sexta-feira, 8 de novembro de 2019


NA ROTA DOS LOUCOS

Dizem que sou forte.
Dizem que eu sou corajoso.
Dizem que eu sou guerreiro.
Ou simplesmente dizem que sou louco.
Hoje acordei mais cansado que ontem, contei alguns segundos para reunir todas as forças e energias possíveis de um guindaste imaginário que me puxasse da cama.
Bem alimentado e de banho tomado, lá fui eu na rota dos loucos, pé na estrada, peguei o ônibus, dei boa tarde ao motorista, sempre muito gentil. Sentei degustando aquele maravilhoso ar condicionado capaz de me tirar do calor infernal do Rio de Janeiro e me levar ao delicioso inverno europeu em apenas cinco minutos. PUM! Apaguei, dessa vez mais rápido que o dia anterior. Meu corpo, talvez já acostumado me avisa do ponto final, mas sem desespero, abro os olhos e lá está àquela vista, um bom dia que eu sempre quis, já vendo meu destino final, ainda consigo aproveitar uns 10min de visual, dependendo do trânsito, e mais uns 90 dependendo de um professor que resolve não aparecer ou eu mesmo que resolvo não pegar presença hoje.
Prefiro algumas vezes é ficar ali, parado olhando aquele pequeno oceano, que traz reflexos do sol, da chuva, da luz da cidade ou dos barcos e ver até aonde aquela corrente leva meus pensamentos. 
Viajo no movimento dos barcos e logo penso que me encontro livre e forte como aquele navio cargueiro que passa, mas preso como uma barca, sempre naquela mesma rota e mesma rotina, acordando mais cansado que no dia anterior, sempre lutando pra levantar, dar boa tarde ao mesmo motorista, sentir o mesmo frio no ônibus, dormir e acordar sempre com o mesmo medo de ir parar nas entranhas de Niterói e de lá não saber como voltar pra casa.
Casa que observo do outro lado da poça, que depois das seis logo se ilumina pra mim, como se me indicasse o caminho da volta, até o pontinho mais iluminado, que com todo seu brilho, mais radiante que o Cristo Redentor, hoje iluminado de azul, me aguarda para mais uma noite de descanso físico e mental.
Nossa! Não sabia que a baía de Guanabara poderia me trazer tantas reflexões de vida, imagina se fosse mais bem cuidada.
 Brócolis Verde

2 comentários:

  1. Adorei seu texto! Gostei especialmente da sua comparação com os diferentes barcos, achei brilhante de verdade. Sua crônica tem um ritmo bom, e vai levando o leitor até o final sem precisar de esforço. Só achei a última frase meio desconexa, quebrou um pouco o ritmo pra mim porque não houve uma construção sobre o aspecto ambiental ao longo do texto. Mas tirando esse detalhe achei muito bom! Parabéns!

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  2. é, concordo com souza queiroz. é um bom texto, bem leve e com uma pontada de humor. tem um ritmo próprio e por isso o final deixa um pouco a desejar.

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