domingo, 18 de setembro de 2016

Os gatos sempre fogem. 
Meio-dia. O despertador já havia tocado dezenas de vezes e a ressaca resultante da noite anterior fritava minha cabeça. O cara que eu havia conhecido na noite anterior já não se encontrava mais na minha cama, e, apesar de o sexo maravilhoso com ele, a morte de Ned Stark fez mais falta na minha vida do que aquele homem. 
Queria comer aquela comidinha que só uma mãe dedicada pode fazer. Lembrei-me, entretanto que não possuía há anos uma figura materna na minha vida, fui rejeitada pelos meus pais por engravidar aos 16 anos e a partir dai tive que me virar sozinha. Sozinha. Sim, optei pelo aborto. Experimentei uma solidão Kierkegaardiana e aprendi que morar só não é fácil, ouvir seus próprios pensamentos é algo aterrorizante a ponto de eu comemorar quando os vizinhos do 514 estão transando, ou quando o pessoal do 515 faz a faxina ao som de Wesley Safadão.
E hoje, sábado, 39 graus na cidade maravilhosa ainda não havia feito metade das coisas que deveria. Todo sábado eu tinha um encontro com uma amiga do trabalho que sempre me ajudou muito com minhas inúmeras crises existenciais. Poderia definir Aline como uma Beatrix Kiddo do subúrbio carioca, o gosto pelas artes maciais era o mesmo. A noite chegou junto com Aline e, com ela, nossa indispensável cerveja e as cartas do truco.
A noite com Aline foi muito prazerosa, apesar dela insistir que Friends é melhor que ou How i met your mother, ou afirmar categoricamente que Capitu era adúltera. Eu não tenho provas, mas tenho convicção de que Bentinho era louco. Mas no fim da madrugada Aline foi embora, como todos sempre vão, nem os animais ficam. Já tentei criar peixes (morreram), hamsters e o gatos sempre fogem. Os gatos sempre partem.
Já fazem uns 30 minutos que quase coloquei fogo na casa ao queimar a carne enquanto fumava meu San Marino (o pagamento ainda não caiu) e pensava em como a Eleven poderia voltar a stranger things. Agora vou comer um miojo, queria mesmo uns waffles. Uma mae faz falta.  


Nina Meneses

14 comentários:

  1. Amei as referências e como o recalque ta presente, mas não tão explicito como na maioria dos que já li

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  2. É um ótimo texto, bem reflexivo e com ótimas referências, realmente. A questão do recalque é que está mais difícil de ser identificada.

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  3. Só digo que é recalque porque foi o tema designado. Se eu pegasse aleatoriamente para ler, não imaginaria o recalque envolvido na história. Prestar atenção se o q é apresentado trás pros leitores a informação que vc deseja passar pq nessa não foi bem sucedida.

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  4. Só digo que é recalque porque foi o tema designado. Se eu pegasse aleatoriamente para ler, não imaginaria o recalque envolvido na história. Prestar atenção se o q é apresentado trás pros leitores a informação que vc deseja passar pq nessa não foi bem sucedida.

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    1. Eu optei por um recalque mais subtendido, nada muito explícito e grosseiro. Particularmente, nunca fui ler uma crônica e la tava explícito "OLHA O TEMA SUGERIDO AQUI", sempre se espera da capacidade de interpretação do leitor. Obrigada pela participação

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Eu achei que o recalque dela é a solidão que ela carrega, a falta da mãe, o fato de ter tido filho cedo e sido abandonada.

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  6. O tema está sutil no texto. Gostei muito das referencias, bem atuais.

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  7. Gostei das referências/analogias, só foi um pouco demais. Mas fora a isso foi um texto muito interessante de ler.

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  8. Referências, como eu adoro referências! A relação tema proposto foi sutil, mas deu pra entender. Gostosinho de ler.

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  9. Referências, como eu adoro referências! A relação tema proposto foi sutil, mas deu pra entender. Gostosinho de ler.

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  10. Achei o recalque difícil de ser percebido, mas amei o texto. Foi muito bem escrito e possui várias referências muito legais, mesmo! Algumas até bem sutis, o que foi mais legal ainda. Parabéns.

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  11. Um texto denso e, ao mesmo tempo, sutil. Parabéns!

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  12. O tema fica um pouco confuso de ser percebido, mesmo nas entrelinhas.

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