domingo, 18 de setembro de 2016

A sala dos oprimidos no canto esquerdo, ao centro
Terminar um texto me parece algo difícil. Não que escrever seja o problema, não que opinar seja um desconforto, mas nada nunca está bom. Ficar olhando para tela de um celular até surgir uma ideia e essa ideia não ser o suficiente para ser escrita ou não parecer nada muito incrível ou novo ou diferente. E com um pouco mais de tempo de vida terei reprimido mais ideias do que comprado fichas pro bandejão.
Teve um tempo em que não era a tela de um celular, então eu estava sentado mais confortável e pronto para montar algo bom, muito bom. Você pode imaginar aqui uma pessoa pronta para produzir em sua mesa, no escritório. Era apenas um jovem jogado na cama com um notebook e, quem sabe, a música mais triste da Ludmilla. Muitas músicas tristes. Ainda assim, nada era o suficiente e eu jogava fora. Qualquer fosse a ideia, não era o que eu poderia mostrar. E eu empurrava ela pra lá, bem no canto esquerdo no fundo da cabeça.
Tenho impressão de que elas ainda estão lá. E pelo que sinto fica ao lado do meu ouvido esquerdo um pouco mais pro meio do meu cérebro, mas a ciência, é claro, vai dizer que não. Quem jogou elas de lado fui eu. E quando acordo a noite pensando que esse texto na verdade seria sobre um beijo que não dei, e penso "mais uma coisa que eu não acho o suficiente pra sair da cabeça" eu jogo de novo pra lá. Parece que do nada eu as sinto mexendo e já penso em mais um motivo para não agir. Sempre aparecem vários.
Te proponho escrever um texto ou uma frase - sem pressão - em quatro dias, com um tema que fale de você. Por exemplo, deixar de fazer algo por saber que aquilo pode ou não surtir diversos efeitos e talvez seja melhor não pensar nisso agora. Neste caso, só escrever pra você dentro da sua própria cabeça e lembrar daquilo sempre que puder ou até ter a tentação de colocar aquilo pra fora e sentir o prazer de ler.
Prazer passa, e eu ainda não sei se posso fazer um texto sobre aquilo que estava pensando, tá do lado esquerdo. Cantam por aí que com um beijo no ombro o recalque passa longe. Quem me dera que fosse só beijar o ombro. Estou beijando agora e ainda reprimo minhas ideias.

- Oliver Fagundes

8 comentários:

  1. Achei genial a analogia entre o recalque e os textos. Muito bom mesmo!

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  2. Que texto leve! As analogias estão presentes, mas com coisas cotidianas. Muito divertido de ler!

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  3. O tema é excelente! Me vi nesse texto. O final com a referencia de "beijnho no ombro" ficou sensacional

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  4. Achei a história muito interessante, principalmente por ser um enredo que foge um pouco dos que vemos aqui. Gostei mais ainda da menção ao "beijinho no ombro", usou a referência muito bem!

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  5. Gostei muito, apresenta muitas características estudadas em sala. Parabéns!

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  6. O texto é realmente excelente. De alguma forma me vi dentro dele. A ideia da abordagem do tema foi bem criativa e abragente. Parabéns!

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  7. Ao ler teu texto, eu só pensei "meu deus, porquê você tá me definindo?" hahahahhaha muito bom mesmo, representou todo mundo! Hoje e todo mundo ler mesmo que seja 10 anos depois de escrito.

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