Todo dia acordo cedo e penso na minha casa. Não nesta que acordo de manhã e durmo depois que chego do trabalho, mas a minha casa de verdade. Na minha casa eu não sinto saudades de nada, não me falta conforto, não me falta amor. Nada falta na minha casa.
A muito deixei minha casa, deixei tudo que tinha que me fazia sentir seguro pra tentar encontrar meu lugar e hoje percebo que, por essa decisão “impensada”, hoje, o que mais me maltrata é esse sentimento hediondo: Saudade.
Hoje acordo cedo, me apronto para sair pouco depois do sol sair, tomo um café na padaria, e vou para mais um dia de trabalho. Não que meu trabalho seja ruim, na verdade pode ser o sonho de alguém, mas certamente não é o meu. Tenho boa formação acadêmica, moro em um bom apartamento em um bairro muito bom - dito nobre – e uma vizinhança tranquila. Então por que raios eu não me sinto bem? Simples, estou vivendo uma vida que eu achei que fosse minha, mas nunca foi.
Sempre achei meus pais muito pouco ativos em mudar de suas vidas. Eles vivem até hoje uma boa casa no interior de Minas Gerais, onde eu nasci e fui criado, e quase nunca tenho tempo para visita-los, tudo por causa da vida “impensada” que escolhi. Sempre achei que minha vida não era aquilo: Interior, acordar com o galo, tomar café fresquinho com meus irmãos e meus pais ali. Tudo era muito normal.
Meu pai me dizia que tinha encontrado seu lugar no mundo quando encontrou minha mãe, uma sertaneja, com um sotaque bem puxado, “bruta como uma mula e com o sorriso mais doce que mel”. Palavras do meu pai. E eu sempre pensava que ali não era meu lugar, era o do meu pai. Mas por que meu lugar não seria ao lado do meu pai? Simples, eu não conhecia outra vida.
Um dia disse aos meus familiares que viria para o Rio.“Passei para uma faculdade. Vou fazer Direito, “mainha”!”, eu disse.
Foi uma alegria que só. Teve festa, sempre muito bem servida e animada, e senti muito amor. “Meu “fio” vai virar “dotô”, minha mãe dizia. Todos me apoiaram pois acreditaram no meu sonho. Eu finalmente ia achar o meu lugar no mundo. Mas as vezes a gente só percebe o quanto é feliz quando você se separa do que tem.
Esse pode parecer um texto de um riquinho mimado, mas não e isso. Não me entendam mal. Inclusive na fazenda de meus pais tinha muito trabalho, e por ser filho e ainda jovem, muito pouco me era dado do trabalho administrativo, era mais trabalho bruto mesmo. Meu pai não tinha muitos empregados e sempre dizia que: “O trabalho bruto vai te fazer valorizar quem o fizer pra você um dia.”
Hoje sou “doto” tenho um bom emprego, mas antes mesmo disso tudo, já havia achado meu lugar no mundo eu só não sabia ainda.
Sinto saudades de casa. Sinto saudades da vida que levava. Sinto saudades de quem eu era. Sinto saudades de mim.
- Alô, mãe?
- “Fio”, é você?
- Sou eu mãe. Eu “tô” voltando....Leo Valdez
Que nostálgico, Leo! No seu texto, pude perceber a quebra das correntes do lead, perenidade e visão ampla da realidade. Além disso, como aspecto psicológico, creio que há uma sensação nostálgica em você, que te remete as raízes, a pensar na sua família e reavaliar seu presente...
ResponderExcluirQue lindo seu texto! Principalmente o final, bem emocionante. Acho que é bem profundo, perene, ultrapassa os limites do cotidiano e há um rompimento do lead. Como Lia, também observei um aspecto psicológico - que pode muito bem também ser antropológico - nessa solidão do "homem da cidade", cheio de pessoas a sua volta, mas totalmente isolado.
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