sábado, 9 de novembro de 2019


Diário da Sushi #2


Niterói, 23 de outubro de 2019,
Querido diário...
                Aqui estou eu novamente fazendo minhas confissões para você, apesar do tom de imaturidade que eu possa trazer para temas sérios e complexos. C’est la vie. Bom, pelo menos uma ida à orla do Gragoatá não precisa ser séria, nem muito menos complexa. Mas às vezes é. Isso porque hoje vou falar sobre ele, ele que poderia ser ELE, mas é apenas ele...
Na primeira vez que fomos para a orla eu não esperava que nada acontecesse, só queria mostrar a vista: a Ponte Rio-Niterói que permanece imóvel enquanto os carros, que parecem pequenas formiguinhas, vão de um lado para o outro; as barcas que atravessam a Baía de Guanabara mais rápido do que esperamos; e os aviões no céu, que se preparam para pousar no aeroporto Santos Dumont. Ele me beijou. Eu comentei que da orla conseguíamos ver quase todos os meios de transporte. Ele me beijou de novo.
Na segunda vez que fomos para a orla já fazíamos planos, eu pedi para ele trazer uma canga de casa, visto que a grama é cheia de formigas que atacam nossas pernas sem pena. Ele trouxe. Deitamos. Por acidente acabamos achando uma posição perfeita em que conseguíamos ficar deitados, olhar um para o outro e ainda sim ver a paisagem. Não te explico como, caro diário, porque essa é a nossa posição. Ele me beijou. Colocamos Lana Del Rey para tocar e ele ficou bagunçando meu cabelo. Eu o beijei.
Na terceira vez que fomos para a orla só fomos porque já estava marcado, não houve canga e nem música dessa vez. Ele falou que precisava conversar comigo, eu concordava, mas não queria. As marolas da baía estavam mais fortes naquele dia. Ele deitou no meu colo e falou que não sentia amor por mim. Eu nunca tinha falado de amor, mas ele estava tão bonito falando isso. Eu ri e baguncei o cabelo dele. Um barco fez um barulho alto que ecoou por toda a orla. Ele me abraçou. As formigas começaram a nos atacar falando que nosso tempo ali tinha acabado. Essa seria nossa última orla.

SUSHI SASHIMI

5 comentários:

  1. embasbacado. eu to embasbacado. eu sou suspeito a falar porque tenho uma quedinha por coisas sentimentais, mas lá vai: que texto incrível cara. muito bom mesmo. me deixou com um incômodo da garganta pq me identifiquei demais (e deus sabe que não queria me identificar). adoro a forma que você escreve cara. dá tanta emoção. transmite tantas coisas.

    ResponderExcluir
  2. Que texto lindo. Muito real e envolvente. Acho que todos nós já sentimos algo parecido e essa orla deve guardar muitas histórias de amor (ou de não amor). "Dá tanta emoção" como o Ben disse.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns pelo texto,muito bom mesmo.O jeito que a história se desenrola prende o leitor,elementos como as formigas e a paisagem faz com que o leitor se reconheça no texto.A repetição de"ele me beijou" funciona muito também.

    ResponderExcluir
  4. Texto tecnicamente muito escrito. Porém, a história não me empolga, achei bobo, não gostei.

    ResponderExcluir
  5. Esse texto é incrível. Tenho várias partes favoritas. Me deixou sensível e triste mas também feliz porque é tão bom de ler! Tem início, meio e fim claros e o desenvolvimento é perfeito, flui. Sem defeitos, Sushi. Parabéns!

    ResponderExcluir