segunda-feira, 4 de julho de 2016

Personificando devaneios

Atuar... Quando o auge de sua concentração é testada. Quando exprimir emoções não é mais natural. Quando se experimenta um outro universo. 

O ato de personificar um alguém desconhecido; de trazer a vida quem sequer existe. Se tornar um corpo frio, à espera de um hóspede. 
Um personagem não passa de um contador de histórias. Uma mãe que põe seu filho pra dormir com uma canção de ninar. Me sinto embalada num sono profundo, no qual já não tenho mais controle sobre meus sentidos.
Certo dia, adentrei na minha mente vazia, que se materializa em forma de quarto branco, cenário de todos os meus devaneios. Permaneci sentada naquele chão úmido, inerte por tanta falta de cor, aguardando meu primeiro passageiro.
Mas Meduza não me falou apenas o indispensável. Com seu ar superior, seu cigarro entre os dedos e seu lindo batom vermelho, me disse que estava cheia de pessoas medíocres, incompletas, imparciais. “De objetivo já basta o jornal na minha TV chuviscada. De banal, minha querida, já basta o amor. Que se danem todos! Vou viver a minha vida antes que a tirem de mim.”
Alguém desligue o despertador! Ei, onde está Meduza? Ai, estou me intoxicando com tanta fumaça. Oh não, Meduza, volte! Maldito câncer.
Sozinha de novo, em meio a esse silêncio ensurdecedor. Céus, por que alguém não colore isso aqui? Espere, vem vindo alguém… Ora, por que tão devagar? Se apresse, estou curiosa! 
Bem rasgadas estavam suas roupas, talvez bem sujas. Mas sua expressão era vazia. Entendi de imediato: ela estava cansada. Tão cansada que sequer me disse seu nome.
Seus olhos sem vida, sua pele sem cor.
“Moça, que graça tem viver? Sorte dos inanimados que não têm esse dever.
Por que necessito de tanto? Sinto dor, sinto fome, entro em pranto. ‘Amai seu próximo como a si mesmo’; isso é bobagem, seu padre. Não consigo nem simpatizar comigo mesma. Meu reflexo me dá ânsia. Não fui feita pra viver, meu caro Deus; podia ter dado a chance pra outro.”
E já tão cansada de esperar que a vida lhe levasse, reuniu suas forças e se foi... Surtou-se, cansou-se, suicidou-se. E então, acordou-me.
De volta ao espaço em branco. Mas o mundo real me chama, tenho que ir... Finalizo ao concluir que, o teatro é uma arte sem cor, à espera de um bom pintor. quer dizer, ator. Interpretar é mágico caríssimos; todavia, lhes adivirto da existência de efeitos colaterais. A realidade pode não fazer mais sentido.

por Maleficent000

Um comentário:

  1. Achei bem interessante o tema teatral. Seu texto é bem poético e subjetivo, além disso está bem escrito. Creio que você teve uma visão ampla da realidade, foi além dos limites do cotidiano, escreveu de maneira profunda e perene e rompeu com as barreiras do lead :)

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