sexta-feira, 15 de novembro de 2019


Tribunal online
 

Você está se preparando para casar. Já reservou tudo e cuidou de todos os detalhes da cerimônia e da festa. 24 horas antes do casamento você recebe uma mensagem do noivo informando que ele mudou de ideia. Então você decide manter a festa e casar com você mesma. Como você é uma influencer, compartilha todos os detalhes do casamento solo com seus seguidores, mas você começa a ser atacada. Diversas pessoas te criticam e te acusam de querer chamar atenção e inventar uma situação para se promover. No dia seguinte, ela se atirou do nono andar de um prédio.

Esse caso aconteceu em julho deste ano com a blogueira Alinne Araújo. Ela foi só uma dentre várias vítimas que sofreram e sofrem com as consequências reais do linchamento virtual. A verdade é que hoje julgamos muito as pessoas sem saber um terço da vida delas. Sei que quando a Alinne foi abandonada pelo noivo, ela não ficou feliz. Porém, se ela decidiu manter a festa e se casar sozinha, foi a escolha dela. Foi a maneira que ela encontrou de lidar com a dor dela. Isso não significa que os outros devem pensar e agir igual, apenas entender e aceitar a atitude dela.

Existem diversos outros exemplos de linchamento virtual que ocorrem por fotos ou comentários postados da forma julgada como inadequada pela sociedade. Mas da mesma maneira que gentileza gera gentileza, violência gera violência. Se uma pessoa posta algo ofendendo ou agredindo um grupo ou um indivíduo, ela deve sim ser questionada, mas ao questionar sempre deve-se lembrar que do outro lado existe um ser humano, que também é passível de erro.

Não quero aqui defender pessoas que disseminam ofensas e ódio, mas acredito que retribuir com ameaças e ataques um comentário maldoso não vai fazer a pessoa entender seu erro. Existem limites para a nossa liberdade de expressão que precisam ser seguidos e respeitados.

Precisamos ter mais empatia com o outro, no geral. A internet não precisa funcionar como um tribunal onde a qualquer momento uma pessoa pode ser condenada. É importante sempre termos em mente que o linchamento pode até começar nas redes sociais, mas ele se estende e provoca consequências na realidade.

Alice Gold

3 comentários:

  1. Gostei que o exemplo que você utilizou não tem viés político, mostrando que os linchamentos virtuais ocorrem por inúmeras razões.
    Texto mt bem escrito. Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Muito criativo e importante o paralelo com o caso recente da blogueira que se matou por conta do gatilho de um linchamento virtual, porque mostra que comentários que as pessoas fazem na internet podem gerar diferentes consequências. No caso da menina ela se matou, no caso do Pedro ele foi ameaçado de morte. Palavras podem matar, e vale ressaltar isso como feito no texto.

    ResponderExcluir
  3. Trazer o caso da blogueira foi muito importante porque mostra bem os desdobramentos da violência virtual fora da internet. Eu não conhecia a história e acredito que você conseguiu demonstrar muito bem a seriedade do problema sensibilizando o leitor. Gostei desse diferencial de mostrar um linchamento causado por uma questão totalmente pessoal. Parabéns!

    ResponderExcluir