Ser o próximo da fila é uma tarefa difícil, ainda mais quando se é indeciso. O desespero que bate ao olhar as centenas de imagens de lanches, todos eles bem açucarados, e ouvir o atendente dizer “o próximo, por favor” é como se tivéssemos que tomar a decisão mais importante da nossa vida em dois segundos mas, no fim, optar pela mesma refeição de sempre para não correr o risco de errar.
A questão é que todos nós erramos, mas nem todos aceitam os erros, principalmente quando não são seus. No romance O próximo da fila, de Henrique Rodrigues, há diversos personagens que permeiam a vida do protagonista, todos eles sem nomes, sendo chamados apenas por algum estereótipo marcante como a treinadora, o negro, a menina de óculos, a primeira tia rabugenta e a segunda tia ingênua, todos eles com seus erros e marcas que a vida lhes deu de presente, visto pelos olhos do protagonista.
Assim como tudo tem dois lados, toda narrativa tem o bonzinho e o malvado e, cada pessoa ao ler, terá a empatia de decidir quem se encaixa em qual adjetivo. Às vezes pode haver quem tenha os dois, mas, nesse caso, também dependerá do seu ponto de vista, caro leitor. Uma característica marcante do autor é a maneira como retrata o ambiente vivido pelas personagens e a maneira como elas interagem com o meio de forma simples e clara, a partir do estereótipo imposto, sendo essa realista e bastante descritiva, o que nos permite deduzir e visualizar perfeitamente o espaço em que se passa a história, tanto durante a abordagem familiar, a festa com os amigos e, principalmente, os arcos dourados com a grande marca M, relembrado a todo momento pela palma das mãos queimadas do personagem principal.
Todo o romance se passa dentro da vida do protagonista que, em grande parte, narra todos os seus feitos e acontecidos e, ao mesmo tempo, tem a capacidade de julgar saber quais os sentimentos e o porquê dos demais personagens terem tal rumo no percurso do enredo. Há capítulos em que o narrador é onisciente, como ao retratar a cena de abuso sofrido pela mãe na infância e o desfecho dado por ela à situação. Esse momento do livro é retratado com forte sentimentalismo e repúdio e a descrição da mente da personagem pelo autor foi uma forma espetacular de causar o que se pretendia: a empatia.
As primeiras páginas do livro são marcadas por flashbacks do protagonista ao reviver um momento de sua adolescência: desenhar infinitos infinitos no chão do McDonald’s. Essa lembrança o suscita sentimentos e então, para externar a emoção, passa a escrevê-la num pequeno guardanapo da lanchonete e assim o faz a cada término de capítulo, como se quisesse comentar, com uma nova mente e visão de mundo que tem agora, sua passada juventude conturbada e comovente. E, como se encarnasse o passado no presente, a trama dos capítulos é desenvolvida de forma linear, com a contradição das idas e voltas que a vida dá.
Esse redemoinho de acontecimentos que surgiu pelo caminho gerou um fim trágico à história. Sim, os fins justificam os meios, caro leitor. Descobrir que a garota de óculos, grande paixão da sua vida, é filha do seu falecido pai é um tanto quanto catastrófico. Talvez o autor tenha tido a intenção de causar impacto, e de fato o fez de momento, porém, a falta de desenvolvimento do assunto e o modo corriqueiro que foi utilizado para dar fim à longa trajetória do enredo, foram completamente frustrantes.
Mas te digo, meu amado leitor, alguns desfechos da vida realmente não fazem sentido algum. Quantas e quantas vezes somos surpreendidos por ela e ficamos sem palavras para descrever o que se passa ou passou? Escritores também ficam sem palavras e talvez seja uma pretensão deles. Por isso, cabe a você reescrevê-las com as suas. Pode ser que você as encontre com facilidade diferente do Henrique, pode ser que você não as conheça por nunca ter refletido acerca de tal acontecimento, ou talvez você se identifique com o autor na forma de contar o fato.
Você é livre. Tem o direito de escolher gostar, não gostar, e gostar e não gostar. Mas, ao ler O próximo da fila, você nunca mais irá a uma rede fastfood sem observar cada pessoa, cada instrumento de trabalho e sem se perguntar “qual a história daquela pessoa cujo nome está no crachá?”. Muitos se desesperam ao notar que serão os próximos da fila, mas, quem sabe, você fique entusiasmado por saber que poderá ver mais de perto quem chama o próximo e tudo aquilo que há atrás dele.
Por Emma Alfie.
Oi Emma!
ResponderExcluirGostei demais da sua resenha, provavelmente foi uma das que eu mais gostei! Enfim, gostei bastante da sua reflexão sobre o final do livro e admito que concordo bastante!
Mary-Louise P.