Não sei se todos já tiveram o privilégio de assistir o sol se pondo e a lua surgindo da
Orla do Gragoatá- caso não, façam esse favor a vocês mesmos. Simplesmente sentar na
grama e observar a paisagem, e ocasionalmente ser atacado por formigas, já é algo
encantador. Olhar a imensidão da Baía de Guanabara, escutar o barulho das ondas que
me acalmam e o vento que traz uma brisa fresca. Mas ver essa troca da tarde para a
noite, o sol cedendo seu lugar para a lua, tem algo de especial.
Em minha última ida à Orla ao entardecer, observei os aviões que saíam do aeroporto,
um em seguida ao outro. Quantos sonhos esses aviões estão carregando? Quantos
desejos, amores e expectativas estão sendo levados? A filha de uma mãe poderia estar
naquele avião indo para outro estado para estudar. Um jovem poderia estar se mudando
porque conseguiu o emprego que tanto queria. Um casal de apaixonados poderia estar
indo comemorar o dia dos namorados em algum ponto turístico. Mas e os sonhos que
não estão sendo levados? E as vontades que ficaram? Quem lembrará e torcerá por
esses? Pela menina que não pôde ir para a faculdade porque a família não tinha
condições de mantê-la longe. O jovem que não foi promovido porque “não tem as
características correspondentes ao cargo”. Talvez a lua olhe para eles, para nós. Mas não
cabe a um satélite natural mudar as desigualdades e injustiças do mundo.
Mas ainda há beleza em olhar para essa vista. Talvez um dia eu olhe para essa vista sem
me preocupar com as questões que nos cercam, mas agora não. Enquanto isso, sigo
admirando essa paisagem e pensando no que um certo volta-redondense e Milton
Nascimento escreveram: a lua é uma garrafa, olhando para nós.
- Sargento Santiago
Ótimo texto, às vezes também me pergunto sobre o que se passa na mente de quem está transitando próximo à Baía de Guanabara, principalmente quando vejo os carros passando na Ponte Rio-Niterói.
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