Olhando daqui, tudo fica tão pequeno. Menor que a menor formiga que neste instante, enquanto escrevo, sobe pelo meu pulso. Essas partes de movimento, tão reduzidas pela distância - e talvez um pouquinho mais pela minha miopia - são vidas inteiras. Mundos inteiros.
Tem alguém no carro que atravessa a ponte, alguém no barco que passa pelas águas escuras, alguém no avião que decolou há cinco minutos. O Cristo. Posso não vê-los, mas os turistas estão ali. O bondinho que sobe e desce de tempos em tempos.
Reconheço que fui um pouco além e me deixei levar pelo imaginário. Caso queira, então, uma descrição mais simplista, posso apenas dizer que, hoje, temos um céu acinzentado, a grande ponte e os montes estampados ao fundo, as águas não muito claras da baía e a grama não tão verde da orla.
Paro e observo. O que mais gosto aqui são as pétalas das flores, de uma árvore cuja espécie não sei dizer, que caem nessa grama não tão verde. Isso só acontece quando o vento age como um guia. O brilho do sol, antes escondido nas nuvens, reflete cristais cristalinos sobre as águas da baía. Quando olho rapidamente, são quase como luzes natalinas. Na verdade, pode ser só impressão minha. Mas acho bonito, então quis compartilhar com você também.
Confesso, agora, que a vista não está tão linda hoje. Está cinza como o sentimento da falta, da saudade. Para alguém que nunca esteve na orla, talvez ela esteja maravilhosa. Essa é a graça da paisagem. Alguns notam somente o Cristo Redentor, outros percebem as pessoas que por ali passam. Alguns deitam e olham para o céu, outros sobem as escadas do Instituto para ver tudo de cima. Ângulos e detalhes. Diferentes detalhes para cada um de nós.
Releio este texto que agora está em suas mãos e olho para a vista. Tiro uma foto. Capture, lembre-se.
Lia Navarrette
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