Cuidado com o sofá novo
Olho pro azul infinito. Azul saturado do céu de um dia de
42º graus editado no Lightroom. Azul cinza poluído de um mar inabitado. Azul.
Infinito.
Cada um tem seu infinito particular, mas o triste azul, esse
é coletivo. Toma conta desse Rio de Janeiro já e eu sei que você sente, do lado
de lá e do lado de cá desse mar morto. Nos resta descobrir a melhor posição de
se sentar nesse sofá novo e melancólico.
Já o infinito! Poxa, pra mim infinito é mais adjetivo do que
quantidade. Posso explicar. Pode ser pique aqueles números tão grandes que você
não consegue imaginar aquele tanto de coisa na sua frente. De janeiro a agosto
de 2019 foram 1.249 mortes em ações da polícia no estado do Rio de Janeiro (segundo
o ISP). Tu imagina esse tanto de corpo estirado na tua frente?
Mas também pode ser um vazio, um nada. Tipo o que as pessoas
sentem quando descem do carro e tentam se matar na Ponte Rio-Niterói. Acontece
todos os dias, minha amiga enfermeira disse. Eu mesmo já vi um da janela do
busão vindo pra casa. Infinita solidão azul.
Sinto tanto por alguém chegar a esse ponto, mas a verdade é
que ninguém pode lhes culpar, isso é Rio de Janeiro na sua mais pura essência.
Caos. Azul. Concreto. Sofá.
A vida tem sido um sofá bem feio e desconfortável, mas é o
que temos pra sentar e eu não vou fazer a desfeita com as visitas que vão ficar
na sala. Seguimos.
Desculpa a melancolia. Azul é a cor mais merda.
Jackie
Tequila
"Já o infinito! Poxa, pra mim infinito é mais adjetivo do que quantidade" que lindo! Apesar de estar encaixado em um contexto bem pesado.
ResponderExcluirAdorei o cunho crítico misturado à escolha das palavras. Gostei muito do texto e gostaria que você me explicasse um pouco mais sobre a imagem do sofá. Parabéns!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei do cunho crítico da crônica, as críticas foram muito pertinentes e encaixaram-se muito bem na temática de "olhar além do que olhos veem", parabéns!
ResponderExcluirUm texto que nos puxa de volta a realidade. Intenso. Bela escolha de palavras e analogia ao sofá de casa, parabéns!
ResponderExcluirAdorei o tom poético e crítico do texto. As analogias e a construção de imagens ao longo da narrativa foram perfeitas. Parabéns!
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