segunda-feira, 18 de julho de 2016

Rumo ao West



A meu grande amigo Junior West dedico este texto, escrito já com a lucidez do pós-bebedeira. O bar estava lotado e eu mal conseguia reconhecê-lo após a quarta virada de copo. É que eu e meu grande amigo aqui vamos ao bar todo fim de semana. Bebemos, conversamos, e rimos pra cacete – às vezes da piada do outro, às vezes da nossa própria piada, e umas outras vezes de um ou outro bêbado que derruba um drink no chão.

Esse texto é para meu grande amigo, aquele que me faz rir até em enterro. Aquele que me dá carona em seu charango velho quando estou atrasada pro trabalho. Aquele que me manda áudios de procedência duvidosa no Whatsapp (o que quase já me custou o emprego). Aquele que, tarde da noite, me dá um toque no Skype e, juntos, tecemos maravilhas textuais. Cantamos clássicos da MPB, emendamos num U2 e, por que não, finalizamos com Madonna. Na despedida, uma jam session, você com seu violão e eu, como de costuma, com meu saxofone. A vida é repleta de oportunidades que não podem ser perdidas de maneira alguma. Conhecer Junior West é uma delas.

Lembro-me daquela vez que te vi, todo desajeitado, caminhar até a loira da padaria e recitar, de cor, Camões, às 7 da manhã, só para vê-la perguntar se o pão era em dinheiro. Lembro-me de vê-lo, todo contente, pegar em seus braços sua primeira sobrinha, só para depois descobrir que você havia errado de sala (e de bebê). Lembro-me de encontrá-lo pela primeira vez na fila da lotérica, esbravejando sobre a demora no atendimento e, acidentalmente (espero eu), pisando no meu pé machucado, com o qual dei-lhe um chute nos Países Baixos. Lembro-me de chorar ao vê-lo partir aquela cebola ao meio enquanto tentávamos cozinhar o que, na prática, era um empadão, o qual revelou-se, no final, um suco gosmento de queijo.

De você, tenho só boas memórias. Tenho a tranquilidade de quem tem um amigo que está sempre por perto. Tenho o sorriso no rosto de quem tem um estoque infindável de piadas sempre a postos. Tenho os punhos cerrados toda vez que você solta um de seus famosos trocadalhos do carilho (Wyllys Wonka, sério?), mas isso é outra história.

Como diria Milton Nascimento, “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves.”. Se alguém questionasse a Simone do passado acerca de seu modelo de melhor amigo, eu nunca imaginaria alguém como você. 1,75, meia-idade, cabelos grisalhos, aquele estilo de garotão dos anos 80, o bom e velho charuto Jamaicano que você guarda na 4º gaveta (sim, fui eu que peguei) e, claro, aquele bom humor e a irreverência de um cara gente boa como você – e mais ninguém.

É para você, meu amigo, esse texto. E que tenhamos muitos outros anos de bar pela frente.

Assinado,


Simone do Saxofone

Um comentário:

  1. Adorei Simone! Realmente acreditei na amizade de vocês dois e pude imaginar como seria estar naqueles momentos que você descreve. Ao descrever Junior West, escolheu por ressaltar sua facilidade com a comédia. Talvez seja essa sua parte de "excelência", que diziam os gregos (acho que eram os gregos). Seu texto é profundo, perene (poderia ser lido em 2000 sem nenhum problema), ultrapassa os limites do cotidiano e rompe com o lead.

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