O livro “O próximo da fila” do autor Henrique Rodrigues trata de abordar a vida de um jovem que, ao perder o pai, teve que enfrentar a realidade dura do trabalho e os acontecimentos que ser um adulto trouxe à ele. O escritor nasceu no Rio de Janeiro em 1975, é doutor em Letras pela PUC-Rio e escreveu outros livros como “O livro branco” e “Como se não houvesse amanhã”, inspirados nas músicas dos Beatles e da Legião Urbana, respectivamente.
Na obra de “O próximo da fila”, o início do texto mostra um cliente indeciso na fila de uma lanchonete, caso comum na rotina da maioria da população que frequenta esse tipo de lugar. O homem parece ter vivido a mesma situação de um rapaz que observa e ao decorrer da leitura, dá-se a entender que esse sujeito é um escritor pronto para narrar sua própria história.
A obra dividida em quatro partes e capítulos a partir das mesmas, mostra uma boa didática e forma de leitura, facilitando a compreensão do leitor. Ao final de cada parte, começando pela breve introdução, o autor coloca momentos que parecem os pensamentos do personagem principal, que é o menino considerado inteligente por todos, que perdeu o pai e foi trabalhar em uma lanchonete e a partir dessa mudança viveu suas primeiras experiências de sexo, trabalho, romances e divergências.
A primeira parte do livro conta a infância e o fato que fez com que o personagem principal tivesse uma mudança de vida. A importante cena do pai levando o filho ao supermercado, onde um garoto empacotador, chamado de marrequinho, é elogiado pela figura paterna e sua habilidade no trabalho marca o decorrer da história. O menino tinha treze anos no ocorrido e leva tal lembrança por toda sua trajetória como aprendizado para seu trabalho no futuro. A morte do pai fez com que as contas apertassem e a família composta por mãe, irmão e duas tias, reconhecidas na narrativa como primeira tia, a mais rabugenta e segunda tia, a mais cautelosa, mudassem de moradia para um lugar mais pobre.
A mudança não foi só de casa, mas também de colégio e de conforto. O menino foi morar em um local que tinha a proprietária, uma senhora mais velha, vivendo na casa principal enquanto sua família vivia nos fundos. Nesse momento, ocorre uma pausa, que conta a história de uma menina que vivia na roça e era abusada sexualmente pelo pai. Cansada de viver essa realidade e após ver sua mãe morta pelo pai, a criança o mata com água fervendo e foge com sua irmã durante uma noite escura e triste. Tal fato parece a história da mãe do personagem principal. A sétima divisão da segunda parte do livro relata a mudança do menino do colégio particular para o público. A briga no colégio mostra a série de desconfortos que viriam a seguir, seja nas noites mal dormidas no sofá, a antítese da dificuldade com a nova facilidade escolar e a procura do primeiro emprego. Resultado: cansaço extremo do jovem rapaz.
A segunda parte do texto inicia com a dispensa do menino de alistar-se ao exército. Nesse momento, o garoto procura algum emprego, chegando ao de atendente de lanchonete. Passa por uma peneira até ser o escolhido. A felicidade de todos em sua casa foi grande, fazendo a promessa do carrinho de controle remoto ao irmão mais novo ser o momento de doçura do capítulo depois de tantas reclamações da primeira tia em meio a alegria. A rotina de trabalho é desenvolvida na narrativa e a lanchonete vira cenário principal, descrita como uma rede multinacional famosa de fast-food. Os acontecimentos, além de terem como cenário a casa antiga e nova, ocorrem principalmente, no balcão, estacionamento, sala dos funcionários e cozinha, onde ocorre o fatídico momento em que o menino acidentalmente cai com as mãos sobre a chapa, deixando marcado um “M” em suas mãos.
Os dias de descanso após acidente trazem novos personagens à história. A treinadora, junto da baixinha levam o negro para visitar o acidentado. O último seria parte importante uma vez que sempre procurava alertar o futuro amigo acerca das intenções maldosas dos membros da lanchonete. Principalmente do gerente de bigode que procurou o menino agora marcado nas mãos para uma estranha conversa no capítulo doze. Antes disso, o personagem principal foi a sua primeira festa feita por funcionários fora do expediente na qual teve sua primeira relação sexual com a baixinha, que não faz mais parte da equipe por ter sido flagrada roubando dinheiro do caixa. Consequentemente, o personagem principal tomou seu lugar junto ao negro, onde se destacariam.
Outros personagens são descritos na história, como o gerente do balcão, o dos patins, o poeta, o religioso, o franqueado, o escritor e a garota de óculos e dos cabelos encaracolados, que se tornaria mais tarde namorada do garoto. Antes de tal acontecimento, os funcionários resolvem fazer uma greve em função do atraso salarial. A consequência é a demissão do negro e revolta geral. Insatisfeito, o garoto tem que continuar seu trabalho na lanchonete por necessidade e suas idas tornam-se mais agradáveis ao esperar a cliente com seus cabelos cacheados. Eles se encontram no trabalho dele até que tornam-se um casal no final da parte três.
A linguagem verbal usada apresenta traços de coloquialidade uma vez que palavras de fácil entendimento, junto à gírias e palavrões são utilizados durante o texto. A introdução apresenta um narrador onisciente já que apresenta uma parte contada em terceira pessoa, sem o narrador participar das ações. Contudo, ao decorrer do texto há uma mudança onde a primeira pessoa está presente mostrando um narrador personagem. O enredo parece ter um início de Flashforward com a explicação de um futuro que parece o homem que vai visitar a lanchonete e depois volta ao passado com linearidade. Ao decorrer do texto, o mesmo demonstra ser não-linear por contar a história, depois da introdução, do passado ao futuro, mas contendo diferentes partes no meio dessa sequência.
A quarta parte trata de dar mais detalhes sobre como o pai e a mãe do garoto se conheceram. Depois disso, desenvolve o relacionamento amoroso do menino e da garota que segue firme, onde ele a busca no shopping onde trabalha algumas vezes. Ela frequenta bastante a casa dele demonstrando certo mistério por não deixá-lo conhecer sua família. O motivo seria o padrasto intolerante, a irmã bagunceira e a mãe desinteressada. O incentivo da namorada ajuda o garoto a passar no vestibular, vai cursar jornalismo. Os olhares invejosos da maioria dos funcionários incomodam o menino que tenta não se importar muito uma vez que seria o primeiro de sua família a ter ensino superior.
O desfecho da história é surpreendente. Sem que os leitores percebam, o autor que se monstra um narrador personagem na maioria do texto, dá um final que ninguém espera. Ao ser indagada sobre sua família, a garota de cabelos encaracolados explica o motivo de sua vergonha. Após tal cena, o garoto mostra fotos de seu pai e conta sua história de vida. Ela, passa mal e sai correndo da casa do menino. Semanas passam e nada de notícias dela. Algum tempo depois, o padrasto explica o ocorrido: a menina descobriu ser irmã de seu próprio namorado e estaria grávida dele, não aguentando a descoberta e se suicidou. A conclusão inesperada foge um pouco do contexto que foi sutilmente descrito pelo autor ao longo do texto sem deixar com que seus leitores percebessem a inusitada finalização dessa história.
Por Mis Understood.
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