Às vezes
E foi só mais um casinho qualquer. Nos conhecemos no colégio, eu e ela. Entre idas e vindas, achamos que a gente combinava. Andamos de mãos dadas, conversamos, sonhamos. Até que acabou, e ponto final. Seguimos em frente, tão bem quanto antes, ela lá e eu cá.
Os anos se passaram e o engraçado
é que ela ainda invade sorrateiramente meus sonhos confusos, às vezes. E seu
nome ainda escapa sorrateiramente por entre meus lábios quando estou em outra
companhia, às vezes. E mesmo sem ser questionada, já cuspo, de pronto:
"não é ninguém, desculpa". Mais pra mim mesma, como um reforço de que
já a esqueci faz tempo.
E ao encontrar com alguém do
passado, sempre me perguntam da gente. E na minha mente já roda um filme tão
vívido de todos os momentos que passamos que por um instante me questiono se
realmente a esqueci, mas é claro que sim. Não é como se ainda pensasse em nós.
Ela só invade meus sonhos confusos, às vezes.
Esses detalhes vívidos em minha
mente contam a história de como nos conhecemos em março, eu e ela. E como desde
então, conversamos sem parar. Sobre a vida, sobre a morte, as profundezas do
espaço e o futebol de domingo. E como gostávamos de deitar em seu quintal e
apreciar o movimento das nuvens por horas a fio. E como eu, que nunca fui de me
entregar, depois de tão pouco tempo já estava com o coração numa caixinha
embrulhada pra presente endereçada à sua porta. Número 23, fundos. E como em
seus braços me descobri, descobri o que era capaz de sentir. Mas do fim, desse
eu não tenho muita certeza. Éramos dois seres em ebulição regidos por um Sol em
fogo. E numa noite de explosão, tudo foi posto em chamas. E com o passar do
tempo, tudo virou cinzas. E já não sinto nada, nem me lembro. Ela só invade
meus sonhos confusos, às vezes.
E desses sonhos acordo, com as
mãos geladas e o coração acelerado, me perguntando se algum dia encontrarei um
jeito mais eficiente de fingir que foi só um casinho qualquer.
Rita.
É um texto muito bom. Envolvente na maneira que retrata os sentimentos e o recalque aparece fácil
ResponderExcluirO texto é muito bonito e bem escrito mas achei o tema um pouco clichê e pouco impactante.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei de como o recalque ficou facil de se ler e da ironia do texto. Muito boa a leitura e sem enrolação.
ResponderExcluirachei legal vc ter feito uma historia de duas meninas que se amaram, acho que foi a unica cronica que explorou esse lado.
ResponderExcluirachei legal vc ter feito uma historia de duas meninas que se amaram, acho que foi a unica cronica que explorou esse lado.
ResponderExcluirApesar de ser uma história de amor, e ser considerada "clichê", eu adorei. E foi um dos poucos "clichês" que vi por aqui e que gostei de verdade. O texto foi muito bem escrito, a leitura é muito boa, e você acaba gostando da personagem. O recalque ficou bem explícito, mas não de uma maneira ruim, ficou claro de entender.Gostei também do final, em que ela admite para si mesma o que vinha tentando negar, que não havia sido um casinho qualquer.
ResponderExcluirA história é simples,não me surpreendeu muito, porém o tema foi bem trabalhado dentro do enredo.
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