domingo, 18 de setembro de 2016

Dora

Padre há muitos anos, sempre desempenhei meu devido papel na comunidade, sem nunca me desvirtuar. E estava determinado a continuar assim, até que a conheci.
Dora era seu nome. Nova na cidade, Dora começou a frequentar a Igreja assim que chegou. Com uma beleza de chamar atenção, foi à missa de Domingo acompanhada do Coronel Feliciano. Não consegui mais desviar o olhar, durante todo o sermão tudo o que fiz foi admirá-la. No final ela e o coronel se aproximaram e ele nos apresentou. Viúvo há muitos anos, ele havia decidido se casar novamente, e ela era a escolhida.
Naquela noite não consegui tirá-la da cabeça e revi todos os detalhes da imagem de Dora, desde suas feições até sua roupa. Apavorado com tal comportamento, me repreendi, e decidi que não deveria mais pensar nisso. No entanto, a encontrei em meus sonhos.
Não conseguia esquecê-la. Suas idas à Igreja se tornaram meu anseio, sua ausência, minha decepção. Eu não devia agir assim, pensar dessa forma, eu sabia disso, mas não conseguia evitar.
A realidade me impedia de seguir os desejos que ficavam em meu íntimo. A lembrança de meus votos me enchiam de culpa, frente aos pensamentos que estava tendo. Comecei a me perguntar se valia a pena abandonar minha carreira para seguir meus impulsos.
Ela era casada, comprometida com Coronel Feliciano. Mesmo que eu deixasse de ser padre, ainda seria errado. Tentar algo ainda seria proibido. Fui obrigado, assim, a desistir. Fui obrigado a empurrar para canto escuro da minha mente os sentimentos que criei por Dora.


Greta

4 comentários:

  1. Achei bem interessante, me pareceu mt aqueles textos do período realista de denúncia da estrutura religiosa. A escolha das palavras simples e um texto mais enxuto fez a leitura bem mais leve. Parabéns.

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  2. Acredito que a sutileza foi perdida no último trecho pelo fato do recalque ter ficado muito explícito.

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  3. gostei do protagonista ser um padre. recalque bem evidente!

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