segunda-feira, 18 de julho de 2016

Lemos Dante



Meu bem, 
pra começar, quero reforçar um fato que você já sabe: eu, nitidamente, não escrevo como você. Entretanto, achei que dessa forma seria mais fácil de aproximar o meu eu lírico do seu. Sendo assim, cá estou eu, me esforçando ao máximo.
Eu li seus textos. Cada um deles. Mais de uma vez. Enxerguei um Dante que eu sabia que existia, mas que você nunca mostrou pra mim. Enxerguei minha imagem refletida nos seus olhos, a qual você nunca me deixou ver.
Sua inteligência continua sendo o que mais me atrai em você, mesmo que seu sorriso seja indiscutivelmente lindo. Aquela chamada visão ampla da realidade você tem de sobra. Você me disse que o golpe ia muito além do Congresso, que estávamos cercados. Eu nunca fui muito fã de política, sempre achei muito complicado. Você me mostrou que não passava de uma armadilha, que a intenção era nos confundir. E acreditava que independente do lado que cada um escolhe defender, era possível que dois opostos encontrassem um estado de união, porque no fundo, todo mundo era meio ambidestro. 
Porém, sua personalidade vai muito além da sua consciência política. Você é bom, sem fazer esforço, sem perceber. Se preocupa com os outros quando pouco se preocuparam com você. Mas resiste. Resiste a tudo que é abstrato. Resiste a tudo que é incerto. Você tinha medo. Não sei se era de mim e essa minha tendência de me assemelhar com uma bruxa, ou se era desse seu sentimento, que você nunca conseguiu aceitar. A questão é que eu não estava preparada pra enfrentar o seu vazio. Até hoje não acredito na minha coragem de sair por aquela porta. Na minha força em encarar o telefone esperando que você ligasse, sem tomar a iniciativa de te ligar. 
Nem sei mais porque comecei a escrever isso. Talvez seja pra dizer que sinto sua falta. Da sua sinceridade combinando com a minha. Da sua sensibilidade, que eu achava tão bonitinho você tentando esconder. De como você me encarava enquanto eu prendia o cabelo. Do seu estilo, que não fazia o menor sentido. Sinto falta até da sua bagunça, que ativava a minha chatice, e contrariava o meu senso de organização, que sempre foi o princípio de nossas brigas. Só que, no final delas, sua escolha era sempre você, ao invés de nós. Não dava mais pra dividir uma vida assim. 
O fato é que agora você faz muito mais sentido pra mim. Te lendo, te conjugando, consertei o que tinha quebrado. Suas histórias continuam sendo minhas preferidas. Não seja bobo, eu ainda estou aqui, como a sua camisa que eu trouxe comigo, aguardando você vim me procurar. Mas já chega de escrever por hoje. Desligue esse laptop, e vá dormir.

por Maleficent 000
 

3 comentários:

  1. Amei como você construiu toda uma história de amor (?) com Lemos Dante. Muito interessante trazer de volta os outros textos do personagem e do que você aprendeu com ele. Ele tem a excelência, em sua capacidade de escrever tão bem, e a honra, na hora em que se preocupa com todos. Seu texto é profundo, talvez perene, ultrapassa os limites do cotidiano e potencializa os recursos do jornalismo

    ResponderExcluir
  2. Maleficent 000, você roubou minhas palavras!
    Obrigado por ter me escolhido em meio a tantos outros pseudônimos de excelência. Fico muito feliz e grato em saber que você realmente captou a essência do Dante, por ter a paciência de ler cada texto meu e ainda por cima compreender minhas reflexões.
    Seu texto ficou brilhante e com um toque do Dante. Gostei muito da construção do texto, você realmente entrou nas histórias e se apegou aos detalhes.
    Adorei a sacada do título.
    Obrigado mais uma vez pelos elogios, pela dedicação e por ter feito parte da minha história.
    Não sei se devo avaliar o texto com base nos critérios aprendidos, mas sei que com certeza ele terá um lugar especial!

    ResponderExcluir