terça-feira, 5 de julho de 2016

Passados


Passei o final de semana gripada. Desde que entrei na faculdade me sinto doente, meu corpo sempre dói e as cartelas de dipirona acabam com uma rapidez inimaginável. A felicidade que senti quando soube que passei foi quase todasubstituída pelos problemas que encontro para frequenta-la. A necessidade, agora, fala mais alto. Necessidade de buscar um futuro melhor, necessidade de ter uma profissão, necessidade de ser alguém.

Voltando ao tedioso final de semana e a gripe intensa que me assombrava, comecei a pensar em vários momentos da minha vida. Deitada em minha cama, coberta até o pescoço e com um frio que não cabia em mim, lembrei da minha infância. Não gosto de criança, nem perto e nem longe, mas eu gosto da minha infância e de como eu era uma criança mimada e querida por todos, os holofotes eram voltados só para mim. Eu era, com certeza, muito “incutida”.

Depois de todos esses momentos doces e alegres veio a pior fase da minha vida: Pré-adolescência. Pra mim a adolescência foi muito traumática. Sabe aquela garota isolada, que usava roupas largas, tinha a cara cheia de espinhas e o cabelo desgrenhado? Prazer, Mônica. Eu não tinha amigos, colegas, conhecidos e nem mesmo um inimigo. A única coisa que me deixava orgulhosa nesse momento eram as minhas nota na escola. Sempre 10. Se eu pudesse anexar uma foto dessa época vocês não me reconheceriam e entenderiam o quanto esse momento foi traumático.

Quando entrei no ensino médio decidi que queria mudar minha aparência. As espinhas saíram e roupas mais justam foram adicionadas à minha vida. Entretanto, não mudou muita coisa, eu fiz amigos nessa época que vou levar para a vida toda, mas eu ainda era a garota isolada que tirava sempre 10. Comecei a acreditar que o problema era comigo, eu era a pessoa intragável e insossa que ninguém queria por perto. Essa parte não foi legal e eu prefiro pular.

Chegamos a tão esperada faculdade. Lugar onde tudo é impossível, principalmente tirar uma nota horrível que me garantiu horas de sermão. Depois de superar as paranoias que me assombravam, me considero uma pessoa ‘normal’, que faz coisas ‘normais’ e leva uma vida ‘normal’. E acho que ‘normal’ pode ser por pacata. A crônica dessa semana não tinha tema e depois de passar o final de semana deitada lembrando da minha não-tão-longa vida decidi que seria um bom tema. 

Mônica do Legião

3 comentários:

  1. Olá, Mônica. Vejo que você tem um problema de aceitação contigo mesma, mas acredito também que isso ocorra com muitas pessoas e por isso que muitas pessoas se "encontrarão" nessa crônica. Você usa coisas que nos remetem ao nosso dia a dia, como o uso de dipirona, por exemplo, isso é um operador de intimidade que faz você se aproximar do leitor. Além disso, seu texto é perene, rompe as correntes do lead. Parabéns!

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  2. Concordo com Chris que a falta de auto-estima e a procura pela sua identidade é algo bem comum nessa fase, sendo assim realmente fácil de se identificar com alguns de seus relatos. Me senti bem próxima, como se você estivesse se abrindo comigo. O texto é perene, profundo e ultrapassa as barreiras do cotidiano.

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  3. Olá querida Mônica!
    Quando li seu texto pensei: "Não é possível, ela está falando de mim?". Talvez tenha sido por isso que seu texto me tocou tanto, não vou mentir: A D O R E I!
    Sobre as pontas, seu texto é totalmente perene e rompeu as amarras do lead. AMEI!
    Beijos perfumados da sua querida Maria Antonieta!

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