Hoje, minha paisagem diária é o monumento que em meus desenhos mais desleixados, ocupava todo espaço em branco do meu material escolar. O homem que agora vejo no topo da colina, me acolheu de braços abertos, quase como se soubesse da minha necessidade de abraçar as magoas que guardo por ter deixado tanto para trás.
Meu olhar, agora não mais turista, ganhou um novo sentido. Tornou-se impossível encarar a ponte Rio-Niteroi como um simples pedaço de estrada carregando rodas e rotas. Agora vejo a ponte transportar as histórias que ainda não tive tempo de escrever.
Olho pro trânsito e vejo carros e cargos, recém-contratados, atravessando a ponte com o som no máximo, preenchendo aquele automóvel com uma música vazia mas perfeitamente adequada para ser a trilha sonora daquele momento de euforia fugaz. Euforia daquele que dirige ansioso pra chegar na casa da sua avó para contar a toda família sobre o novo emprego, no almoço de domingo.
No tumulto, há carros lotados de amor e desamor. Um carro de 5 lugares ocupado por uma família de 6, que foi pega de surpresa com a chegada do novo integrante. No outro, um casal apaixonado ansioso pra ter o seu primeiro encontro enquanto cantam "Friday I'm In Love" , traçando planos clichês pro seu futuro e escolhendo o nome de seus futuros filhos. Naquele carro prata da lataria amassada, um rapaz frustrado pois sabe que aquele atraso resultará na sua demissão do emprego de anos... atraso esse causado pelo engarrafamento da via... engarrafamento esse que só aconteceu porque justamente naquele dia, o garoto que já reprovou 3 vezes no teste da autoescola marcou sua prova. Garoto aquele que reprovou pela quarta vez.
Naquele Jeep vermelho, empunhando o volante com o coração palpitando em alegria, um pai levando sua filha ao Maracanã pela primeira vez, me fazendo implorar, por um breve momento, que aquela menininha fosse eu.
Mas mais importante que o que vejo na paisagem, é tudo aquilo que não vejo. São os quase 3 mil quilômetros que me separam do cuidado do meu pai, do jantar á mesa com a minha mãe e daquela live do Casemiro que não tem a mesma graça sem os comentários dos meus irmãos. Essa maldita distância que é a proximidade que eu sempre sonhei. Distancia curta o suficiente pra me fazer acreditar na possibilidade de um dia ser eu a pessoa na ponte ouvindo músicas vazias pra comemorar meu novo emprego... emprego esse que me permitirá um dia ser eu, naquela ponte, justamente naquele trânsito, com o coração palpitando em alegria, dirigindo meu Jeep vermelho, levando meu pai ao Maracanã, pela primeira vez.
-Meu Primeiro Fake
Oi, Meu Primeiro fake! Eu sei que foi proposital, mas acho que poderia ter menos repetições de palavras e estruturais frasais. Adorei sua crônica e espero que, um dia, você e seu pai estejam dentro do Maracanã vendo um dos clássicos cariocas.
ResponderExcluirAo contrário do que Camélia disse, gostei das repetições em seu texto. Deram um ar mais emotivo e pessoal.
ResponderExcluirQue um dia todos esses seus desejos se realizem, Meu Primeiro Fake.
Texto com detalhes, sem ser cansativo. Trouxe um certo dinamismo ao citar o cotidiano de outras pessoas, sem perder o foco central.
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