Transfiguração da arte

Uns dizem que a arte imita a vida, outros que a vida imita a arte, talvez por essa ser tão inusitada e calculada ou, simplesmente, por se confundirem em si.

Todos os parágrafos que lemos em uma obra, tentamos encaixar à nossa simples e monótona realidade, porém, na maioria das vezes, eles não cabem, pois, apesar de vivermos muitos momentos, eles não se tornam extensos o suficiente para englobar todos os acontecimentos criados.

Ler uma obra é entrar numa ficção que se torna realidade conforme vai se passando as páginas. Descobrir que tudo, ou grande parte do que foi lido, é invenção de uma suposta realidade é completamente frustrante.

Talvez eu esteja sendo malvada demais ao sentir a dor do personagem que tem a palma das mãos queimada numa chapa do McDonald’s e gostar do efeito que me causou. Mas, ouvir do autor que foi uma invenção para dar dramaticidade ao romance foi um tanto frustrante. Digamos que ele atingiu o objetivo, mas, se o fato coubesse na caixinha da realidade, seria muito mais intrigante. Feliz ou infelizmente, todos nós temos um lado obscuro.

O contato com o escritor sempre é surpreendente e muitas vezes acompanhado de um balde de água fria. A mistura da mentira e da verdade, da família e dos amigos, dos amores e decepções se une com a história dele, porque é naquelas linhas que ele expõe, principalmente, suas ideias, que têm o intuito de penetrar a imaginação fértil dos leitores.

Quando se passa a conhecer um pouco da história de quem desenvolveu o enredo da vida de outra pessoa, é possível entender o porquê daquelas palavras, daquele tema e daquela lição, afinal, tudo o que se faz, se deixa um pouco de si, e isso que é a arte.

Conheci o autor da arte, li sua obra e ainda não cheguei à conclusão do dilema inicial: não sei a arte imita a vida ou se a vida imita a arte, pois uma pode ser alterada em detrimento da outra e isso é um ciclo que não cabe na minha monótona caixa de raciocínio.

Por Emma Alfie.