domingo, 18 de setembro de 2016

 estava no consultórihá quase cinco horas, sem paradas além do pequeno intervalo entre a saída de um paciente e entrada de outro. Cinco horas, das quais só consegui exercer de fato minha profissão, isto é, dar atenção, ouvir e aconselhar pacientesem duas. O motivo? Muito simples, a rachadura de um copo.  
Após duas horas atendendo inventei de pegar o maldito copo para beber água. Claro que para alguém com Transtorno Obsessivo Compulsivo até que aguentei bem: três horas de pura tortura psicológica. Claro também que como professor universitário de psicanálise não poderia ser diferente. Para aguentar, utilizei cnicas criadas por mim mesmo, ainda que elas não tenham me impedido de divagar, durante o falatório incessante de cada um dos "psicologicamente enfermos", sobre as mesmas questões de novo, e de novo.  
Veja bem, meu consultório é impecável. A limpeza é diária, o divã não tem um fio fora do lugar, minha prateleira tem todos os livros em ordem alfabética e objetos de decoração milimetricamente posicionados. Quando me deparo com uma situação dessas – como um copo rachado - não consigo parar de me perguntar: Como isso aconteceu? Por que as coisas não estão em sua devida ordem? O que fazer? Quero, não, preciso ir para casa logo. Preciso comprar um copo novo e posicionar exatamente na posição do defeituoso, o qual, vale ressaltar, já está no lixo a exatamente duas horas e cinquenta e oito minutos.   
-Doutor? - Selma, mais uma mãe solteira e empresária bem sucedida tentando conciliar o caos que é sua vida e, ao mesmo tempo, fugir dele, em meu consultório toda semana. Me flagrou em meu devaneio.  
-Sim, claro nos vemos semana que vem Selma, bom te ver. - levanto e a cumprimento, dando graças a Deus que enfim poderei ir embora.  
Saio do meu local de trabalho, não sem antes verificar várias vezes se tudo estava em seu lugar. Não estava, faltava um copo de vidro perto da cafeteira e da garrafa de água. Ah... O ser humano e suas crises neuróticas. Entro no carro e dou partida. Depois vou checar na minha agenda se ainda tenho pacientes agendados pra hoje, se sim, vou desmarcar. Agora, vou sorrindo e cantarolando ao som do rádio dar fim à saga, com um sorriso no rosto sonhando com o momento em que vou posicionar o meu copo novíssimo e impecável, idêntico ao antigo, onde ele sempre pertenceu

Esquerdogata Felinazi.


13 comentários:

  1. Muito interessante seu texto do ponto de vista do conceito e aplicação do "recalque" além de evidenciar as árduas lutas diárias do ser humano consigo msm. Parabéns.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. A história é bastante interessante e os detalhes enriqueceram a crônica. Parabéns!

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  4. A história é bastante interessante e os detalhes enriqueceram a crônica. Parabéns!

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  5. A história é bastante interessante e os detalhes enriqueceram a crônica. Parabéns!

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  6. kkkkkk muito bom! não tenho o que criticar. muito bem feito

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  7. kkkkkk muito bom! não tenho o que criticar. muito bem feito

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  8. Gostei muito do texto, apesar de ele ser meio descritivo, eu achei que foi necessário ser. Eu me envolvi tanto com o texto que fiquei com raiva do copo.

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  9. Gostei muito do texto, apesar de ele ser meio descritivo, eu achei que foi necessário ser. Eu me envolvi tanto com o texto que fiquei com raiva do copo.

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  10. O texto é muito bom, muito bem escrito. Como já foi dito acima, ele é bastante descritivo, o que foi uma coisa ótima pra história, isso porque a descrição feita não apenas permite que possamos visualizar o cenário, como também colabora para a personalidade do personagem.

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  11. Teu texto me remete sempre quando vejo algo que não posso consertar, tipo quando um fio de cabelo de outra pessoa tá fora do lugar hahahaha agonia, é o que define. Gostei bastante de como o recalque ficou bem nas entrelinhas e como é fácil de se idenficar.

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