Encarando a triste Baía da Guanabara, algo me chama mais a atenção que a água rolada e o
céu de aquarela – o movimento. Os carros na ponte e sua correria, as barcas com seu lento flutuar,
os aviões e seu vertiginoso planeio, as pessoas vagando de todas as maneiras pela dita cidade
maravilhosa. Tudo se move.
Mais que isso, a vida, por si só, se move. E é completamente louco pensar que por trás de
toda essa paisagem há uma infinidade de vidas e histórias, não é? Daí, fica totalmente
compreensível o sentimento do poeta ao chamar a baía de triste. Ao seu redor e sob suas águas estão
os desiludidos de amor, os frustrados e os infelizes. Os adoentados, condenados à morte. Está ali, se
deslocando para o martírio, quem todos os dias é submetido à exploração para que, com muito
esforço, se ponha o pão na mesa.
Ao mesmo tempo, nesse mesmo cenário, há quem está realizando a viagem dos sonhos,
quem está prestes a reencontrar alguém amado, quem está iniciando uma fase desejada da vida. Na
ponte ou de barca, diversos estudantes e professores indo ou voltando para a Federal Fluminense.
Tudo isso no mesmo panorama.
A baía, triste, reflete o desengano do poeta. A baía, feliz, reflete a euforia dos felizes. A Baía
de Guanabara, em seu espelho d’água, reflete todas as emoções que um ser humano pode ter. Ela
sabe pôr no mesmo quadro a riqueza e a carência da cidade mais famosa do país. Talvez agora eu
possa dizer o que mais me chama a atenção na baía: seu poder sintetizador. Síntese de gente. Síntese
de cidade. Síntese de vida. Baía que pode ser triste, feliz, esperançosa, angustiada e até poluída, mas
sempre é da Guanabara.
Suco de Soja
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