domingo, 25 de setembro de 2016

Às vezes até o doce tem um gostinho amargo

O clima estava frio porém não agradável. Eu já estava acostumado, a minha cidade nunca poderia fazer um frio para se aproveitar, sempre tinha que vir acompanhada de chuva e vento forçando-me a ficar dentro de algum lugar. Era meio tipo a vida, sabe? Nunca algo bom vinha sem te ferrar um pouco também.
Dessa vez eu aproveitava esse tempo neutro na cafeteria na esquina da minha casa. O café deles não era lá essas coisas mas ainda assim era bem melhor do que eu mesmo ter que fazer. Eu bebia meu café e assistia ao desinteressante jornal da manhã na tv quando uma das notícias prendeu-me a atenção. A notícia do casamento real em um país europeu poderia não ser algo tão relevante a alguns olhos, mas aos meus, era algo que deixava aquele café ainda mais azedo.
Ah, como eu queria aquilo! Não só a parte de aparecer na tv e governar um país mas a do casamento. O luxo, a festa, e o mais importante, uma mulher que me amasse ao meu lado. Só de pensar nisso a xícara que segurava não estava mais quente, o ar úmido que respirava ficou seco e o café, de azedo forte passou a insípido. Eu me lembro bem da última vez que me senti assim. Era o casamento do meu primo na ocasião. Nós sempre fomos muito próximos desde a infância e por isso eu era o padrinho. No começo eu estava bastante feliz e animado mas aí chegou a grande hora e eu não aguentei. Ao ver a noiva e o noivo entrarem no altar, um sentimento forte e negativo tomou meu interior. Eu não conseguia sorrir como todos, só conseguia pensar que eu queria aquilo. Que eu queria estar ali no lugar do meu primo (não necessariamente casando com aquela mesma mulher). Não suportava ver alguém tendo o que eu sempre quis ter bem diante dos meus olhos! Aquele luxo, aquela festa, uma pessoa a me amar, ser o centro das atenções e o mais amado do momento... Eu não suportei. Tive de deixar o altar e fui direto para a minha cabine até passar aquela sensação, o que só ocorreu ao fim da celebração.
Demorei para voltar ao presente. A garçonete já parecia estar me chamando há pelo menos um minuto:
— Senhor, senhor, senhor... , dizia enquanto me cutucava incessantemente.
—Desculpe-me. Já vou liberar a mesa. —disse, pronto para me levantar.
—Não é isso. —disse ela, impedindo-me e atirando um pequeno envelope na minha frente. — É daquela mulher ali no balcão.
Eu fiquei surpreso. Ia perguntar a garçonete se era verdade mas ela já tinha ido. Não me restava nada a não ser examinar o envelope. “Para o homem do bigode estiloso da mesa 4”. Eu olhei na direção que a garçonete apontara e vi a mulher citada olhando de esgueira de volta. Será que era o que eu estava pensando? Será que poderia ser a minha chance? E foi levemente empolgado assim que eu abri o envelope.



                                                                                                  Assinado: Littlefinger

10 comentários:

  1. Fiquei curiosa pra saber o que tinha no envelope e o resto da historia hahaha

    ResponderExcluir
  2. interessante,parabéns! mas o final da historia poderia ser melhor formulado

    ResponderExcluir
  3. interessante,parabéns! mas o final da historia poderia ser melhor formulado

    ResponderExcluir
  4. Também fiquei curioso para saber o que estava escrito naquele envelope... Hahaha.

    ResponderExcluir
  5. Acho que a frase do envelope poderia ser um ótimo fim.
    Gostei de no texto ter um homem sonhando em se casar, o que muda o foco do esteriótipo feminino que espera a vida toda pelo casamento.

    ResponderExcluir
  6. Adorei o texto, a escolha por um final "inacabado" foi uma ótima sacada. Parabéns.

    ResponderExcluir
  7. Acho muito interessante a escolha por deixar o final como que inacabado, criando certa expectativa. Porém, acho que se encaixaria melhor numa situação de folhetim, em que isso serviria de gancho para, posteriormente, o texto ter continuidade.

    ResponderExcluir
  8. O texto sem desfecho foi bastante criativo, deixa livre para que o leitor imagine o que teria no envelope. A crônica é envolvente e prende o leitor até o fim (ou quase fim), parabéns! Se causou a curiosidade no leitor como esperava, é porque a crônica foi bem escrita!

    ResponderExcluir
  9. Muito bom esse suspense que você causou no final

    ResponderExcluir
  10. Deixar o texto inacabado para aguçar ainda mais a curiosidade do leitor foi uma sacada sensacional!!

    ResponderExcluir