa do namorado e havia um homem naquele beco. Aquele homem que
tirou a liberdade dela. Aquele homem que tirou a vontade de viver dela.
Aquele homem que tirou de mim a vontade de viver. Aquele homem que tirou a
minha vontade de ser. Hoje eu só queria ser como as minhas amigas que nunca cortaram
caminho para a casa do namorado e passaram por aquele beco. Aquele maldito
beco. Eu só queria ser como as meninas com quem divido apartamento que
conseguem sair à noite para tomar umas doses de tequila e voltam para casa sem morrer
de medo do taxista. Eu só queria ser alguém que não teve a esperança roubada. A
carne rasgada. A pele machucada. A alma mutilada. Eu só queria ser como a
feminista da minha sala que luta pelas mulheres, contra o estupro mesmo sem
nunca ter sido estuprada. Eu só queria ser uma mulher com empatia e não com
vivencia. Eu só queria ser qualquer um. Eu só queria não ser eu.
Afrodite
Senti a dor da narradora, fiquei mal mesmo. (considero isso um ponto positivo) e foi interessante como nesse caso a inveja nao foi tratada como algo "repugnante"/ruim e sim como totalmente aceitavel e compreensivel
ResponderExcluirO texto exerce a cidadania quando trata de uma temática tão polêmica e cotidiana como o estupro. Rompre com as correntes do lead e ainda é narrado por uma visão perfeita, a de uma vítima. Boa alusão do tema com a inveja. Ótima crônica!
ResponderExcluirnossa. impactante! como ja foi dito, exerce cidadania e traz uma intimidade com o leitor, por que mesmo quem não foi estuprada, ja passou por esses medos que a protagonista relata.
ResponderExcluirnossa. impactante! como ja foi dito, exerce cidadania e traz uma intimidade com o leitor, por que mesmo quem não foi estuprada, ja passou por esses medos que a protagonista relata.
ResponderExcluirTexto extremamente forte, tanto pela temática quanto pela escrita. Não deixa de ser uma excelente critica social ao narrar a experiência de alguém que passou por isso. Parabéns.
ResponderExcluirO texto foi bastante impactante. Foi bem escrito, o que permitiu que sentisse a mesma angústia que a personagem que narra sentiu.
ResponderExcluirExcelente texto. A utilização da "inveja" para retratar uma situação problemática na sociedade foi bastantre criativa. Esse foi um dos textos mais reflexivos que já li aqui no blog. Realmente cumpriu com o seu papel.
ResponderExcluirFoi bem reflexivo e bastante forte abordagem do textos. Eu, particularmente, até me senti mal em certo ponto. Um bom exercício de cidadania, parabéns!
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