sexta-feira, 11 de maio de 2018

Envolvimento.

Eu esperei a semana toda por aquele momento, o momento em que eu poderia finalmente perguntar para o meu autor favorito o que raios ele estava pensando ao terminar o livro daquele jeito. Eu me recuso a acreditar que ele matou a possibilidade do meu casal acontecer. Fiquei o livro inteiro torcendo pelos dois e ele simplesmente me decepcionou.

Perturbei tanto meu professor de literatura do ensino médio que ele finalmente conseguiu entrar em contato com ele para poder dar uma palestra para minha turma, mesmo que menos da metade tenha realmente lido o livro que o professor passou em aula – e que eu já tinha previamente lido, antes mesmo de ser uma tarefa escolar.

E finalmente chegou o dia, o dia em que eu descobriria porque alguém teve a genial ideia de matar um dos personagens principais de uma história que poderia terminar de forma bem clichê, que eu nem me importaria. Eu só queria ver o casal, pelo qual eu nutri um certo carinho, ser feliz no final das contas. 

Eu levei o livro para receber meu autógrafo, embora não estivesse satisfeita com o desfecho. Me sentei na primeira cadeira da fileira do meio, em uma posição estratégica para ser facilmente notada pelo destruidor das minhas expectativas adolescentes. Coloquei o livro posicionado perfeitamente, cruzei as pernas e entrelacei os braços como forma de demonstrar o nível do meu julgamento diante de tal situação.

- Alunos, recebam o meu colega Samuel Vidal. – O professor disse após entrar na sala e fazer um breve suspense antes de anunciar o convidado.

Todos bateram palmas e eu permaneci imóvel, concentrada e determinada. Ele fez uma breve apresentação de si mesmo para todos e após um longo período de narcisismo, deu abertura para perguntas sobre o livro em questão. As perguntas seguiram a ordem de acontecimentos do livro, até que enfim chegamos ao ponto em que eu queria.

- Sua vez, menina de casaco vermelho. – Ele me apontou.

- Bom, eu li essa história antes mesmo do meu professor passar este livro, e desde então eu não consigo entender porquê diabos você estragou tudo. – Todos me olhavam chocados e o professor pularia em meu pescoço se pudesse. – Matar um personagem principal é o cúmulo, é coisa de Nicholas Sparks e John Green, você não!

- Eu precisava fazer isso, era o planejado desde o começo. – Ele me respondeu serenamente como se já tivesse ouvido esse mesmo tipo de questionamento antes. – A minha personagem já estava doente, embora não soubesse, e aquele romance a fez feliz pelo tempo em que viveu.

- Por que não deixou claro que algo desse tipo poderia acontecer? Evitaria sofrimento, choque, angústia no leitor.

- Porque essa é a graça, meus livros precisam fazer sofrer, chocar e criar essa angústia, é para isso que eu escrevo e fico feliz de ter te tocado de tal forma.

Ele me respondeu e procurou por mais questionamentos na sala. No final da palestra eu fui até a mesa pedir o autógrafo, assim como todos que compraram o livro e ele sorriu quando me viu. Saí da sala sem olhar o que ele havia escrito e quando já estava no fim do corredor abri o livro.

“Obrigada por se envolver de corpo e alma na minha obra, você fez essa palestra ser uma grande experiência para mim como autor. Saiba que mesmo Josué tendo morrido, ele deixou um pedaço de si com Amália, um fruto do amor deles. Beijos, espero que goste desse epílogo inédito, só seu. Samuel Vidal.”

Por Dandara Davis.

5 comentários:

  1. Ah, como eu queria que um Nicolas Sparks, um John Green me escrevessem uma mensagem assim!! hahahah Como a gente sofre com esses livros!
    Gostei bastante da crônica, leve e de fácil identificação :)

    Mary-Louise P.

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  2. Isso é verídico? Porque se for, QUE LEGAL! Eu queria que meu autor favorito escrevesse algo assim só para mim...
    Eu adorei a forma que você descreveu sem travar o enredo, não tornou algo cansativo, sabe?
    O livro pode não ter tido o final que você gostaria, mas o SEU final foi feliz :)

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  3. Que narrativa SENSACIONAL! essa história me prendeu de uma maneira... não ficou nada cansativo, nada chato, nada clichê! adorei o final! parabéns pela crônica e pelo epílogo inédito hahahahah

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  4. Gostei muito da crônica e da forma como você criou a história, utilizando personagens que podemos claramente associar a pessoas de nossa convivência. Gostei bastante também da abordagem da "indignação" da menina com o final do livro, o que fugiu do senso comum. Queria também falar sobre a gramática, nenhum erro. Parabéns Dandara, mandou bem!

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  5. Crônica bem próxima da realidade. Quantas vezes os nossos autores favoritos não fizeram um final que não nos agradou? Parabéns! Leitura leve e boa escrita! Adorei :)

    Mis Understood.

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