Porque eu?
Boa dia, galera. Hoje é
um dia muito triste pra mim, pra minha família e pro país. Me chamo João Roque,
18 anos, de São Gonçalo, sou candomblecista e estudante. Porém, pra contar
minha história, devemos voltar a uns 300 ou 400 anos. Minha fé sempre
incomodou, sempre trouxe muita dor aos meus, não podíamos dançar capoeira, não
podíamos tocar pandeiro e nem sambar, é isso mesmo, vivíamos esse absurdo até
começo do século XX. Tudo que era preto era do demônio, e hoje ainda
continuamos assim.
Minha família sempre
exerceu sua fé, batemos tambores em homenagem aos nossos orixás e eu como filho
de Xangô, odeio a injustiça. E isso sempre me intrigou, porque não podemos
exercer a nossa fé de maneira como está definida na Constituição? Por que
não posso colocar minhas guias e andar tranquilo nas ruas? Por que não posso
postar fotos das festas dos meus terreiros sem que alguém fale que está fazendo
pacto com o diabo? Por quê? Será que é tão difícil viver em paz, quando as
pessoas te odeiam sem ao menos conhecer você e sua religião.
E assim, em um dia
normal, eu tomei a decisão de expor minha fé. Coloquei na descrição do meu
instagram:
João Rock
Morador de São Gonçalo
Do samba/Funk/Rap é
isso!
Filho de Xangô
E com isso eu passei a
ostentar as minhas guias, porque é ostentação ter guias tão lindas feitas de
contas que minha avó faz pra mim, ela mãe de santo do babado, ela é a braba dos
terreiros. Bate tambor, canta, dança e tudo isso na maior alegria. Voltando a
minha estória, a partir desse dia não tive mais paz, eu postava uma festa que
acontecia no terreiro e pessoas que eu considerava amigas, começaram a atacar,
a me chamar de macumbeiro dos diabos, filho do satã, se eu matava bichos e
entre outras barbaridades, matam bichos sim! mas, bichos que todos matam e que
depois viram refeição para os filhos de santo.
E isso me revoltada, por
que só a minha religião? Todos podem confessar sua fé em paz, mas aí eu
entendi, como nas aulas de história de brasil colônia, tudo que é negro ofende,
é feio, é excluído por esse sociedade branca. Eu moro em um bairro que dominado
pela facção “IPC” - Irmãos Por Cristo, e eles odeiam tudo que não do deus
deles, incluindo minha família. Até que o pior aconteceu, primeiramente pra
minha avó, destruíram o terreiro dela a tiros, e isso me revoltou ainda mais.
Logo depois, num dia de manhã, indo comprar, na minha, sem camisa, até que sou
parado por duas motos, eles descem e apontam:
- olha ali o macumbeiro,
aquele que desagrada deus. Exclamou o chefe da boca
Eu falei:
- calma aí, maluco.
Tentando me defender.
Porém, não teve
conversa. 2 tiros na minha cabeça. E eu fui embora.
Agora, eu estou em outro
plano, conversando com minha avó que escreve essa carta pra deixar um alerta
pra nossa sociedade, a fé que não seja igual a do outro, me matou. Porém, eu
sou filho de Xangô, o DEUS DA JUSTIÇA, e tudo se acertará na hora certo.
João Roque, 10/11/19.
João Danado
Eu não entendi muito bem como o texto se encaixa na proposta, mas acredito que seja na questão do fanatismo religioso, sendo assim, não sei se foi sua intenção, mas achei importante que alguém abordasse o que DE FATO acontece no Brasil, qual fé DE FATO é perseguida. Só em 2019 mais de 30 terreiros foram destruídos no Rio de Janeiro por fanáticos religiosos pertencentes de facções e milícias, por gente que TEM CORAGEM de fazer exatamente o que o Pedro defendeu em suas redes sociais. Não sei se fiz a leitura correta, mas parabéns pelo texto!
ResponderExcluir