Águas vorazes que devoram as almas decadentes.
Os peixes e os corpos em um mórbido encontro de fúria e desejo, desejo de
morte, desejo de ódio. Delicado horror macabro. O que se encontra entre uma ponte e a
câmera de um telefone.
Os carros brilham, luminosos veículos em uma baía amaldiçoada. Beleza e
terror, águas pútridas, a cidade em encontro com a maré. O lixo de uma melancolia
fúnebre. Esgoto estrutural, onde estão os corpos em meio a sujeira e aos peixes?
Um avião que passa, um sonho. As sirenas cantam, as sirenes cantam, a matéria
voa e a matéria cai. Ofélia entra em um rio com suas flores, na Dinamarca, em um reino
distante, as águas clamam a juventude.
Onde estão os vermes em meio a fluidez da decomposição aquática? Suas
ambições desprezadas no fundo de um Rio de Janeiro atordoado. A cidade sorri, todos
se esquecem, e a humanidade permanece agonizada.
Temerosas mãos, temerosas pernas, um mausoléu em meio às águas.
Sepulcral eternização.
Gigantesca lápide que transpassa os séculos. Origem, invasão, colonização,
império, ditadura, onde jaze os trabalhadores dessa república?
Visão hedionda, visão monumental. Os jovens passam e choram e riem e se
sentam diante da extensão de um futuro indefinido. Há música e há a vitalidade da
ignorância.
Mergulho fatal, um rapaz adentra as águas entorpecido. Há o álcool e há a dor.
Alucinação obtusa, onde está o sangue? Decisão de partir, não há retorno entre a ponte e
a água. Baía de desespero, baía de angústia.
A sensibilidade de um pecado, consome e corrói as estruturas da ponte Rio-
Niterói.
Gostei do texto pois há um problematização da paisagem e daquilo que a cerca.
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