sexta-feira, 11 de maio de 2018

Encontros

A faculdade há alguns anos era um sonho. Eu tinha a sensação de que estaria aqui um dia, afinal esse é o “curso normal” da vida: creche, escola, faculdade e emprego (apesar de, para muitos, a vida acadêmica acabar antes da segunda etapa). Mas eu não saberia como chegaria, quem eu seria ou o que faria aqui.

Chegar aqui não foi fácil, o sistema não foi justo, nem a vida colaborou. São horas dedicadas a estudar para que 180 perguntas e uma redação resumam seu futuro e capacidade de ter acesso ao ensino superior ou não. A vida não colabora pra ninguém, e tirar as lições dos nós que ela ata talvez seja a graça dela.

Jornalismo foi o curso escolhido. Entre as opções que flutuavam na minha mente, aqui eu cheguei: pelo acaso, destino, planos divinos maiores... Esse foi o lugar reservado pra eu estar. O objetivo antes de chegar aqui sempre foi criar o maior número de laços possíveis. Gerar encontros é o que move o meu ser, me dá ânimo de viver. A complexidade humana me encanta, e conviver com pessoas diferentes de mim me enche de vida e alegria. Eu fui feita pra viver de afetos. Os tristes e os alegres, mas afetando e sendo afetado.

Os afetos não tardaram a acontecer na UFF. Eles acontecem o tempo todo: no ônibus universitário, um olhar carinhoso para aquela menina que tem um cabelo legal. Bom dia pro porteiro do bloco A. E aí, pro seu colega de classe. Até uma leitura surpreendente, com a capa de batata frita. A identificação com cada palavra daquele livro me fez sentir vivo. Só um coração isolado sabe o conforto que traz um texto ou um livro que fala exatamente o que você acredita ou sente. Epifania. Encontro consigo mesmo.

Alguns dias depois, um encontro com o autor, Henrique Rodrigues era o nome dele. Diferente do que eu imaginei, aquele homem tinha uma feição que me fazia sentir confortável. Com 42 anos e um jeito de jovem, aquele mesmo que havia descrito no livro, a minha curiosidade pra entender a história daquele cara era gigante. Junto com o jeito perdido e avoado que eu me identifiquei, a história da vida dele me inspirou. A humildade no jeito de falar com nós me faz sentir numa mesa de bar batendo um papo sobre a vida e suas mazelas cotidianas. A simplicidade me encantou. E me fez querer continuar a conversa por alguns dias, saber das experiências nos outros empregos, do fim que teve a menina que lia Drummond e até as coisas que o poeta falava nas horas de expediente no Mc Donald’s.

Eu não sei se vou vê-lo algum dia de novo. Não sei se ele percebeu minha presença pequena naquela sala. Mas sinceramente, isso não me importa. O que fica na minha memória desse dia foi o encontro de um escritor e um admirador. O encontro de duas pessoas em busca de vida. De sentido na vida. A ele, restou a experiência de contar parte da sua história e seus pensamentos a uma turma de calouros, em sua maioria, que tem muito o que aprender pela frente, na faculdade e na vida. Pra mim, restou a consciência de que não estamos sozinhos. Cada livro é uma história, e cada história é um novo encontro.

Por Desproporção sentimental.

3 comentários:

  1. Gostei bastante, simples e gostoso de ler.

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  2. Desproporção, que maravilhosidade de texto <3
    Que conclusão mais linda! Se estamos aqui é porque não poderia ter sido de outro jeito! Era pra todos nós aqui desse blog ter nos conhecido, era pra nós estarmos nessa faculdade maravilhosa, pra nós lermos esse livro <3
    O motivo? Eu não sei. Mas posso dizer que tá valendo a pena!

    Mary-Louise P.

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  3. Eu gostei desse peso reflexivo que você deixou no primeiro parágrafo ao dizer que para muitos, a vida acadêmica acaba antes da segunda etapa. Além disso, me identifiquei e super concordei com várias partes do texto! Foi um texto simples que me prendeu do início ao fim, parabéns!

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