O Karaokê
Eu nunca havia notado, mas eu sentia
inveja. Sentia inveja de uma liberdade
que parecia existir nas outras pessoas, mas faltar em mim. Refiro-me aqui à
arte de não se preocupar com julgamentos alheios ou com a imagem que
desconhecidos terão de você. Matéria na qual sempre fui péssima.
Por isso, minha inveja não era direcionada a
alguém específico, mas a todos que tinham a habilidade de ser quem queriam ser.
Nem era algo maldoso também. Apenas desejava poder sentir-me livre, assim como eles.
O problema era que, como disse antes, nunca
havia me dado conta desse sentimento, ou pelo menos nunca tinha parado para
pensar nisso. Tal reflexão só surgiu quando, em um karaokê com amigos, um deles
se sentou ao me lado e perguntou se podia ser sincero. Ao ouvir minha resposta
positiva, me disse que eu deixava de viver como queria para viver como achava
que os outros queriam. Ele estava coberto de razão.
Ali, comecei a rever tudo o que já havia
deixado de fazer e falar. Ali, revi todas as limitações que eu mesma criei para
mim, por medo da opinião geral. Naquele momento mais do que em qualquer outro,
invejei aqueles que, diferente de mim, não criavam suas próprias barreiras.
Decidi então que iria mudar.
Levantei e resolvi que iria subir no palco e
cantar - coisa que minhas amigas sempre faziam, e eu não - como primeiro ato de
mudança. Determinada, escolhi a música mais clichê que tinha, coloquei meu nome na lista para me apresentar e esperei
minha vez. Quando anunciaram que eu seria a próxima comecei a andar para o
palco, e então o vi. O cara que eu gostava estava sentado em uma das mesas do
karaokê. Desisti na mesma hora, o que ele iria pensar de mim? Ia rir. Dei meia
voltar volver e sentei de novo. Deixei a mudança pra depois, por enquanto ia
ficar na inveja.
Greta
hahaha adorei a quebra de expectativa no final e acabou ficando com bastante cara de cronica mesmo, muito bom!
ResponderExcluirPor mais que o tema tenha ficado bem explícito, o texto ficou ótimo. Concordo com a pessoa de cima sobre a quebra de expectativa, deu um toque de crônica mesmo.
ResponderExcluirtambém não achei que o tema explícito tenha comprometido o texto, ficou muito bom o final, mostrando que nem todos conseguem se livrar tão facil desse sentimento
ResponderExcluirtambém não achei que o tema explícito tenha comprometido o texto, ficou muito bom o final, mostrando que nem todos conseguem se livrar tão facil desse sentimento
ResponderExcluirUm texto muito bom, com idas e vindas em relação à expectativa inicial. Parabéns!
ResponderExcluir