sexta-feira, 10 de junho de 2022

 Ao Cálice do Amor



Te escrevo hoje, cálice, pois depois do brinde, você quebrou. E levou consigo toda a essência de
meu amor. Tudo quebrou. Tudo se esvaiu. Você tornou efêmero tudo o que já fora solidez em
m'alma. Não há mais luz ou um simples trovejar, mas apenas negritude, escuridão, breu.

Você pode estar se perguntando, cálice, o motivo de te escrever esta carta. Te digo que é
apenas um simples e singelo desabafo de uma pessoa desesperada por amor. O amor que você
derramou, desperdiçou. Hoje decido fluir um pouco de mim por meio de letras conglomeradas
formando palavras vazias, versos sem calor. Alma calada, coração vazio. Poesia sem luz.

Sei que você, assim como eu, foi moldado pelo fogo. Sua plena forma foi polida à altas
temperaturas... Me identifico com você, cálice...

Mas, eu acho que você ainda não entendeu tamanha frustração minha por sua queda, afinal,
todos nós caímos e quebramos as vezes, não é mesmo? Brevemente te explico...

Quando eu e ele nos olhamos pela primeira vez, não foi como os contos toxicamente
românticos que vemos, foi um encontro de ódio. Sim, é isso mesmo, não gostávamos um do
outro. Típico de um filme clichê da sessão da tarde. O tempo passou e foi moldando os nossos
sentimentos. Passei a olhar ele como melhor amigo. Mas, infelizmente, não parou por aí.

Após um pedido de namoro, tudo desabou. E o porquê desse desmoronamento? Medo. Como
pode alguém ter medo de amar? Medo de ser feliz? Não sei te responder até hoje. Aliás, me
sinto assim até hoje. É horrorizante para mim pensar em me entregar novamente para outro
alguem... Nunca mais será a mesma coisa. Não falo de corpos. Falo de almas. Não é fácil
entregar a sua alma de "mão beijada", mas é mais difícil conviver com o peso do
arrependimento.

Sim, ele. Tal arrependimento me consome, dia após dia. Por toda a minha vida. Após o "Não",
que eu mesma disse, tudo parou. O tempo congelou. Me parece que todos, inclusive ele,
avançaram e eu fiquei "estatalada" no mesmo lugar.

A taça de vinho que era para o nosso brinde, foi derrubada no chão num repentino golpe
insensível. O Amor contido naquele cálice, derramou-se por toda a infinidade.

Por sua culpa, cálice, perdi tudo o que tinha de mais verdadeiro em mim, perdi minha essência,
meu amor. O trauma veio...

Meu Bem, incidentes acontecem. E, infelizmente não foi possívelte amar-te nessa vida. Mas,
com toda força que há em meu ser, prometo amar-te em todas as outras. Saiba, minha Vida,
que a culpa não foi minha, nem muito menos sua, mas do cálice, daquele maldito cálice, que
derramou tudo de bom que havia em mim.

Com todo sentimento melodramático possível, Glória Maria.
Por Glória Maria

3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, Glória Maria! Gostei muito da forma como você personificou o cálice para arranjar um culpado para uma situação na qual não poderia existir culpa. A ideia, a construção, o desenvolvimento e a finalização do texto foram muito bons e vejo pela escolha de palavras e de figurações que sua escrita se encontra em um nível ascendente. Entretanto, nesse texto em particular senti falta de mais fluidez. Acredito que falta pouco para que você consiga se adequar ao estilo que busca para entregar tudo o que você pretende escrevendo de uma forma mais fluida.
    Mais uma vez, parabéns! Gostei muito da leitura.

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  2. Gloria, querida, puta que pariu ! Me desculpe professor se o senhor ler esse comentário, mas essa foi exatamente a frase que soltei, em voz alta, quando terminei de ler esse texto. Que escrita fenomenal, espero que um dia você se permita amar minha amiga, tenho a mais profunda certeza que você merece isso. Beijos, Manu.

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  3. Glória Maria, esse texto foi brilhante e de uma sensibilidade tremenda! Estou completamente apaixonada pela riqueza de vocabulário e pela construção da imagem do cálice quebrado. Espero que um dia você consiga se "reconstruir" e amar novamente!

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