sexta-feira, 15 de novembro de 2019


Porque eu?


Boa dia, galera. Hoje é um dia muito triste pra mim, pra minha família e pro país. Me chamo João Roque, 18 anos, de São Gonçalo, sou candomblecista e estudante. Porém, pra contar minha história, devemos voltar a uns 300 ou 400 anos. Minha fé sempre incomodou, sempre trouxe muita dor aos meus, não podíamos dançar capoeira, não podíamos tocar pandeiro e nem sambar, é isso mesmo, vivíamos esse absurdo até começo do século XX. Tudo que era preto era do demônio, e hoje ainda continuamos assim.

Minha família sempre exerceu sua fé, batemos tambores em homenagem aos nossos orixás e eu como filho de Xangô, odeio a injustiça. E isso sempre me intrigou, porque não podemos exercer a nossa fé de maneira como está definida na Constituição? Por que  não posso colocar minhas guias e andar tranquilo nas ruas? Por que não posso postar fotos das festas dos meus terreiros sem que alguém fale que está fazendo pacto com o diabo? Por quê? Será que é tão difícil viver em paz, quando as pessoas te odeiam sem ao menos conhecer você e sua religião.

E assim, em um dia normal, eu tomei a decisão de expor minha fé. Coloquei na descrição do meu instagram:

João Rock
Morador de São Gonçalo
Do samba/Funk/Rap é isso!
Filho de Xangô

E com isso eu passei a ostentar as minhas guias, porque é ostentação ter guias tão lindas feitas de contas que minha avó faz pra mim, ela mãe de santo do babado, ela é a braba dos terreiros. Bate tambor, canta, dança e tudo isso na maior alegria. Voltando a minha estória, a partir desse dia não tive mais paz, eu postava uma festa que acontecia no terreiro e pessoas que eu considerava amigas, começaram a atacar, a me chamar de macumbeiro dos diabos, filho do satã, se eu matava bichos e entre outras barbaridades, matam bichos sim! mas, bichos que todos matam e que depois viram refeição para os filhos de santo.

E isso me revoltada, por que só a minha religião? Todos podem confessar sua fé em paz, mas aí eu entendi, como nas aulas de história de brasil colônia, tudo que é negro ofende, é feio, é excluído por esse sociedade branca. Eu moro em um bairro que dominado pela facção “IPC” - Irmãos Por Cristo, e eles odeiam tudo que não do deus deles, incluindo minha família. Até que o pior aconteceu, primeiramente pra minha avó, destruíram o terreiro dela a tiros, e isso me revoltou ainda mais. Logo depois, num dia de manhã, indo comprar, na minha, sem camisa, até que sou parado por duas motos, eles descem e apontam:


- olha ali o macumbeiro, aquele que desagrada deus. Exclamou o chefe da boca


Eu falei:


- calma aí, maluco. Tentando me defender.

Porém, não teve conversa. 2 tiros na minha cabeça. E eu fui embora.

Agora, eu estou em outro plano, conversando com minha avó que escreve essa carta pra deixar um alerta pra nossa sociedade, a fé que não seja igual a do outro, me matou. Porém, eu sou filho de Xangô, o DEUS DA JUSTIÇA, e tudo se acertará na hora certo.

João Roque, 10/11/19.


João Danado

Um comentário:

  1. Eu não entendi muito bem como o texto se encaixa na proposta, mas acredito que seja na questão do fanatismo religioso, sendo assim, não sei se foi sua intenção, mas achei importante que alguém abordasse o que DE FATO acontece no Brasil, qual fé DE FATO é perseguida. Só em 2019 mais de 30 terreiros foram destruídos no Rio de Janeiro por fanáticos religiosos pertencentes de facções e milícias, por gente que TEM CORAGEM de fazer exatamente o que o Pedro defendeu em suas redes sociais. Não sei se fiz a leitura correta, mas parabéns pelo texto!

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